Um dos mais tradicionais eventos de Ouro Preto, a Festa Cultural da Goiaba acontece de 4 a 6 de abril, no pequeno e pacato distrito de São Bartolomeu, a 33 km de Ouro Preto. Em sua 28ª edição, o evento cultural e gastronômico foi idealizado em 1993 pelo artista ouro-pretano Gélcio Fortes e pelos doceiros da região para celebrar a colheita da goiaba (foto abaixo, crédito: Milena Gomes/ Divulgação) cuja safra vai de fevereiro a abril e é encontrada aos montes na vila, seja nos grandes goiabais preservados pelas famílias ou nas ruas do local. A produção do famoso doce, em grandes tachos de cobre sobre fornalhas de lenha, utiliza a casca e a polpa da fruta e foi registrada como Patrimônio Imaterial de Ouro Preto em 2008. Desde então, é o carro-chefe para o turismo local.
A Festa Cultural da Goiaba é promovida pela Associação dos Doceiros e Agricultores Familiares de São Bartolomeu (Adaf), com apoio da Associação de Desenvolvimento Comunitário de São Bartolomeu, Comércios, Pousadas e Restaurantes do distrito (Adescob), da Prefeitura Municipal de Ouro Preto e das Secretarias Municipais de Cultura e Turismo e de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável.
Ao visitar o destino, é possível encontrar, tanto no centro da vila quanto na área rural, diversos produtores, que comercializam sua produção artesanal durante todo o ano. Mas é durante a festa que estão todos reunidos em barracas na rua do Carmo (foto abaixo, crédito: Ane Souz / Divulgação) onde o visitante também encontra outros doces mineiros, como os de leite, de figo, de laranja, de mamão e de cidra (cristalizados e em calda), geleias, licores, vinho de jabuticaba e muito mais. Além da extensa feira de doces, a festividade tem venda de cosméticos e sabonetes, artesanato em tecido, mel e panificação artesanal, também de associados da Adaf.
De geração em geração
A Festa Cultural da Goiaba tem como objetivo colaborar com a preservação da produção local do doce artesanal, de forma a ser um dos grandes incentivos para que a nova geração continue a perpetuar a tradição doceira.
“O feitio do doce no tacho de cobre utilizando uma fornalha de lenha e o nosso jeitinho único de fazer a goiabada-cascão são passados de geração em geração. As crianças crescem ao redor da fornalha, vendo a mãe, o pai ou os avós a descascar a goiaba, separar a polpa da casca, mexer o doce, vender nas barraquinhas. Além de ser uma celebração cultural, é um momento importante para as cerca de 20 famílias associadas comercializarem boa parte de sua produção anual de forma qualificada e organizada” (o doceiro Eduardo Fortes Tijolo, presidente da Adaf, mais conhecido como “Edu Tijolo”).
Edu Tijolo aprendeu sobre a fabricação artesanal com dona Cerma e seu Vicente (foto acima, crédito: Milena Gomes / Divulgação) e, por sua vez, ensinou tudo ao filho Gabriel, que desenvolveu sua própria produção e comercialização da goiabada. Durante a festa, pai e filho são responsáveis pela oficina de doce ao vivo, atividade ao ar livre em que os visitantes podem ver a goiabada sendo feita num tacho colocado na rua principal, podem mexer o doce e degustá-lo ao ficar pronto.
“É uma grande responsabilidade estar à frente dessa festa, pois sabemos de sua importância para o distrito, para a comunidade e para nossos associados. Fazemos tudo com muito carinho, amamos receber as pessoas e contar nossa história, e é uma emoção muito grande poder dividir atualmente com meu filho, Gabriel Tijolinho, uma tarefa que um dia fiz junto ao meu pai, Vicente Tijolo”, comemora Edu.
Vovó Pia
Um bom exemplo do que acontece em relação à tradição do doce nas famílias de São Bartolomeu é a história de Pia Chaves, ou Vovó Pia (foto acima, ao lado de Eduardo Tijolo, crédito: Ane Souz / Divulgação), como é mais conhecida. “Aprendi a fazer a goiabada-cascão com dona Maria, uma das mais antigas doceiras daqui. Naturalmente fui envolvendo meus filhos e netos e hoje conto com quatro deles: um na produção e outro na colheita, e meus netos Raul, excelente no trabalho com o tacho, e Liz, que está começando a fazer parte da equipe”, conta a doceira.
Para Mateus Chaves, filho de Pia, aproximar-se da arte de fazer doce aconteceu de forma muito tranquila, mas foi quando precisou aumentar sua renda familiar que ficou sócio da mãe definitivamente. “Quando éramos pequenos, todos ajudávamos um pouco aqui e ali, e eu fiquei mais presente. Quando constituí família, vi nesse negócio uma excelente oportunidade de renda e ajudei a criar a marca Vovó Pia Sabores Artesanais. Estou aqui há 12 anos como doceiro”, afirma.
Outra família bastante tradicional no feitio da goiabada-cascão de forma artesanal no vilarejo é a do doceiro José Cirilo, mais conhecido como “Zé Roxo”. Em torno dele estão os filhos Carlos, o Baixinho, Ronilda e Ronildo, mais conhecido como “Ziquinho”, a nora Taís, Simone e a cunhada Laura. “O doce é mais do que uma renda familiar. É uma satisfação e um orgulho para todos nós”, diz Cirilo, que produz doces há mais de 25 anos em São Bartolomeu.
Programação
Além da gastronomia, a Festa Cultural da Goiaba tem atrações culturais abertas ao público e totalmente gratuitas. Na sexta-feira, dia 4/4, será realizada a solenidade de abertura, seguida da apresentação da memória dos “Doces em Versos” pelos alunos locais, da Escola Municipal Doutor Washington de Araújo Dias, abertura da exposição “Frutos da Terra”, que tem a curadoria do arquiteto e desenhista ouro-pretano André Perdigão, e exibição de um minidocumentário feito pelas crianças e adolescentes da vila, com produção e direção da jornalista Milena Gomes.
O sábado, dia 5/4, é marcado pela Folia do Boi da Manta expressão cultural da comunidade, e pelas oficinas de culinária. Fechando a programação no domingo, dia 6/4, o Bloco Urucum, da cidade de Itabirito, promete levantar os presentes com muito ritmo e energia. Além de curtir a festa, quem for a São Bartolomeu pode aproveitar para visitar outros atrativos turísticos do local, de cunho religioso e natural:
- Cachoeira Norata ou São Bartolomeu (dentro do Parque Estadual Floresta Uaimií, foto acima, crédito: Lúcia Braga / Divulgação)
- Rio das Velhas (próprio para banho, dentro da vila, próximo ao centro);
- Igreja Nossa Senhora das Mercês (no final da rua do Carmo, tem até mirante);
- Igreja de São Bartolomeu (na rua do Carmo, atualmente fechada para reforma);
- Cachoeira do Macaco Doido (na área rural, em propriedade privada).
Serviço:
O quê: 28ª Festa Cultural da Goiaba
Onde: Rua do Carmo, distrito de São Bartolomeu (Ouro Preto)
Quando: De 4 a 6 de abril
Horário: Sexta-feira, das 18h às 22h | Sábado, das 10h às 22h | Domingo, das 10h às 16h
Informações e programação: acesse Instagram @festadagoiabasaobartolomeu
Como chegar:
De ônibus: Descer na rodoviária de Cachoeira do Campo + transporte alternativo ou táxi.
Programação:
Dia 4/4 (sexta-feira):
18h: Cerimônia de abertura e homenagem aos doceiros / Abertura “Exposição Frutos da Terra” / Entrega da menção honrosa “Doces de São Bartolomeu - Patrimônio Imaterial de Ouro Preto” / Exibição do minidocumentário sobre a produção doceira de São Bartolomeu
19h: Degustação de doces artesanais
20h: “Doces em Versos” com alunos da E. M. Dr. Washington de Araújo Dias
20h30: “Show Grandes Sertões”, Bontempo e André Vitorino
22h: Show Banda De Pai pra Filho
Dia 5/4 (sábado)
10h: Cortejo de abertura com a Folia do Boi da Manta
11h: Oficina de arte "O doce e a Naturez" na escola (todas as idades)
12h: Oficina de doce ao vivo na rua principal, com Gabriel Tijolinho
14h: Oficina culinária para crianças na escola “Biscoito Beliscão de Goiabada”, com as doceiras Pia Chaves e Jozelli
16h: Show Samba com Dendê
18h: Show “Santo de Casa”, com Músicos de São Bartolomeu
20h: Show Trio Capricum
22h: Show Banda Free Birds
Dia 6/4 (domingo)
10h: Cortejo da Folia do Boi da Manta
11h: Oficina de culinária adulto na escola “Goiabada empanada com castanha de caju na cama de Catupiry”, com o chef Ricardo Ribeiro
12h: Oficina de doce ao vivo na rua principal, com Gabriel Tijolinho
12h: Show “O Rei do Forró”, com Raphael Fernandes
14h: Oficina "Cores da Terra" na escola (todas as idades), com Analuz Guerra
14h: Show dupla Jorge e Sizenando
16h: Show Bloco Urucum
Onde se hospedar:
As pousadas do distrito já estão com lotação máxima para a festa, mas no entorno (Cachoeira do Campo, Glaura, Santo Antônio do Leite e Ouro Preto) é possível encontrar vagas. Ainda existem vagas nas casas de temporada.
- Casa Dona Cleia: @casadonacleia / (31) 98763-8695
- Casa do Fafa: (31) 98745-6225
- Sítio Bem Viver: @sitio_bemviver_sb / (31) 99988-7148
- Varanda do Sol: @varandadosol_saobartolomeu / (31) 99531-1420
- Casa Uaimií: @casauaimii - 98607-2720 (Cassius)
- Eco Casa Cachoeira: (31) 98764-8002
- Casa Recanto Pôr do Sol: @pordosol_recanto / (31) 99972-5153 (Sérgio)
- Casarão São Bartô: (31) 98328-5767
- Casa da Ana: (31) 98782-0515
- Casa do Marcinho: (31) 98791-4687 ]
- Casa Mirante: @casa_mirante / (31) 99145-9416
Onde comer:
- Café Uaimií: Pães, bolos, salgados, tortas, sanduíches (rua do Carmo)
- Tropeiro da Adaf (prato feito): Na Casa da Festa (rua do Carmo);
- Feira de comidas típicas: são diversas barracas, entre elas de churrasco, pastel, galinhada, pastel de angu e drinks, entre outras;
- Mercearia São Bartolomeu: Cerveja gelada, porções, salgados e pastéis;
- Sorveteria Garra e Fé: Sorvetes artesanais, sabor de queijo com goiabada, especial para a festa;
- Bar do Nono: Famoso bolinho de bacalhau de São Bartolomeu;
- Dom Bartô: Pratos executivos, porções, caldos e cervejas artesanais (rua do Carmo);
- Restaurante Ouro da Mata: Comida mineira à la carte (rua Extrapichos, 32);
- Casa Pau a Pique: Porções, chope gelado e pratos executivos (rua do Carmo);
- Pizza do Harold: Massa artesanal, somente sob agendamento.