Eram favas contadas. Após a decisão dos Jogos Olímpicos de 1928, em Amsterdã, ter colocado frente a frente Uruguai e Argentina, as duas principais escolas de futebol do momento, dois anos depois, na primeira Copa do Mundo, eram poucos que apontavam uma final distinta no lado oriental do Rio da Prata. Deu a lógica e o Mundial viveu sua primeira grande história.
Para entender o tamanho daquele jogo, é preciso ter a ideia de que os argentinos estavam sedentos de vingança. Queriam de qualquer maneira devolver a derrota por 2 a 1 de anos anos, ainda mais pela final ser decidida em terras uruguaias. Não à toa, oito navios com cerca de 3 mil torcedores embarcaram de Buenos Aires até Montevidéu, do outro lado do Rio de Prata. Eufóricos, chegavam aos gritos: “Victoria o muerte!”. Porém, foram silenciados por outros 67 mil uruguaios, que mantinham o mesmo tom “bélico” em suas músicas.
A tensão era tanta que nem a bola, objeto de desejo daquele jogo, foi consenso. Tanto que a partida começou com 15 minutos de atraso porque nenhum dos lados queria abrir mão de jogar com a sua: a argentina era mais leve; a uruguaia, mais pesada. Assim, ficou decidido que cada tempo teria uma pelota distinta, e o primeiro período seria usada a dos visitantes, que ganharam no sorteio.
Não se sabe se a bola surtiu efeito, mas após o gol do uruguaio Dorado, aos 12 min, a Argentina conseguiu virar o marcador com Paucelle, aos 20 min, e Stábile, aos 38 min, justamente quando atuava com sua pelota.
Porém, na volta do intervalo, Scarone, craque da Celeste Olímpica, voltou a ser decisivo ao rolar a já agora “bola uruguaia” para Cea empatar aos 12 min. Aos 23 min, Iriarte colocou a pelota no ângulo de Botasso. Porém, a certeza do caneco só veio aos 44 min, quando Manco Castro subiu nas costas de Della Torre e cabeceou para o barbante.
O Uruguai, que era apontado como uma equipe forte, mas menos habilidosa que a Argentina, provava sua força e conquistava seu terceiro título de caráter mundial consecutivo. Os platinos eram indiscutivelmente os melhores do planeta. O mundo jamais foi o mesmo depois daquele dia.