São sete da manhã de domingo, e a Basílica Santuário de Nossa Senhora de Nazaré está lotada de fiéis para a primeira missa do dia. Terminada a celebração, os sons das orações e cânticos são substituídos pelos de pregos e martelos. Esta é a primeira vez que a igreja está sendo completamente restaurada. As obras só estarão prontas para o Círio de Nazaré de 2025. As comemorações do Círio deste ano devem bater o recorde de público: são esperados cerca de 2,5 milhões de pessoa.
A tradição de 231 anos tem símbolos importantes: o manto, as cordas, a berlinda e a imagem. Até o dia propriamente dito da festa, 13 de outubro, a santa peregrina terá percorrido comunidades, hospitais, instituições públicas e privadas e participado de pelo menos 14 romarias (procissões) – traslado dos carros, Ananindeua-Marituba, rodoviária, fluvial, motorromaria, trasladação, das crianças, ciclorromaria, da juventude, dos corredores, da festa, do Recírio e a mais nova incorporada à celebração no ano passado, a da acessibilidade.
Um dos símbolos foi entregue na semana passada, a corda, usada durante as procissões para ligar os fiéis a Nossa Senhora – a deste ano é mais resistente do que a do ano passado, feita de fibras de malva e juta da Amazônia, tem 800 m de comprimento com partes de 400 m, para cada romaria, e 60 mm de diâmetro. O manto que cobre a imagem peregrina, outro símbolo importante, será confeccionado por uma pessoa anônima e materializado por uma estilista, para ser apresentado em missa na basílica no dia 10 de outubro.
Toda essa introdução é para avisar a você, viajante, que há dois momentos para se visitar Belém: fora e dentro do Círio do Nazaré – durante as festividades, a capital do Pará se transforma, ganha um colorido diferente, uma decoração especial e uma atmosfera de fé e devoção que contagia quem vem de fora. Este ano, principalmente, a cidade vive um momento frenético de obras em função da preparação para a COP30, a Conferência do Clima da Organização das Nações Unidas (ONU), marcada para novembro de 2025.
Para além das negociações climáticas, a conferência traz a expectativa de aumento no volume de turistas até o próximo ano, com a crescente demanda pelos serviços de hospedagem e alimentação. Só no primeiro semestre deste ano, o Ministério do Turismo registrou um aumento de 74% de novos cadastros de empreendimentos turísticos na cidade em comparação com o segundo semestre do ano passado. Em 2023, o Pará fechou o ano com injeção de R$ 750 milhões em receitas vindas do turismo na economia, uma alta de 13% na comparação com 2022.
Atualmente, a Azul mantém dois voos diretos de Belo Horizonte para Belém, com duração de três horas. O preço está a partir de R$ 1.824 o trecho para outubro. Em um hotel como Ibis Styles Belém do Pará, com localização privilegiada – a menos de dez minutos de caminhada da basílica, entre as praças da República e Batista Campos – e ótimo custo-benefício, a diária, que normalmente gira em torno de R$ 242 fora de feriados e datas festivas, costuma triplicar de preço durante o Círio.
A basílica
A basílica de Nazaré é o ponto de partida para uma viagem à cidade. A visita guiada acontece de segunda a sexta-feira, das 8h às 16h, e aos sábados, às 8h e às 10h. Para complementar a visita, um museu nas proximidades retrata toda a devoção a Nossa Senhora de Nazaré, de Portugal ao Pará, incluindo as romarias, a exibição dos mantos, estandartes e ex-votos e promessas, acervo de arte sacra e peças de artesanato em miriti.
A basílica foi fundada em 14 de outubro de 1909 e tem 115 anos, mas idealizada em 1908 pelo padre barnabita Luiz Zoia. A inspiração foi a Basílica de São Paulo Extramuros, em Roma. “A gente fala que a basílica foi construída na Itália e só montada em solo paraense”, explica a guia e turismóloga Rosane Brandão.
A igreja é um quebra-cabeça: mármores, granitos, louvadários, colunas, campanários e 19 imagens de santo em mármore de Carrara vieram da Itália; 54 vitrais, 38 medalhões e centenas de mosaicos são oriundos da França. Portas, confessionários, coroa e o manto de Nossa Senhora foram feitos no Brasil. “A presença feminina é bem forte dentro do templo. Há um corredor dedicado às santas e às mulheres”, salienta a guia.
A visita começa pelas portas principais e passa por batistério, mosaicos, imagens, capelas, túmulos e escaiolas, um revestimento que remete ao mármore. Os elementos amazônicos estão presentes nos anjos e nos pássaros, na utilização de acapu, andiroba e cedro-vermelho nos objetos de madeira, como os confessionários. O templo impressiona pelo tamanho (63 m x 24 m e cinco naves).
A devoção a Nossa Senhora de Nazaré veio de Portugal com os colonizadores. O termo “círio”, que origina no latim “cereu”, significa “vela de grande porte”. A história mais aceita e difundida pelos católicos é a do caboclo Plácido José de Souza, que encontrou, por volta de 1700, uma pequena imagem da santa às margens do igarapé Murutucu e a levou para casa. No dia seguinte, ela teria voltado para o mesmo lugar. Como o episódio se repetiu dias seguidos, ele construiu uma ermida no local.
Em 1792, o Vaticano autorizou a realização de procissão em homenagem à Virgem de Nazaré, dando origem, assim, ao Círio em 1793. Em 2013, o Círio de Nazaré foi reconhecido Patrimônio Imaterial pela Unesco e, em 2004, Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Em novembro do ano passado, o templo começou a ser restaurado. “É a primeira vez que a basílica passa por uma restauração completa, da cobertura ao altar principal, as capelas, os pisos, os vitrais, a cripta e o teto”, conta Luci Azevedo, coordenadora do projeto de restauro.
A primeira fase da restauração, em quatro capelas laterais, foi entregue em agosto. A obra foi dividida em cinco etapas e deve ser concluída em abril de 2025. “Como é um santuário, não pode ser fechado integralmente”, explica a arquiteta. Ao final do Círio, os trabalhos vão se concentrar no altar principal, no telhado e na fachada. O projeto também prevê a requalificação da cripta, que vai virar museu, mausoléu e espaço para celebrações.
Serviço:
Santuário Basílica de Nossa Senhora de Nazaré: avenida Nossa Senhora de Nazaré, 1/.300, Nazaré. A visita guiada acontece de segunda a sexta-feira, às 8h, 10h, 11h, 14h, 15h e 16h, e aos sábados, às 8h e 10h. Gratuito.
Como chegar: A Azul tem dois voos diretos de BH para Belém aos domingos e quartas, às 10h30, com duração de três horas. Acesse Voe Azul.
Onde hospedar-se: Ibis Styles Belém do Pará, avenida Gentil Bittencourt, 85, centro. Acesse Accor.