Passado e presente do Cruzeiro reunidos. Nesta quarta-feira, Mano Menezes e Enderson Moreira estiveram reunidos para um bate-papo sobre futebol luso-brasileiro, no canal do YouTube da FutClass Academia de Futebol. Outro participante do debate era Carlos Carvalhal, técnico do Rio Ave, de Portugal. Dentre os assuntos debatidos, os comandantes repercutiram o apertado calendário do futebol brasileiro, algo que sempre foi criticado por Mano Menezes quando estava na Raposa.
"Aqui temos alguns outros agravantes. Quando iniciamos a temporada, muitas vezes não temos todos os jogadores que vão atuar por toda a temporada. As equipes ainda estão em períido de contratração. Às vezes fizemos uma pré-temporada com o grupo e quando começamos a jogar, um pouquinho mais adiante, temos cinco, seis jogadores novos, que serão integrados. Não é tão linear como gostaríamos, não é tão organizado como gostaríamos que fosse. Mas não tenha dúvida de que mais clara a ideia do que queremos fazer, de como vamos jogar, mais rápido chegarmoes a essa questão de desenvolvimento técnico", disse o ex-técnico celeste.
Mano Menezes também fez também uma observação sobre a falta de paciência com os técnicos em função dos resultados. Na avaliação do comandante, o período de tolerância com um trabalho no país é muito curta, o que dificulta também o trabalho dos treinadores.
"Enderson sabe que o ano que vem, quando iniciar a temporada, esses problemas que estamos falando aqui vão estar lá. Se eu iniciar a temporada do ano que vem em uma outra equipe, esses problemas também estarão lá. Vamos ter que solucionar. Ao mesmo tempo que vamos tentar convencer as pessoas que precisamos ter um calendário mais inteligente, equilibrado. Os grandes problemas que temos é que a paciência, a tolerância com o rendimento de uma equipe no Brasil é muito curta, principalmente com os resultados. E na medida que demoramos um pouco para avançar, os trabalhos são interrompidos e isso cria uma bola de neve que faz como que na minha opinião estejamos patinando há muito tempo nas mesmas questões", analisou Mano.
Enderson, por sua vez, apresentou a Carvalhal a realidade do futebol brasileiro, com muitos jogos sendo disputados em uma sequência curta fora de casa, dificultando os treinamentos e a recuperação dos jogadores.
"É a nossa tentativa sempre, de poder criar essas ideias, o mais rapidamente possível, a metodologia sistêmica, é de introduzir esses trabalhos de uma forma dinâmica, sempre priorizando uma formação global. Eu vou te dar um exemplo. Você (Carlos Carvalhal) já fez, em 27 dias, sete jogos fora de casa em quatro competições diferentes? A gente tem um país de dimensões continentais. Fizemos jogos no Utuguai, no nordeste, na região sudeste. Isso é apenas um exemplo do que passamos. Não é que achamos apenas que temos uma quantidade enorme de jogos, mas os nossos deslocamentos também são enormes", pontuou o novo técnico celeste.
Outro ponto criticado por Mano Menezes em relação ao pavio curto do futebol brasileiro em relação aos técnicos é a necessidade de rodar o elenco, algo que muitas vezes não é visto com bons olhos. A qualidade dos atletas nessa rodagem também influencia nos resultados.
"Na medida em que essa rotatividade mantém resultados, está tudo bem. Mas na medida que você começa a rodar a equipe, e às vezes tem que colocar um grande número de jogadores no jogo seguinte, às vezes a qualidade do jogo cai e o resultado não vem. Porque no Brasil, o nível de paridade das equipes, principalmente no torneio nacional, é muito grande. Você não consegue fazer resultados contra equipes fortes com uma equipe muito modificada e isso traz os prejuízos naturais", finalizou Mano Menezes.
O ex-técnico do Cruzeiro sempre priorizou no time a rotatividade do elenco, tanto que alternava peças na Copa do Brasil, Libertadores e Brasileiro. No ano passado, a dinâmica não se acertou e ele foi demitido do Cruzeiro após uma sequência de uma vitórias em 18 jogos.