Plantações de oliveiras em encostas íngremes que originam azeites únicos, queijos artesanais premiados no exterior, trilhas que levam a cachoeiras de águas geladinhas e refrescantes no meio da mata e a mirantes para contemplação de espetáculos como brumas e pôr-do-sol, fazenda de búfalo que produz laticínios, plantações de frutas vermelhas, como amoras e morangos, passeios de maria-fumaça, áreas de preservação ambiental com mais 300 espécies de pássaros e uma culinária que se apropria de um terroir único para aguçar paladares. O turismo de experiência “abraçou” a Mantiqueira de uma tal forma que dificilmente um visitante sai dessa região sem um gosto de “quero mais”.
Famosa por destinos como Monte Verde e Gonçalves, a Mantiqueira esconde joias como Aiuruoca, pequena cidade emoldurada pelo pico Bico do Papagaio, terra do azeite; Alagoa, famosa mundialmente por causa de um queijo artesanal de sabor especial; Itamonte, conhecida pela natureza exuberante e por ser porta de entrada do lado mineiro para o Parque Nacional do Itatiaia; Itanhandu, com suas cachoeiras e trilhas; e Passa Quatro, ponto de partida para uma viagem no tempo pelo Trem da Serra da Mantiqueira. Todas essas localidades com muitas particularidades têm em comum o fato de pertencerem à Associação dos Municípios da Microrregião do Circuito das Águas (Amag), às Terras Altas da Mantiqueira e ao Circuito das Águas.
Pegar um carro e se perder nas estradas é a melhor maneira de explorar a Mantiqueira, com paradas para banhos de cachoeira, para degustar a comida mineira no fogão à lenha, para contemplar paisagens arrebatadoras e para provar azeites, queijos e cachaças, tudo produzido artesanalmente e vendido em lojinhas, como a de Osvaldo Martins de Barros Filho, o Osvaldinho, pioneiro na venda do queijo de Alagoa.
Rota do Queijo e do Azeite
Osvaldinho criou em 2016 a Rota do Queijo e do Azeite – é um dia inteiro de tour que começa na Fazenda Cauré, produtora de azeite, faz parada para almoço no restaurante de Dona Inês, no centro de Alagoa, e continua na fazenda 2M, produtora do queijo artesanal, finalizando na loja do produtor para degustação harmonizada com goiabada, geleia de jabuticaba e mel. A história do queijo de Alagoa começou na década de 1920, quando o italiano Pascal Poppa chegou a Alagoa acompanhado da esposa, Luiza. Veio com ele a receita de um queijo diferente, que permitia maior conservação. Sem poder exercer o ofício de sapateiro, o artesão construiu três laticínios na cidade, produzindo o queijo de forma rudimentar. Apesar de não ser chamado mais de “parmesão”, o queijo de Alagoa carregou o nome por muito tempo. Em 2010, produtores locais começaram a buscar sua certificação geográfica. Uma década depois, o governo do Estado publicou portaria reconhecendo Alagoa como região produtora de queijo artesanal. Esse queijo único é resultado do terroir – palavra francesa que se refere à forma como o solo, a água e o microclima, além do manejo e dos processos, influenciam o produto e seu sabor.
Toda essa história do queijo mudou quando Osvaldinho colocou três peças debaixo do braço e embarcou para a França para participar do Mondial du Fromage. O Queijo Alagoa 1722 e o Queijo Alagoa Fumacê ganharam a Medalha de Prata e a Faixa Dourada Medalha de Bronze, concorrendo com outros 600 queijos, de 42 países. “O prêmio na França colocou Alagoa em um patamar internacional, atraindo turistas e movimentando a economia da cidade”, conta o produtor. Hoje, Osvaldinho leva os visitantes à fazenda 2M para mostrar como o queijo artesanal é produzido pelo casal Márcio e Dirce. Após a visita, Dirce prepara aquele café típico da fazenda, tendo como destaque a receita do pão de queijo com ovo caipira e queijo premiado na França. Alagoa tem atualmente cerca de 138 produtores de queijo artesanal e uma produção de 30 toneladas/dia. Na fazenda Cauré, a poucos quilômetros de distância, Tonhão guia os visitantes pelas encostas íngremes de olivais, explicando os segredos do plantio e da colheita antes da degustação do azeite Prado & Vazquez. Aos pés da Pedra do Juquinha, descobrem-se oliveiras começando a florir. Se a visita ocorrer entre janeiro e março, é até possível colher as azeitonas.
Azeites Artesanais Olibi
Também está na mesa do produtor Nélio Weiss um dos atrativos da fazenda Campo do Meio, em Aiuruoca, nessa rota de aromas e sabores. Dos 140 hectares, 18 estão tomados de oliveiras que produzem um azeite com baixa acidez (0,8%), frutado e com agradável cheiro de natureza. Por R$ 40 a visitação, o economista promove visita guiada e degustação do azeite artesanal Olibi, resultado de blends de varietais como arbequina, arbosana, koronei e grappolo, entre outros. O olival foi plantado em 2011, e a primeira colheita aconteceu em 2017. Plantar oliveiras, no entanto, não foi o propósito inicial de Weiss ao comprar um terreno de 140 hectares próximo a Aiuruoca (palavra do tupi que significa “casa do papagaio”), mas reflorestar uma área degradada com espécies da Mata Atlântica e reintroduzir uma espécie em processo de extinção, o papagaio-do-peito-roxo. Hoje, há registros de 42 aves da espécie da região. Na Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN), Weiss mantém 42 aves com autorização do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). Desde que começou o projeto, em 2007, já promoveu a soltura de cerca de 4.000 aves na natureza.
Cachoeiras dos Garcia e do Facão
É essa natureza intocada e preservada que encanta os visitantes na Mantiqueira. É uma imersão na natureza para se deparar com cachoeiras escondidas no trajeto, como a do Facão. Uma pequena trilha revela uma queda d’água de águas límpidas e geladinhas no meio da mata. Por sinal, as cachoeiras se multiplicam nessa porção da Mantiqueira. A palavra, de origem tupi-guarani, significa “serra que chora” e não existe no Aurélio ou Houaiss. É constante nas estradas presenciar gotejamento das pedras. A grande quantidade de pequenas cachoeiras que descem das encostas e formam pequenos rios também pode justificar o nome. Uma das mais belas cachoeiras, a dos Garcia, pode ser trilhada a partir do restaurante do casal Ilacir, formado por Juninho e Renilda, uma chef de mão cheia. A trilha de nível intermediário tem alguma infraestrutura, com escada de madeira e corrimão, alguns trechos estreitos e pedras escorregadias, e exige algum esforço físico, mas toda a caminhada de 20 minutos é recompensada por uma visão esplendorosa de uma cachoeira de 30 m de altura que deságua em um poço profundo para banho, porém com uma parte de areia rasinha.
Instituto Alto Montana
A Mantiqueira é um território perfeito para atividades como montanhismo. Há ao menos cinco picos com mais de 2.600 m de altura, todos num raio de 20 km do Instituto Alto Montana da Serra Fina, uma das paisagens mais eloquentes da região de Itamonte, porta de entrada do lado mineiro para o Parque Nacional do Itatiaia. O lugar é muito procurado para prática do montanhismo e cascading, informa Vinícius do Couto Carvalho, gerente de uso público do instituto. O Alto Montana é também uma RPPN com 1.049 hectares, com 17 nascentes e altitudes que variam de 1.400 m a 2.540 m. Além de proteger uma extensa área de Mata Atlântica, o instituto oferece banho na cachoeira do Pinhão Assado e piscinas naturais, um circuito de 30 km de trilhas e rampa de voo livre. Uma das atividades é a observação de pássaros – já foram registradas 284 espécies na reserva. O Abrigo Montana ainda oferece acomodações em quartos para até quatro pessoas a partir de R$ 210.
Pérola da Serra
Onde se hospedar
Trem da Serra da Mantiqueira
Serviço
Como chegar
De Belo Horizonte: pegue a BR-381 (Rodovia Fernão Dias), BR-267e BR-354 sentido Via Dutra e, em seguida, a MG-187 (Rodovia Cardeal Mota).
De São Paulo: pegue a BR-116 (Via Dutra), SP-52 em direção a Cruzeiro, as Rodovias Hamilton Vieira Mendes e Cardeal Mota.
Onde se hospedar
Pousada Paraíso dos Tucanos: Estrada Ponte Alta, 9999 SI Área Rural, Aiuruoca. Diárias de R$ 500 a R$ 650 o casal. Caso o hóspede queira pensão completa, acrescenta-se R$ 100 à diária. Acesse Paraíso dos Tucanos ou (35) 99941-7922 (WhatsApp).
Hotel Águas Lindas: BR-354, Coqueiros, Itamonte. Diárias a partir de R$ 150 por pessoa Acesse Instagram / @hotelaguaslindas ou (35) 99244-0235 (Whatsapp).
Pousada Ribeirão do Ouro: BR-354, KM 759, Itamonte. Diárias a partir de R$ 220. Acesse Pousada Ribeirão do Ouro ou (35) 3363-1235.
Onde comer
Casal Garcia: Cachoeira dos Garcia. A dica é o filé de truta na manteiga, acompanhado de batata sauté, tomate seco, champignon e sala orgânica a R$ 62 por pessoa. Instagram / @restocasalgarcia
Recanto Caipira: Av. Cel. Ribeiro Pereira, 829 - Sao Miguel, Passa Quatro. Comida caseira a quilo com bm custo-benefício. Instagram / @recantocaipiraa
Velho Oeste: Estrada da Serrinha, Km 9 Serra dos Garcias, Aiuruoca. Inspirados nos saloons norte-americanos dos filmes de faroeste, Comida caseira preparada no fogão à lenha. Instagram /@velho.oeste.minas
Passeio
Trem da Serra da Mantiqueira: Ingressos promocionais a R$ 90. Para comprar e conferir os horários, acesse Trem da Serra da Mantiqueira.