A igreja está cheia de fiéis, e à direita do altar avista-se um grande candelabro em forma de triângulo com 15 velas, o tenebrário. Uma orquestra e um coro executam uma música barroca, um hino de louvor ao Pai. O padre lê o salmo “Prece de um enfermo”. Ao final, apagam-se duas velas nas extremidades do candelabro. A cada salmo, entre cânticos, orações e leituras de pequenos trechos do Evangelho, apaga-se mais uma vela. Ao final, é realizada uma prece em latim: uma única vela continua acesa no tenebrário. Um grande estrondo anuncia a escuridão, os fiéis batem com força os pés no assoalho. O padre convida os fiéis a se envolver pelo mistério, pela beleza do ritual, e entrar na aura do sagrado para adentrar a intimidade do Coração de Jesus e reviver seus sentimentos antes da morte. A vela acesa é levada para a parte de trás do altar para rememorar Cristo na sepultura. Quando as luzes são acesas, o silêncio é sepulcral. A vela retorna ao centro do candelabro, e os fiéis, vagarosos e respeitosos, vão deixando a igreja. A mensagem é clara: Cristo é a luz que nunca se apagou. 

Essa cerimônia, própria de Minas Gerais, está sendo resgatada em diversas cidades nos últimos anos. Chama-se “Ofício das Trevas” e acontece na noite de Quinta para Sexta-Feira Santa e nos dois dias posteriores. Em algumas localidades, pode ser celebrada nas manhãs de quarta, quinta e sexta. Depois do Concílio Vaticano II (1962-1965), o rito começou a ser abandonado em muitas celebrações. Em São João del-Rei, no entanto, essa tradição, que remonta ao período medieval, nunca deixou de ser celebrada. Coube ao padre e compositor José Maria Xavier dar o toque barroco, ao se apropriar dos cantos gregorianos comumente utilizados nos ofícios e compor melodias para os Responsórios. O Ofício das Trevas – ao lado da Procissão do Encontro, do Sermão de Descendimento da Cruz e do Setenário das Dores – são marcas únicas da Semana Santa em Minas, não reproduzidas em nenhuma parte do mundo. E estão devidamente registradas no catálogo “Celebrações e Ritos da Semana Santa em Minas Gerais”, elaborado em 2023 pelo Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha-MG). 

O monsenhor Geraldo na encenação do descendimento da cruz, em São João del-Rei - Foto: Marcos Luan / Divulgação 

 

O padre Geraldo Magela da Silva, pároco da Catedral Basílica de Nossa Senhora da Piedade, em São João del-Rei, resume bem esses rituais: “A Semana Santa é a celebração da Paixão, Morte e Ressureição de Nosso Senhor Jesus Cristo. Começa no Domingo de Ramos, com a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém, dá um salto de três dias e continua com o Tríduo Pascal, o dia mais importante do calendário da Igreja Católica, com a missa da Santa Ceia e Instituição da Eucaristia e do Sacerdócio, quando o pão e o vinho se transformam no corpo e no sangue de Cristo. Ele, então, institui um novo mandamento: ‘Amai-vos uns aos outros, assim como eu vos amei’. É feito o Lava-Pés e realizada a desnudação dos altares. Na Sexta-Feira, ocorre a morte de Jesus, com Adoração da Cruz, Sermão do Descendimento e Procissão do Enterro, com o Canto de Verônica, e o Sermão das Sete Palavras. No sábado, ápice da Semana Santa, é celebrada a Vigília Pascal, a Ressurreição de Cristo. No Domingo de Páscoa, a Igreja Católica celebra, então, a vitória de Cristo sobre o pecado e a morte, tem a Santa Missa e a Procissão do Santíssimo Sacramento”. 

Segundo o monsenhor Geraldo, dois momentos marcam a Semana Santa deste ano. O primeiro é a comemoração do Jubileu, que acontece de 25 em 25 anos, festejando o ano santo com o lema “Peregrinos da Esperança”. “Hoje, esse slogan se traduz em uma mensagem poderosa contra as guerras, os retrocessos e as polarizações, é uma renovação da esperança no mundo”, enfatiza o padre. No caso do Brasil, o segundo momento é a Campanha da Fraternidade, promovida pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), com o tema “Fraternidade e ecologia integral”, convidando os fiéis a cuidar da vida de maneira mais ampla. “Louvado sejas, meu Senhor, pelo irmão vento e pelo ar, e nuvens, e sereno, e todo o tempo, por quem dás às tuas criaturas o sustento (...). / Louvado sejas, meu Senhor, pela nossa irmã, a mãe terra, que nos sustenta e governa, e produz variados frutos, com flores coloridas, e verduras”, lembra o poema “Cânticos das Criaturas”, de são Francisco de Assis, que comemora 800 anos e faz uma ode à natureza, bem atual diante do desequilíbrio climático. “Aos cuidarmos da ecologia, estamos cuidando da vida humana, do planeta”. 

 São João del-Re

 

A Procissão do Encontro, em São João del-Rei, uma das celebrações da Semana Santa na cidade - Foto: Emmanuel Pinheiro / Assessoria de Comunicação / Prefeitura de São João del-Rei / Divulgação

Em São João del-Rei, que tem, ao lado de Ouro Preto e Mariana, uma das celebrações mais tradicionais e icônicas de Minas Gerais, paralelamente às celebrações litúrgicas acontece neste ano a Semana Santa Cultural. Fazem parte da programação as exposições “Mãe Terra: Arte Sacra em São João del-Rei” e “Paixão por Del-Rei”, a exibição do documentário “Semana Santa de São João del-Rei e a Identidade Barroca Mineira”, concertos com o grupo Quarteto Del-Rey e Camerata Inconfidentes no adro da igreja de São Francisco de Assis, Feira da Mineiridade, visita guiada com walking tour pelo centro histórico, oficinas de tapetes de rua e de ovos de chocolate, visitação aos Passinhos com a Orquestra Lira Sanjoanense, cozinha show e show de Chico Lobo. Também haverá Caça aos ovos, palestras e rodas de conversa.

"A Semana Santa Cultural é um presente para São João del-Rei, um momento em que fé, tradição e cultura se entrelaçam para fortalecer nossa identidade e nosso turismo. Nossa cidade já é reconhecida mundialmente por suas celebrações religiosas, e essa programação especial amplia essa experiência, valorizando nosso patrimônio, nossos artistas e nossa religiosidade. É uma forma de reafirmar quem somos, honrar nossa história e oferecer ao público, sejam moradores ou visitantes, uma vivência ainda mais rica e emocionante desse período tão significativo", destaca Caio Andrade, secretário de Cultura e Turismo de São João del-Rei. 

Ouro Preto

Tapetes devocionai em frente à igreja de Nossa Senhora do Rosário, em Ouro Preto, trajeto por onde passa a Procissão do Santíssimo Sacramento - Foto: Rodrigo Câmara / Divulgação

Na terceira edição do Minas Santa – projeto do governo do Estado que busca posicionar Minas como o principal destino turístico no país durante a Semana Santa, muitas cidades retomam antigas tradições ou acrescentam à festividade peculiaridades. Ritos e celebrações ligadas ao cristianismo, como tapetes devocionais, Via-Sacra, encenação da Paixão de Cristo, abertura e visitação do Santo Sepulcro, encomendação das almas, procissões, imposição das cinzas, velamento de imagens sacras, Domingo de Ramos, Ofício das Trevas, Lava-Pés, charolas, queima do Judas e Vigília Pascal, ganham leituras e encenações diferenciadas de cidade para cidade. Em Ouro Preto, um dossiê está sendo elaborado para transformar os belíssimos tapetes de serragem que colorem as ruas em Patrimônio Cultural e Imaterial do Estado. Este ano, a administração municipal enviou mensagens aos artistas ouro-pretanos pedindo para acolher a tradição dos tapetes devocionais, uma tradição que nasceu no século XVIII e se transformou em uma das atrações procuradas pelos turistas. 

No Sábado de Aleluia, a população é convidada, no sábado à noite, a partir das 22h, a ornamentar o trecho em frente à sua casa para a passagem da Procissão do Santíssimo Sacramento, um percurso de 4 km entre a Basílica Matriz de Nossa Senhora do Pilar e a igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos. Neste ano, a organização dos eventos cabe à Paróquia de Nossa Senhora da Conceição de Antônio Dias. Se antigamente as pessoas utilizavam sal grosso tingido para a confecção dos tapetes, hoje são várias as matérias-primas, como borra de café, serragem, farinha de trigo, cipreste, flores e cal, a maioria produtos orgânicos que possam ser reaproveitados. “Como em Ouro Preto os moradores ficam na mesma casa até morrer, daí a importância de ministrar oficinas para perpetuar essa tradição de geração em geração”, conta o artista plástico Rodrigo Câmara, que inaugura no dia 19 o novo ateliê da Casa Câmara – em 2024, ele produziu um tapete em homenagem à artista plástica Yara Tupinambá; neste ano, devido à temática da campanha da fraternidade, prestará um tributo ao paisagista Roberto Burle Marx.  

Mariana

Na Procissão das Almas, as pessoas encapuzadas e vestidas com túnicas brancas carregam velas, caveiras, para celebrar a morte, os atormentados - Foto: Geize Dias / Divulgação

 

Depois de 207 anos (o último registro é de 1818), a vizinha Mariana (@catedraldemariana / @prefmariana) resgata a Procissão do Fogaréu, uma tradição do século XVIII que encena a perseguição a Jesus e sua prisão no Jardim das Oliveiras. Homens e mulheres encapuzados e vestidos com túnicas pretas carregam tochas de fogo. Os trajes representam os que eram usados por soldados romanos conhecidos como “farricocos”, responsáveis pela prisão de Jesus. Ao toque de tambores, o percurso de 500 m tem início às 22h30 da Quinta-Feira Santa na Catedral Basílica de Nossa Senhora da Assunção, faz uma parada em frente à igreja de Nossa Senhora do Carmo, na praça Minas Gerais, para uma meditação, e retorna à catedral. “A gente está fazendo uma releitura da procissão, cujo último registro é de 1818, organizada pela Ordem Terceira de São Francisco. Ela também é chamada de ‘Procissão das Endoenças ou da Misericórdia’. Queremos reunir os penitentes para uma reflexão”, afirma dom Geraldo Dias Buziani, pároco e reitor da Catedral Basílica de Nossa Senhora da Assunção, que promove a festividade em parceria com outras duas paróquias. 

Logo após a Procissão do Fogaréu, acontece a Procissão das Almas, na sexta-feira, à 0h55. "A Procissão das Almas é um movimento artístico, não uma procissão. Enquanto a do Fogaréu representa o martírio de Cristo, a das Almas traz uma característica folclórica e artística no sentido de representar o sofrimento e ressignificação das almas", explica Eduardo Batista, secretário de Patrimônio Cultural e Turismo de Mariana. Elas têm apenas uma diferença estética: a do Fogaréu é uma representação com tochas e vestes pretas, associado ao roxo da paixão, e a a das Almas, com velas e vestes brancas. Algumas pessoas levam caveiras nas mãos e entoam cantos fúnebres, até a própria morte participa da encenação. A Procissão das Almas parou de ser encenada há uns três, quatro anos, e voltou a ser resgatada pelos moradores para celebrar os mortos, os espíritos atormentados. É carregada de lendas, como a que diz que, na hora da procissão, as pessoas sentem frio, um arrepio e um cheiro forte de vela queimada, devendo se trancar em casa e não olhar para fora. Quem espiasse na janela para vê-la passando receberia um "presente das almas" ou seria atormentado para o resto da vida por visões até a sua morte.

O pároco de Mariana ainda aponta outros dois momentos grandiosos na celebração religiosa na cidade. “Eu destaco o descendimento da cruz na praça Minas Gerais, em um cenário tão favorável e belo, com o calvário na igreja de Nossa Senhora do Carmo e os anjos na de São Francisco de Assis. Neste ano, a missa será presidida pelo arcebispo de Diamantina, dom Bosco Oliver de Faria. E a Procissão do Santíssimo Sacramento sairá da igreja de São Pedro dos Clérigos, na parte mais alta da cidade, e descerá até a praça da Sé, percorrendo todo o centro histórico ornado com os tapetes coloridos de serragem”, ressalta o padre. Este ano, a Arquidiocese de Mariana, a primeira criada em Minas Gerais, em 6 de dezembro de 1734, também comemora 280 anos. “Isso é especial porque, como primeira vila, cidade e bispado de Minas, a gente diz que aqui tudo começou”, acrescenta o pároco. Outra novidade é a Semana Santa na Palma da Mão, uma programação impressa com QR Code, que dá acesso à agenda online, ao mapa da cidade e aos locais das principais celebrações, inclusive com imagens dos eventos do ano passado. 

São Thomé das Letras

A imagem do Senhor Bom Jesus dos Passos, de São Tomé das Letras: oito homens para carregar o andor na procissão - Foto: Prefeitura de São Thomé das Letras / Divulgação

A Procissão do Fogaréu também será a novidade este ano em São Thomé das Letras. Na noite de Quinta para Sexta-Feira Santa, por volta da meia-noite, a imagem do Bom Jesus preso será conduzida da igreja matriz de São Tomé para a igreja de Nossa Senhora do Rosário, conhecida como a “igreja de pedra”, depois retornando para a matriz em uma Via-Sacra. Por praticamente 104 anos, uma das cidades mais turísticas e místicas do Sul de Minas ficou sem um padre residente e, consequentemente, a Semana Santa foi perdendo força. As festividades só voltaram em 2019. Os ritos em São Thomé das Letras normalmente se destacam pela riqueza dos cantos e motetos e pela beleza de suas imagens, como a do Senhor dos Passos, a maior em tamanho no Estado, que veio de Portugal no século XVIII e foi doada por Gabriel Francisco Junqueira, o barão de Alfenas. São necessários ao menos oito homens para carregá-la na procissão. Neste ano, além da Procissão do Fogaréu, será retomada a Romaria aos Passos, pequenas construções em pedra do século XVIII – dos 12 existentes no passado, restam apenas cinco, a maioria deles sem imagens. 

Na Semana Santa, a São Thomé das Letras mística – erguida sobre uma imensa rocha de quartzito e envolvida em mistérios e magia – ainda se mistura à católica, do apóstolo de Cristo, de forma desconcertante. “Uma imagem que me marcou muito é que, depois da Missa da Ceia, na Quinta-Feira Santa, os fiéis entram em um profundo silêncio, que contrasta com o barulho da cidade”, conta Edson Pereira de Oliveira, chefe do Departamento de Cultura do município. Segundo ele, apesar de São Thomé ser muito marcada pela questão mística para quem vem de fora, o povo do lugar é muito católico. “São Thomé das Letras é uma cidade turística que recebe pessoas do Brasil e do mundo. Na Semana Santa visitam a cidade cerca de 20 mil pessoas. Durante o feriado prolongado, todos os estabelecimentos, como bares e restaurantes, funcionam normalmente, com sons e shows ao vivo. Nada disso, no entanto, impede a fé do povo, que, mesmo em meio a tanto barulho, consegue manter o espírito de piedade, silêncio e oração”, acrescenta. Este ano, por sinal, São Thomé das Letras também resgata a tradicional queima do Judas. 

Couto de Magalhães

Couto de Magalhães é um bom destino para o turista sentir a atmosfera da Semana Santa em uma típica cidade do interior de Minas - Foto: Prefeitura de Couto de Magalhães / Divulgação 

Ninguém perdoará Judas em São Thomé das Letras e em pelo menos outras centenas de cidades de Minas. Em Couto de Magalhães, no Vale do Jequitinhonha, a 25 minutos de Diamantina, a queima do Judas é feita no formato de uma brincadeira na praça principal da cidade, com guerra de travesseiros, pau de sebo e rua de lazer, finalizando com a queima do boneco de Judas. Para os não católicos fervorosos, Judas Iscariotes foi um dos 12 apóstolos de Cristo e, segundo o Evangelho, traiu e entregou Jesus aos soldados romanos por 30 moedas de prata. Nasceu assim a tradição popular de surrar um boneco de serragem e o queimar em praça pública na Semana Santa. “A gente monta o boneco com palha e coloca bombas nos buracos. Fazemos uma contagem regressiva, e ele explode e vai queimando, enquanto se faz a leitura de seu testamento”, conta Wellerson Rodrigues do Nascimento. Ele destaca que essa vivência espiritual em uma cidade de apenas 4.000 habitantes é diferente, porque acaba se transformando em um refúgio de fé. “É a melhor maneira de se viver e ter uma ideia dessa religiosidade de Minas”, salienta. 

A Guarda Romana está presente em Diamantina e em seus dez distritos - Foto: Prefeitura Municipal de Diamantina / Divulgação

Diamantina vive uma tradição de mais de cem anos: a Guarda Romana, Patrimônio Cultural do município que encena os passos e a Paixão de Cristo. Usando escudos e alabardas, mais de 80 homens saem pelas ruas do centro histórico marchando lentamente em procissão. Ao caminhar, os fiéis batem fortemente os pés e as alabardas, provocando um curioso efeito. “Geralmente, os integrantes da Guarda Romana estão ali pagando uma promessa por uma graça alcançada. São geralmente homens que não se apresentam em outros momentos do ano, têm compromisso específico com a guarda. Nossa Guarda Romana tem a especificidade de ter toda uma representação da guarda romana, com todas as hierarquias, acompanhando o calvário, a crucificação, todos os momentos. Ela tem ainda uma particularidade: faz uma evolução, uma marcha sobre uma composição de Lobo de Mesquita, músico do século XVIII. A batida dessa composição já era executada pela centenária Banda de Música da Polícia Militar”, explica Alberis Mafra, secretário de Cultura de Diamantina. 

Baependi e Santa Bárbara

O Quadro Vivo completa 50 anos de apresentação do espetáculo “Paixão e Morte de Cristo” - Foto: Associação Dramática de Baependi – Quadro Vivo / Divulgação

 

Nas celebrações em Minas, grupos também encenam a Paixão de Cristo em diversas cidades. Os destaques deste ano são Santa Bárbara, a 98 km de Belo Horizonte, e Baependi, no Sul de Minas. Em Baependi, o projeto Quadro Vivo completa 50 anos de apresentação do espetáculo “Paixão e Morte de Cristo”. A encenação, que ocorria em diversos pontos da cidade, está agora restrita a dois locais – a igrejas do Rosário e da Boa Morte. Criada na Escola Estadual Nossa Senhora de Montserrat em 1961 e retomada em 1975, a Paixão de Baependi é encenada na Quinta-Feira Santa como um percurso entre as duas igrejas. Segundo o diretor da encenação e presidente da Associação Dramática de Baependi – Quadro Vivo, Manuel Viotti, professor de matemática apaixonado pela história bíblica e que está à frente do grupo desde 1976, esse é um teatro a céu aberto, em que o povo pode caminhar com prazer e acompanhar as oito cenas do espetáculo. “Todos os 50 atores são amadores, mas já chegamos a 200 pessoas em cena”, conta. Entre os quadros encenados estão Tentação de Cristo, Crucificação e Ressurreição. Para comemorar o aniversário, o Quadro Vivo terá apresentação especial no dia 2 de abril, em frente ao Palácio da Liberdade, em Belo Horizonte, com encenação dos quadros Tentação de Cristo, Última Ceia, Caifás, Herodes e Pilatos. 

Em Santa Bárbara, o Âncora Companhia de Teatro também completa cinco décadas de encenações bíblicas na Semana Santa. O grupo, que surgiu em 1975 pelas mãos de Raymundo Natalino Pires, foi montado para fazer encenações bíblicas na Semana Santa. Ao longo dos anos, ganhou outros nomes, como Comissão de Encenações Bíblicas e Gramophone, antes da denominação atual. A profissionalização veio em 1999, com o convite a diretores como Fernando Limoeiro, Paulo Thielmann e Ênio Reis, este último comandando o grupo desde 2024. Nos 50 anos, Reis – conhecido por peças de sucesso como “Pérolas do Tejo” e Como Sobreviver em Festas e Recepções com Buffet Escasso” – desenvolve o Projeto do Teatro Histórico e Religioso para profissionalização das artes cênicas na região de Entre Serras: da Piedade ao Caraça. O diretor reclama das dificuldades crescentes de mobilizar a comunidade para manter a tradição. “Muitas cidades, como Barão de Cocais e Catas Altas, interromperam suas encenações”, lembra. 

A Última Ceia no espetáculo "Passos da Agonia", da Âncora Companhia de Teatro, que completa 50 anos em 2025 - Foto: Portela Fotografias / Divulgação

Neste ano, o espetáculo “Os Passos da Agonia” presta uma homenagem ao ator mais antigo da encenação, Sílvio Lorenzato, 71, no papel de Barrabás, e ao antigo pároco, o padre João, responsável por autorizar as encenações bíblicas na cidade. Antes da pandemia, o grupo dividia a encenação durante três dias no centro histórico, mas desde a Covid-19 o espetáculo passou a ser encenado apenas na Sexta-Feira da Paixão e transferido para o Ginásio Poliesportivo Central da cidade. “O grupo é constituído por atores amadores, pessoas da comunidade que abraçam o teatro e repassam essa paixão de geração em geração. É comum ver irmãos, pais e filhos, avós e netos participando do espetáculo. Um dos atores começou ainda adolescente e agora vai ter a oportunidade de interpretar Cristo. Neste ano, uma criança de 4 anos, neto de um membro do grupo, vai entrar em cena como anjo. Perpetuar gerações significa permanecer por mais 50 anos”, salienta Reis. Este ano, o Âncora abre oficialmente, no dia 5, a Semana Santa no distrito de Conceição do Rio Acima e, no Sábado de Aleluia, leva a encenação para o Santuário do Caraça.

Servico:

Baependi: acesse Circuito das Águas
Couto de Magalhães: Instagram / @coutodemagalhaes
Mariana: acesse Diocese de Mariana e Instagram / @catedraldemariana
Ouro Preto: Instagram / @eventos_ouropreto - @tur_ouropreto - @prefeituraouropreto - @paroquiaconceicaoop
Santa Bárbara: acesse Prefeitura de Santa Bárbara ou Istagram / @ancoraciadeteatrosantabarbara
São João del-Rei: Instagram / @sjdr.prefeitura / @sdrj.cultura ou acesse Diocese de São João del-Rei 
São Thomé das Letras: acesse o pdf Programação da Semana Santa