"Acalma, coração. Doendo demais.” A postagem de Sandra Maciel, no início da tarde desta quarta-feira (5), foi o prenúncio do que estaria por acontecer. Talvez a frase passasse despercebida pela rede social, não fosse a autora do desabafo a esposa do goleiro Fábio.
Enquanto a companheira de mais de duas décadas do jogador vivia sua angústia pessoal em casa, o marido se reunia com os donos do Cruzeiro em busca de um acordo para sua permanência na Toca II. A primeira tentativa, na terça-feira (4), frustrara-se. Na segunda, as partes chegaram a um desfecho. Para a família do atleta e a maior parte da China Azul, um final infeliz. A partir deste 5 de janeiro de 2022, termina a passagem histórica de Fábio defendendo a meta da Raposa.
Na virada do ano, o jogador havia deixado uma mensagem de otimismo e esperança à torcida, envolta no mais profundo sofrimento desde o rebaixamento à Série B, em dezembro de 2019. “Um 2022 abençoado é o que desejo à Nação Azul. Que este novo ano traga alegria, renove a confiança, firme o respeito, aumente a esperança. Que a fé e a saúde não faltem em nossas vidas! Que nosso Cruzeiro esteja de volta à sua verdadeira essência. Que 2022 seja mais leve, que tenhamos dias de paz. Obrigado por tudo que caminhamos juntos até aqui.”, escreveu o goleiro em seu perfil na rede social.
LEIA A CARTA DE DESPEDIDA DE FÁBIO
LEIA A CARTA DO CRUZEIRO EM HOMENAGEM A FÁBIO
Com a venda do Cruzeiro para o grupo de Ronaldo Nazário, tudo que havia sido combinado deixou de existir a partir do último 18 de dezembro, quando a negociação de 90% das ações do clube foi oficializada. Entre os acordos prévios, estava a renovação de contrato de Fábio até dezembro de 2022. A chegada do Fenômeno e sua turma, porém, fez com que a rota da Raposa mudasse diametralmente. De quebra, o destino do jogador.
A mudança de paradigma imposta pela nova gestão, passa pela readequação imediata de despesas. Com isso, o rastro da austeridade financeira alardeada pelo grupo não poupou sequer o jogador que mais vestiu a camisa estrelada, em 101 anos de história. Depois de 976 confrontos defendendo a meta da Raposa nos mais diversos gramados no Brasil e fora dele, pode-se dizer que o goleiro sofreu nesta tarde sua mais dura derrota.
Mesmo sendo credor do clube, tendo concordado com a repactuação salarial proposta logo após a queda à Segunda Divisão, e recusado ofertas para seguir na elite do futebol nacional, Fábio optou por seguir na Toca. Neste contexto, a permanência do jogador, mesmo num ambiente completamente adverso e árido, deu-se pela ligação sentimental, simbólica e histórica com o clube. Gostem ou não dele, com o passar dos anos, Fábio e Cruzeiro acabaram se tornando sinônimos.
Nesta tarde, o eterno camisa 1 estrelado, acostumado a enfrentar os mais letais atacantes, deparou-se com a frieza dos números. Talvez temperatura ainda mais gélida do que a demonstrada pelo fenomenal ex-goleador Ronaldo durante a vitoriosa carreira, quando se via frente a frente com qualquer goleiro do mundo e precisava vencê-lo.