Aos 39 anos, o ala Alex Garcia tem um novo desafio na carreira: levar o Minas ao inédito título do Novo Basquete Brasil (NBB). Após ter sido um dos destaques da seleção brasileira na Copa do Mundo, disputada no último mês de setembro, o jogador é uma das principais apostas do forte elenco montado pelo time da rua da Bahia. E quem pensa que ele foge dessa responsabilidade se engana: “Eu gosto de trabalhar com obrigação”, diz. Nesta entrevista exclusiva, ele ainda comenta sua vinda para Belo Horizonte e discute o futuro.
Fale um pouco sobre sua negociação para fechar com o Minas. Agora no clube, qual avaliação faz da infraestrutura e do time que foi montado?
Foi uma coisa rápida. Eu já tinha cinco anos no Bauru Basket, no qual tinha ganhado todos os títulos possíveis. Estava procurando algo a mais para continuar jogando em alto nível porque estava ficando um pouco acomodado, queria algum tipo de mudança. Além disso, tinha o Leandrinho: ele é meu parceiro de seleção há quase 20 anos, companheiro de quarto, e a gente nunca jogou junto em times. Aí, quando surgiu a possibilidade, neste ano, não pensei duas vezes. Conversei com minha família, recebi o apoio de todos e cá estou para seguir jogando motivado e em alto nível.
Qual a sensação de ir para um time levando a esperança de ser campeão?
Sou um vencedor. Gosto de ganhar e sei que o Leandro também é assim. Por isso, olho para essa expectativa como uma coisa boa. Sempre fiz parte de clubes vencedores. Por onde passei, conquistei títulos nacionais, e aqui não será diferente. Gosto disso, dessa responsabilidade, desse clima. O Minas é um dos favoritos. Realmente temos time para isso. No nosso elenco, temos jogadores experientes em todas as posições. É um grupo muito forte.
Como está sendo a vida em Belo Horizonte? Como foi recebido na cidade e no clube?
Fui muito bem recebido, desde o primeiro dia. Não apenas eu, mas toda minha família. Sobre o clube, nem preciso falar: abriram completamente as portas para mim, tanto que minha mulher e meus filhos adoram o espaço, vêm aqui todos os dias e ficam até o início da noite. A cidade é muito boa, não é aquela loucura de São Paulo e Rio de Janeiro: apesar de ser grande, é muito tranquila, e eu estou gostando muito de morar aqui. Espero que a temporada seja boa para valer tudo que estamos recebendo.
Minas Gerais já teve grandes times de basquete, como o Ginástico, nas décadas de 70 e 80, e o Unitri-Uberlândia, nos anos 2000. O que fazer para marcar época e colocar esse Minas na história também?
Temos que ser competitivos em todos os momentos. Não podemos nos acomodar durante os treinos, pois, se formos competitivos dentro do grupo, com certeza seremos nos jogos. O segredo é todo mundo remar para o mesmo lado, focar o mesmo objetivo e trabalhar sem vaidade. Se tivermos tudo isso e ainda “colhão” nos jogos em que formos desafiados, com certeza vamos chegar ao fim da temporada brigando pelo título.
Conte um pouco sobre o início da sua carreira. O fato de ser “baixinho” (1,90 m) alguma vez te atrapalhou?
Comecei em Orlândia, no interior de São Paulo, nas aulas de educação física, como todo mundo, e me apaixonei pelo basquete desde o primeiro dia. Até que chegou um momento em que meu irmão Eduardo e eu resolvemos apostar tudo: largamos a escola, colocamos a bola embaixo do braço – ficávamos o dia inteiro no ginásio da cidade. Fui aprimorando meu jogo até que começaram a surgir oportunidades. Me chamaram em Rio Preto, onde disputei minhas primeiras competições. Depois, fui para o COC Ribeirão, para jogar no adulto. A estatura nunca foi problema. Se eu tivesse 2 m ou mais, é claro que teria sido mais fácil, mas sempre consegui fazer meu jogo independentemente disso.
Como foi o período na base? Na sua visão, há diferença entre a categoria da sua época da atual?
Minha gana de ser vencedor vem desde as categorias de base. Como disse, por onde passei, conquistei títulos, e isso inclui esse período. Hoje, é mais fácil jogar (na base) que antes. Até para chegar à NBA é mais fácil. Há entrada e observadores da liga espalhados pelo mundo inteiro, fora a visibilidade que as ligas estrangeiras possuem, seja NBA ou europeias, com transmissão na TV. Na minha época, não tinha nada disso, nem transmissão assim. Lembro que era difícil assistir ao Michael Jordan jogando: ia à casa de amigos que tinham dinheiro para assistir (às gravações) em videocassete.
Como foi trabalhar com Gregg Popovich (na NBA, pelo San Antonio Spurs, entre 2004 e 2005)?
Não existe nada de diferente em trabalhar com ele ou com qualquer técnico, pelo menos nos treinamentos. Ele tem sua filosofia, um sistema de jogo, como qualquer outro. O que faz dele diferente é o dia a dia, como ele lida com o jogador fora da quadra, como ele aborda. Ele é como um “psicólogo”, poderia falar dele o dia inteiro. Ele é um cara que sabe bem o que faz.
Se você pudesse trazer para a NBB uma característica da NBA, o que você traria?
Acho que a estrutura física. Precisamos de muita coisa, mas a estrutura física é o mais complicado.
Como é enfrentar um time no padrão NBA e um time com conceito do basquete europeu? O que muda nos dois tipos e quais as principais qualidades dessas escolas? E o que o basquete sul-americano tem de diferente?
Com certeza, o mais complicado para se adaptar é o da NBA, porque tem mais correria e imposição física. Já o sul-americano e o europeu são mais cadenciados, com funções bem definidas.
Falando um pouco sobre sua experiência com a seleção brasileira, na partida contra a Grécia pelo Mundial, em setembro (quando o Brasil bateu os favoritos por 79 a 78), o Bruno Caboclo colocou o Giannis Antetokoumpo no bolso!
Foi um grande jogo. Você vê o Antetokounmpo fazendo o que ele faz nos Estados Unidos e acha que vai ser igual (na seleção grega). As pessoas assistem aos jogadores na NBA, mas esquecem que, na Fiba, a regra é totalmente diferente. Não há os mesmos espaços. Jogar na NBA é mais fácil que na Fiba. Antes daquela partida, falaram que nós tomaríamos 50 pontos da Grécia, e isso mostra que eles (os críticos) não entendem nada de basquete. Só pra exemplificar, a Grécia teve sua maior vantagem na partida quando Antetokoumpo não estava em quadra. A Grécia jogava melhor sem ele. Isso mostra que o cara que foi o MVP, merecido, da temporada da NBA, sofre para se adaptar à Fiba.
Durante a preparação para o Mundial, o técnico Aleksandar Petrovic insistiu que tinha a solução para anular Antetokoumpo e vencer a Grécia. Mesmo assim, ninguém (nem torcedor nem especialista) acreditava que era possível. Quando esse tipo de coisa acontece, desperta no atleta algo a mais para provar que todos estão errados?
Assim que sortearam os grupos, o papo que rolou é que seríamos varridos do Mundial, pois não ganharíamos da Grécia, da Nova Zelândia nem de Montenegro. Esquecem que o jogo é jogado, que os dois times é que vão decidir tudo. Falaram sobre quem iria marcar o Antetokounmpo, que eu, por ser baixo (o grego mede 2, 11m), não poderia ser o responsável. Isso foi ridículo, tanto que provamos em quadra. A estratégia do Petrovic foi perfeita. Conseguimos fazer um bom jogo, saímos de 17 pontos atrás e vencemos. O espírito com o qual entramos em quadra foi essencial para isso.
Qual a sua opinião sobre um técnico estrangeiro na seleção brasileira? É uma necessidade?
Particularmente, gostei de manterem um técnico de fora à frente da seleção. Se o (argentino) Rubén Magnano tivesse assumido nossa seleção antes, tipo em 2006, com vários jogadores mais novos e ainda em formação, ele poderia ter antecipado muita coisa e conquistado mais títulos. Vejo com bons olhos (um técnico estrangeiro), pois precisávamos de pulso firme para comandar o time, tendo em vista que muitos jogadores atuam fora do país. Se fosse um brasileiro, talvez não seguraria.
Pela seleção, quais são suas pretensões?
Não sei se vou continuar ou não. Pode ser o fim, pode ser que eu não vá mais ou que eu jogue o pré-olímpico e, se não nos classificarmos, encerro minha participação; ou, se nos classificarmos, deixo as Olimpíadas como meu último torneio. Ainda não posso afirmar nada.
Existe um medo do que pode acontecer com a seleção após a sua aposentadoria e a de outros jogadores que seguem sendo titulares?
Não é um medo, mas sabemos que vai ser complicado. Hoje, não temos 12 jogadores para formar a seleção – considerando uma situação em que todos nós pararíamos. Estava conversando sobre isso com o Leandrinho e com o Léo (técnico) e discutimos se dava para ele montar uma seleção com os 12, sem Marquinhos, Varejão, Huertas, Leandrinho e eu. Para algumas posições, há opções: como armadores temos Raulzinho, Rafa Luz, Yoago e outros; porém, para ala, só temos Benite e Didi. Há jogadores que até poderiam integrar a seleção, mas faltam bagagem e experiência internacional para eles.
Com o fim da carreira próximo, o que você planeja fazer na aposentadoria?
Ter jogado na NBA pode fazê-lo enveredar pelo caminho da gerência de um time ou de uma federação?</MC> <CW-3>Já tenho meus planos formados para quando eu parar: quero ser técnico de base. Gosto disso, gosto de trabalhar com os jovens, de ensinar fundamentos e ajudá-los a chegar bem formados ao profissional.
Você é de uma geração que chegou à seleção depois da era Oscar, um dos auges da história do basquete brasileiro. Depois de vocês, como analisa o que os novatos terão que assumir? Eles vão sentir mais responsabilidade que vocês?
Acredito que sim, pois, na transição que fizemos, fomos para um campeonato mundial como reservas, já tínhamos jogado Copa América e outros torneios internacionais. Esta geração de agora ainda não tem vivência internacional, a não ser pelos jogadores que atuam fora. Acho que vão sofrer por esse lado. Essa falta de vivência internacional terá um peso para eles.
Bate-bola
Da sua geração, quem foi o maior jogador brasileiro?
Você me pegou nessa. Pela função, acho que o Neguinho (Leandrinho).
Qual é o maior jogador com quem você jogou? E que viu jogar?
O maior com quem eu joguei junto é o Tim Duncan e o que eu vi jogar é Kobe Bryant.
O Varejão vem? Em que dia ele chega?
Essa pergunta não é pra mim.
Qual seria o quinteto perfeito, com você no time?
Vou ter que ser bairrista nessa. Nezinho, Leandrinho, Guilherme Giovannoni, Rafael Hettsheimeir e eu.
E, da história, qual o quinteto com o qual você gostaria de ter jogado?
Kobe Bryant, LeBron James, Tim Duncan, Tony Parker e Ginobili.
Qual foi o maior momento de sua carreira?
Não vou falar que foi apenas o maior momento da minha carreira, vou falar do momento da minha geração. Foi quando nos classificamos para as Olimpíadas em 2011, um grande divisor de água pra gente.
O que o toco no Tim Duncan representa pra você?
Foi um lance que ficará para o resto da vida, que faz todo mundo se lembrar de mim. Todo mundo que conversa comigo fala dele. E é um lance gostoso de lembrar e de assistir, pois foi bonito, principalmente por ter sido em quem foi. Isso valoriza ainda mais.
O que representa a rivalidade com a Argentina de Ginobili e Scola?
É gostoso demais.
Pra você, quem fica com o título da NBA nesta temporada?
Eu sou LeBron James; apesar de não gostar do Lakers, confio nele.
E do NBB?
Minas!