Das cinco localidades mais frias do país na última semana, duas estão em Minas Gerais: Monte Verde e Maria da Fé. Tradicionalmente, o Estado registra as mais baixas temperaturas do país, principalmente em regiões como a serra da Mantiqueira, no Sul de Minas, e no Parque Nacional do Caparaó, na divisa com o Espírito Santo.

Se, nas viagens ao exterior, a atração são normalmente as estações de esqui, que se beneficiam de neve abundante, no Brasil as viagens de inverno são revestidas de hospitalidade, aconchego e boa gastronomia. As férias de julho são um bom momento para experimentar queijos artesanais, azeites, cachaças, cafés especiais, chocolates e vinhos.

Monte Verde

O Myrante da Colina Hotel & Spa e o restaurante giratório Sierra 360° ao centro, novidade turística em Monte Verde - Foto: Myrante da Colina / Divulgação

Quem não dispensa fondue, lareira, banheira de hidromassagem e um bom vinho para desfrutar de toda essa atmosfera invernal, Monte Verde é o lugar mais indicado. O distrito de Camanducaia ganhou fama de “destino romântico” nesta época do ano, a alta temporada. 

Os termômetros em Monte Verde registram normalmente 16ºC à tarde e mínimas de 8ºC nas manhãs e noites, podendo atingir temperaturas de -2ºC ocasionalmente. Os hotéis e pousadas locais festejam o grande volume de turistas – de maio a agosto, o período mais frio, o município de 8.423 leitos chega a receber 580 mil visitantes.  

O empresário Luis Gustavo Cuadra de Almeida, proprietário do Myrante da Colina Hotel & Spa, é um dos que apostam na crescente atração de turistas para o destino. Ele inaugurou há um mês o restaurante giratório Sierra 360°. A 15 m de altura, o estabelecimento dá uma volta de 360º em aproximadamente uma hora e 15 minutos. 

O espaço de 200 m² virou ponto turístico e já recebeu cerca de 400 visitantes. O cardápio com toque contemporâneo oferece pratos como stinco de cordeiro, truta grelhada com amêndoas e, é claro, fondue. Hoje, apenas três cidades têm um restaurante giratório como atração turística – São Paulo, Gramado e Veranópolis (RS).  

Localizado a uma altitude 1.150 m, o hotel é um mirante natural, oferecendo vista para parte da vila e dos principais picos da região. No ano passado, uma reestruturação ampliou o espaço do empreendimento, com 80 novos quartos, áreas comuns e fitness, salas de lareira e de jogos e novo restaurante, além do giratório.  

O hóspede tem ainda à disposição spa completo, piscina coberta aquecida, sauna onde o hóspede mergulha e sai na piscina, lareira e banheira de hidromassagem na maioria dos quartos, quadra de tênis, sala de cinema e trilha ecológica. Casais podem contratar pacotes românticos entre R$ 295 e R$ 820. 

Segundo o secretário de Turismo de Camanducaia, Bruno Rosa, a expectativa para este inverno é cerca de 250 mil pessoas durante o Inverno nas Montanhas. A nona edição do festival acontece de 29 de junho a 27 de julho e traz uma série de atrações gratuitas na avenida Monte Verde e em outros espaços da cidade. 

Maria da Fé

Uma bruma envolve Maria da Fé, considerada uma das cidades mais frias de Minas - Foto: William Siqueira / Divulgação

Recordista em frio no país, Maria da Fé teve a primeira geada no dia 30 de maio, a -0,1ºC. O município leva a sério o slogan “Cidade mais fria de Minas”. A temperatura média diária varia de 3ºC a 15ºC. Com 450 leitos, entre pousadas e casas de temporada, Maria da Fé não tem uma estrutura robusta como Monte Verde. 

Segundo William Ribeiro, consultor em climatologia, a menor temperatura registrada na cidade foi -6,4°C, em 2021. Neste ano, a mais baixa foi -1,9ºC. “Maria da Fé está entre 1.300 m e 1.900 m de altitude, e o relevo propicia o acúmulo de frio como em uma panela de pressão. A cidade está no meio da serra e cercada de montanhas”, explica. 

Por esse motivo, meios de hospedagem, como a Pousada Maria da Fé, já estão preparadas para o frio. “Sempre que a imprensa divulga as temperaturas baixas, chama a atenção de muita gente, que vem a Maria da Fé só para ver o fenômeno”, conta Gisele Campos, gerente da pousada, dotada de lareira e suítes com hidromassagem. A diária varia de R$ 330 a R$ 420 o casal.  

Para entreter turistas nesta época do ano, Maria da Fé também promove a 12ª edição do Festival de Inverno, durante dois fins de semana (de 5 a 7 e de 12 a 14 de julho), com atrações como Sá & Guarabyra, o circuito de jazz e blues Amantikir, apresentações circenses, de corais e de orquestras de viola e violão. 

Artesãos como Domingos Tótora, Leonardo Bueno, João Paulo Raimundo e os da cooperativa Gente de Fibra exibem os trabalhos em uma exposição de arte e design. Produtos como azeites, cafés e queijos produzidos da região também são comercializados. Dessas iguarias, o azeite fez crescer o turismo de experiência na cidade. 

Degustaçao de azeite na Fazenda Santa Helena, em Maria da Fé - Foto: Fazenda Santa Helena/ Divulgação

Em Maria da Fé, foi realizada a primeira extração de azeite de oliva no país, em 2008. A cidade é conhecida como a “capital do azeite”. O turista pode visitar fazendas, caminhar pelos olivais, conhecer o processo de produção e participar de degustações. Muitos azeites, como Mantikir e Monasto, foram premiados em concursos internacionais. 

Na fazenda Santa Helena, a proprietária Rosana Chiavassa, uma apaixonada pela música, cultiva azeitona com música clássica. Na fazenda, há 60 caixas de som espalhadas pelo olival. “É um afago, um carinho a mais”, destaca. O ritual de 12 horas de música clássica ao dia tem resultado em melhoria de produção, com minissafras de abril a outubro. Os frutos das oliveiras deram origem a um azeite premiado internacionalmente como o mais delicado.  

Na visitação, ela discorre sobre as oliveiras e o processo de produção até a degustação sensorial de sete variedades de azeites das espécies arbosana, arbequina, coratina, koroneiki, picual, grappolo e Maria da Fé. Além disso, oferece coquetel ao pôr do sol em cenário de pedras como o da série “Outlander”, piquenique nos olivais, trilha na mata e almoços e jantares harmonizados. Tudo sob agendamento prévio (@azeitemonasto). 

Alto Caparaó

O pico da Bandeira, com 2.892 m de altitude, um dos lugares mais frios de Minas - Foto: Sairo Guedes / Divulgação

No município de Alto Caparaó, o cenário de inverno já começa a aparecer em meados de maio. No dia 21, o Parque Nacional do Caparaó registrou geada e temperaturas abaixo de 0ºC no acampamento Terreirão. Neste ano, o guia de turismo Sairo Guedes, que leva os visitantes ao pico da Bandeira, a 2.892 m de altitude, afirma que pegou -3ºC.  

O visitante começa a subida ao pico por volta das 14h, dorme lá em cima, em um acampamento, e às três da madrugada reinicia a caminhada até o topo para contemplar o nascer do sol. O custo do passeio é R$ 480 para quatro pessoas. “Nossas principais atrações são, pela ordem, o pico da Bandeira, as cachoeiras no parque e os cafés especiais”, salienta. 

Em 2021, o Alto Caparaó ganhou o selo de Indicação Geográfica (IG), concedido pelo Instituto Nacional de Propriedade Industrial (Inpi). Hoje, cafés produzidos a mais de 1.000 m de altitude, como o Ninho de Águia e o Recanto dos Tucanos, já ganharam prêmios, colocando a cidade do leste de Minas na rota do turismo de experiência. 

Clayton Barrossa Monteiro é um pequeno produtor inserido na Rota do Café. A Ninho da Águia é uma das três fazendas da região abertas à visitação. O pequeno produtor abre as portas para o visitante descobrir como é produzido o café arábica em montanhas com temperatura entre 16°C e 22°C. 

“Essa é uma visita educacional: mostro como é a produção, a colheita, a secagem e a torrefação do Ninho de Águia”, explica Monteiro. O café, de sabor marcante e doce por natureza, já ganhou o prêmio de melhor de Minas pela Emater em 2023  e o Coffee of the Year Brasil em 2013 e 2015. 

O cafeicultor reconhece que, depois das premiações, o número de visitantes cresceu bastante. A fazenda está aberta diariamente das 9h às 17h e aos sábados e domingos, das 13h às 17h, e não há necessidade de agendamento prévio. Para quem visita a região, a dica é se hospedar na Pousada Café da Mata, com seus confortáveis e aconchegantes chalés no alto da montanha e com vista para o Parque Nacional do Caparaó.

Caldas

Caldas, a 30 km de Poços de Caldas, tem registrado temperaturas de 4,5ºC. Pacata e com muitas belezas naturais, como a Pedra Branca, com 1.800 m, a Pedra do Frade, com 684 m, e a Pedra do Coração, com 1.300 m (foto abaixo, crédito reprodução / @julioc_sarip_litor), a cidade também está inserida na Rota do Vinho. 

Um dos programas nesta época de frio é visitar a Vinícola Estrada Real, no bairro Coroado, de Murillo de Albuquerque Regina, ex-funcionário da Epamig, que criou a técnica da dupla poda e colocou a cidade no mapa da vitivinicultura. Ao realizar a poda no inverno e a colheita em agosto, ele proporciona um produto com intensidade de cor, aroma e sabor.  

Além da visita à vinícola para conhecer o processo de produção de vinhos finos, como o premiado Primeira Estrada Syrah Gran Reserva, o visitante pode aproveitar banhos em águas termais de propriedades terapêuticas e medicinais no Balneário Pocinhos do Rio Verde. 

No balneário, durante todos os fins de semana de julho, a 35ª Festa do Biscoito esquenta moradores e turistas do frio com os fornos de barro ao vivo assando o tradicional biscoito de polvilho, broas e bolachas. Desde 2013, o evento é patrimônio cultural imaterial do município mineiro.