A situação financeira do Cruzeiro é conhecida. O clube atravessa a mais grave crise de sua história, mas a nova gestão confia na viablidade do clube e já vem apontando projeções de melhoria com ações que já foram introduzidas pelo conselho gestor e que deverão ser intensificadas com ideias que estão sendo trabalhadas pelo corpo diretivo. Matheus Rocha, diretor de controladoria e finanças do Cruzeiro, destrinchou em live da BDO, realizada na última quinta-feira a situação que o clube atravessa, salientando que o clube vem se esforçando para cumprir com as obrigações imediatas e pedindo paciência, principalmente a ex-funcionários demitidos. Uma recente estimativa mostrou que o clube possui hoje mais de 100 ações trabalhistas que foram impetradas por antigos colaboradores. 

"Estamos basicamente vendendo o almoço para comprar a janta", disse o dirigente celeste, que explanou a preocupação do clube com o aumento das dívidas trabalhistas geradas pelo alto volume de demissões que foram realizadas nos últimos meses. 

"A dívida fiscal é a maior do Cruzeiro. Temos débitos na Fifa e trabalhistas, mas as dívidas fiscais e sociais reduziram. Mas, em contrapartida, as dívidas trabalhistas aumentaram porque mandamos tanta gente embora nesses últimos meses e as rescisões ainda estão sendo discutidas. As obrigações trabalhistas aumentaram e a gente quer pagar todo mundo. As pessoas só precisam entender um pouco a situação que pegamos hoje", explicou Matheus Rocha. 

O Cruzeiro realizou um corte substancial com funcionários e também no grupo de atletas com as medidas propostas pelo conselho gestor. Mais recentemente, a folha salarial do elenco foi reduzida com as saídas dos medalhões Edílson e Robinho que, em condições normais, geravam ao Cruzeiro quase R$ 1 milhão em vencimentos. 

"O que acontece, o conselho gestor já reduziu bastante o custo. nós pretendemos reduzir mais. Por exemplo, atletas que tinham altos salários, como Robinho e Edílson, foram desligados recentemente e a gente está trazendo atletas mais baratos que vão render suficientemente para deixarmos a Série B e subirmos novamente à Série A", pontua o executivo sobre a política de contratações que fizeram a folha do Cruzeiro chegar ao patamar de R$ 3 milhões. 

Recentemente, o clube divulgou o balanço de 2019 com déficit de R$ 394 milhões. A dívida total chegou a R$ 803 milhões. De 2018 a 2019, o clube mineiro aumentou o déficit que possui em R$ 300 milhões. 

FORNECEDORES E AGENTES

O diretor também falou sobre os agentes e destacou na entrevista que eles fazem parte do mundo da bola. E prometeu que todos serão pagos, mas com débitos que deverão ser quitados no próximo ano, quando o clube projeta uma arrecadação maior com um possível retorno à Série A. Na mesma apresentação, relacionada ao dia 31/05, há também a redução dos custos com fornecedores. Segundo balanço de 2019, o gasto do clube com intermediários superou os R$ 27 milhões. 

"Reduzimos um pouco os valores de fornecedores em comparação com 31 de dezembro e temos ainda muito agentes, essa semana eu conversei com alguns, eles entenderam e nós falamos que a ideia é a gente jogar para o ano que vem, onde teremos uma receita maior, fazer uma composição com eles, porque entendemos que os agentes fazem parte do ecossistema do futebol. Tem gente que é um pouco radical nesse sentido, mas nós queremos pagar e vamos pagar todos", ressaltou o diretor celeste. 

A DÍVIDA NA FIFA

O Cruzeiro iniciou nesta sexta-feira a operação Fifa, que abriu à torcida a possibilidade de doações para o pagamento das dívidas do clube. Matheus Rocha admitiu que a maior preocupação do clube neste momento se baseia nos valores que ainda precisam ser pagos para o Al-Wahda pela transferência de Denílson, evitando assim um descenso à Série C. Os valores chegam a R$ 5 milhões. 

"A Fifa nós já pagamos o Zorya (pelo Willian Bigode) que era o primeiro pagamento importante, estamos aí com a Operação Fifa, que são várias ações em conjunto. Hoje nós só temos o Al-Wahda, que é a dívida que não conseguimos pagar em meados de maio e que a ideia é que paguemos isso nos próximos meses, essa é a única que dá uma punição mais severa que é a queda à série C. Estamos com isso no radar e estamos trabalhando pesado para esse pagamento ao Al-Wahda", disse Matheus.

Até agosto, o clube ainda precisa quitar cerca de R$ 14 milhões que são referentes a ordens de pagamento pelas vindas de Rafael Sóbis e Pedro Rocha. O dirigente celeste adiantou que vem tentando ações para segurar a variação cambial e evitar um pagamento ainda maior. As punições em caso de não pagamento é o não registro de atletas. 

"As outras nós também estamos trabalhando no pagamento, porém temos uma pena mais branda que é o não registro de atletas, que eu acredito que alguns clubes brasileiros já tiveram. A dívida da Fifa aumentou um pouco mais em função da variação cambial. Estou tentando já fazer ações para segurar uma possível variação cambial, mas a dívida aumentou nesse sentido", comentou o diretor de controladoria e finanças do clube. 

BAHIA COMO EXEMPLO E PLANO FISCAL

Matheus Rocha explicou em live da BDO que o Cruzeiro vem se baseando na gestão do Bahia para pavimentar a profissionalização e a construção de um novo clube.

"O Flamengo é um exemplo, o Athletico-PR também, mas o Bahia é um exemplo maior para nós no sentido do que foi feito e das caraterísticas que levaram o clube a essa profissionalização. Estamos tentando trilhar o mesmo caminho. É um exemplo muito bom", disse o executivo celeste. 

Ainda nos planos que o departamento financeiro planeja, um deles se concentra em uma fomra de estabelecer condições para o pagamento da dívida fiscal do clube. Em fevereiro de 2020, a dívida ativa do clube era de R$ 261.887.994,79, sendo R$ 253.770.074,73 referentes a tributos e R$ 8.117.920,06 em contribuições previdenciárias. 

"Na outra ponta, na parte do fiscal, estamos fazendo um plano de negócios para apresentar à procuradoria da receita para vermos o que pode ser feito para pagar todo mundo, inclusive o estado", encerrou Matheus Rocha.