O fim da pandemia alertou o mundo para o overturismo. Cidades como Amsterdã, nos Países Baixos, e Barcelona, na Espanha, voltaram a sofrer com a quantidade exagerada de turistas em suas áreas urbanas. No sábado (25/4), milhares de pessoas da ilha de Maiorca foram às ruas de Palma sob o lema “Maiorca não está à venda” para protestar contra o turismo excessivo e exigir que as instituições públicas aprovem medidas para regular o turismo.

A menos de um mês do início do verão, em 21 de junho, a alta temporada europeia, filas para acessar as praias e resorts lembram mais um campo de batalha do que um paraíso de férias. Maiorca e suas ilhas irmãs Minorca e Ibiza, que formam com outra centena de ilhotas o arquipélago das Baleares, reclamam de turistas com comportamentos barulhentos, festas cheias de álcool, o aumento no custo da habitação e a falta se segurança.

Elevadas taxas de juros e custo de vida alto estão dissuadindo os espanhóis que vivem em Ibiza de comprar propriedades por causa do aumento na procura de aluguéis, o que faz subir os preços. O aumento médio nas Ilhas Baleares é de 18% em 2023, enquanto a média nacional é de 12%. O overturismo fez surgir ainda casas de aluguéis irregulares. O governo local diz já aplicou desde 2019 cerca de € 4 milhões em multas com atividades ilegais de turismo.

Recorde

Pós-pandemia, o primeiro-ministro espanhol Pedro Sánchez pretendia tornar a Espanha menos dependente de turistas. Ao contrário do queria, o país bateu recorde em 2023. O Instituto Nacional de Estatística (INE) estima que o país tenha recebido 85 milhões de visitantes, 18,7% mais do que em 2022. Destes, 14,4 milhões visitaram as Ilhas Baleares, a segunda região mais procurada da Espanha, perdendo apenas para a Catalunha, com 18 milhões.

Segundo país mais visitado do mundo, perdendo apenas para a França, a Espanha já pensa seriamente em criar leis para limitar o número de visitantes estrangeiros. Mas se depara com outro problema: os turistas deixaram no ano passado no país ibérico € 186 bilhões, o equivalente a 12,8% do Produto Interno Bruto (PIB). Para 2024, a previsão é que as receitas do turismo alcancem cerca de € 200 bilhões.

No mundo

Amsterdã, nos Países Baixos, é um dos locais que já sofrem com o overturismo - Foto: Robin Utrecht / ANP / AFP

 

Restrições, taxas de entrada, multas e proibições são medidas que os destinos mais procurados do mundo têm adotado para diminuir o volume de turistas. A Grécia, por exemplo, aumentou para € 10 o acesso às cidades e às ilhas. O caso mais recente é de Veneza, na Itália, que desde abril limitou grupos de turistas a 25 pessoas, além de exigir o preenchimento de um cadastro e cobrar diária de permanência de € 5. 

Nos vilarejos espanhóis Rupit e Pruit, cuja população não passa de 300 pessoas e o número de turistas chega a 250 mil, as administrações locais limitaram o número de hospedagens a dez. Celestí Alomar, ex-conselheiro do governo balear, salienta que as Ilhas Baleares devem mostrar ao mundo que é possível converter o turismo de massa, reduzindo a oferta e diversificando a economia para alcançar um equilíbrio entre a qualidade e o consumo dos recursos naturais.

Na contramão do overturismo, o Peru muda suas regras de visitação. Patrimônio Mundial, Machu Picchu, que já foi colocado sob a classificação de “alta vigilância” pela Unesco devido ao excesso de visitantes, autorizou de 1º de junho até 15 de outubro e de 30 a 31 de dezembro de 2024, passar de 4.500 para 5.600 pessoas por dia nas ruínas incas.

No Brasil

No Brasil, também é detectado um aumento de turistas em períodos no verão que gera engarrafamentos, blecautes, falta ou encarecimento de insumos e poluição. Destinos como Porto de Galinhas e Fernando de Noronha (PE), Pipa (RN) e Ilhabela (SP) j também sofrem com o overturismo. 

Em 2022, a ilha de Fernando de Noronha reduziu o número de visitantes de 225 para 180, no máximo 132 mil por ano e 11 mil por mês. De acordo com a administração da ilha, a capacidade máxima é de 675 visitantes por dia, mas o arquipélago já chegou a receber um fluxo diário de até 812 turistas. Nesse período, Noronha passa por racionamento de água. Jalapão (TO), Jericoacoara (CE) e Morro de São Paulo (BA) também já adotam estratégias semelhantes.

Os transtornos causados por turistas vão de engarrafamentos a barulho, poluição e lixo. Em 2022, alguns destinos europeus trocaram os slogans "venham nos visitar" por "por favor, não venham", como uma estratégia para barrar o overturismo. Essas campanhas são direcionadas para turistas que não contribuem de forma positiva para as cidades. O debate sobre como lidar com o excesso de turistas´já chegou à União Europeia.

Dez dicas para o turista fugir do overturismo:

1.  Diversifique e escolha destinos menos conhecidos, autênticos, fora das rotas tradicionais;

2.  Promova práticas de viagens sustentáveis, como usar a água com moderação, abandonar o uso de objetos descartáveis, não deixar lixo nos locais de visitação, utilizar mais transporte público etc;

3.  Evite viajar em alta temporada;

4.  Invista em roteiros personalizados;

5.  Explore mais natureza do que áreas urbanas;

6.  Prefira viagens mais intimistas do que em grandes grupos;

7.  Escolha empresas e destinos que invistam em práticas de responsabilidade social;

8.  Experimente o turismo de base comunitária;

9.  Contrate guias de turismo locais éticos e compre apenas produtos locais;

10. Fuja de destinos que incentivem a especulação imobiliária.

Etias

Uma das formas de controle do volume de turistas pode ser o Sistema Europeu de Informação e Autorização de Viagem (Etias, sigla em inglês), que vai ser implementado a partir de 2025. O sistema eletrônico de autorização de viagem pretende, em primeiro momento, reforçar as fronteiras do Espaço Schengen. Não é um visto, mas uma permissão de entrada.

Os países europeus nos quais o Etias será obrigatório são Alemanha, Áustria, Bélgica, Bulgária, Chipre, Croácia, Dinamarca, Eslováquia, Eslovênia, Espanha, Estônia, Finlândia, França, Grécia, Hungria, Islândia, Itália, Letônia, Liechtenstein, Lituânia, Luxemburgo, Malta, Mônaco, Noruega, Países Baixos, Polônia, Portugal, República Tcheca, Romênia, São Marino, Suécia, Suíça, Vaticano, Bulgária, Chipre e Romênia. A exceção são Reino Unido e Irlanda

Outra forma de controle já adotada por alguns países é limitar a entrada em atrativos turísticos. Atrativos como Maya Bay, na Tailândia, Monte Fuji, no Japão, Dubrovnik, na Croácia, Parque Nacional de Calanques, na França, e Plaza de España, na Espanha, têm limitação no número de visitantes.

O alerta para as discussões em torno do overturismo vem da Organização Mundial do Turismo (OMT). A entidade prevê que, até o final desta década, o fluxo de turistas internacionais ultrapasse a marca de 2 bilhões de pessoas no mundo. E conclama para que governos encontrem soluções para um turismo mais consciente e sustentável.

Para entrar na Espanha

Para entrar na Espanha, o visitante deve cumprir alguns requisitos relacionados com a validade do passaporte, alojamento, meios econômicos e passagem de saída. São requisitos simples, mas que devem ser observados para evitar contratempos na hora de passar pelo controle de imigração.

Os brasileiros são dispensados de pedir visto para entrar nos países do Espaço Schengen, que inclui a Espanha. Contudo, é necessário cumprir alguns requisitos que variam de acordo com a finalidade da viagem. Para viagens de turismo, são necessários:

* Passaporte em vigor (e que não vença dentro de 180 dias);

* Comprovante de alojamento até o dia da saída do Espaço Schengen (reserva em hotel ou carta-convite);

* Comprovante de meios econômicos em efetivo ou cartões de crédito equivalentes € 1.010,60 no total, ou 113,40 € por dia;

* Passagem de volta ao Brasil ou de saída do Espaço Schengen dentro do prazo de 90 dias.