O Pantanal está em alta. Na TV, com a exibição da nova versão da novela; em Campo Grande (MS), com o bioparque. Em 22 de abril, o Bioparque Pantanal abriu o agendamento à visitação para escolas e instituições e, desde o dia 2, para o público. O maior aquário de água doce do mundo, inaugurado em 2 de abril deste ano, demorou 11 anos para ser concluído, contém 5 milhões de litros de água e custou cerca de R$ 230 milhões. 
 
Um bioparque é um lugar voltado para o bem-estar dos animais, que desenvolve projetos de pesquisa para a conservação das espécies e tem como foco a educação ambiental dos visitantes. Nesse sentido, o Bioparque Pantanal leva a definição à risca. “Nosso aquário não se restringe à visitação. Temos identidade própria, fazemos trabalhos de reeducação ambiental e pesquisa científica”, afirma Maria Fernanda Balestieri, diretora geral do espaço.  
 
O trabalho é tão sério que agrega 16 profissionais, entre biólogos, veterinários, zootécnicos, engenheiros de aquicultura, cenógrafos e químicos. Entre eles está o biólogo Heriberto Gimenez Júnior, um dos responsáveis por acompanhar a desova, a eclosão e o desenvolvimento larval dos peixes até a fase adulta. “Fazemos todo o acompanhamento e cuidamos do bem-estar do plantel. Não se trata apenas de tanques de contemplação”, enfatiza o biólogo. 
 
O Bioparque Pantanal tem 19 mil m² de área construída, 31 tanques, sendo 23 internos e 8 externos.

 

Cenografia

O Bioparque Pantanal é um circuito de 31 tanques que contam uma história, passando pelas veredas, pelas nascentes de cabeceiras, pelas planícies de inundação, até chegar à bacia do rio Paraguai, que é formada por 15 rios. O projeto dos tanques é do ambientalista, artista plástico e cenógrafo, que também se autodefine “autodidata”, Roberto Gallo, responsável também pela ambientação do AcquaRio (RJ) e do Oceanic Aquarim, de Balneário Camboriú (SC). 
 
“Quis trazer o Pantanal para dentro da cidade”, resume Gallo, que reproduziu cenograficamente os habitats da região, como a serra da Bodoquena, com suas rochas calcárias, os rios de Bonito e as planícies alagadas, com fauna e flora bem típicas. A arquitetura arrojada do prédio, concebida por Ruy Ohtake, famoso por obras icônicas que incorporam formas geométricas definidas e linhas arredondadas, também ajuda muito.

 

Lagoa Misteriosa 

Cenários como a Lagoa Misteriosa fazem interação entre meio ambiente e arquitetura. De dentro do auditório pode-se visualizar o aquário projetado no teto, como se os peixes estivessem flutuando sobre a cabeça das pessoas. Paredes de rocha e o azul profundo das águas reproduzem as cavernas alagadas, enquanto tanques nos jardins externos remetem às baías pantaneiras e regiões alagadiças com suas plantas aquáticas e até uma cachoeira. 
 
O maior tanque do aquário, Neotrópico – e final do circuito –, representa uma floresta inundada da Amazônia, com seus igapós e igarapés. A ambientação foi planejada para transmitir a sensação de amplitude a partir da perspectiva de um fundo infinito, com troncos de árvores gigantescas, como a samaúma, a castanheira e o buriti, cipós e plantas submersas. “Meu objetivo como artista plástico é emocionar as pessoas”, enfatiza Gallo. 

 

Estrelas

Mas as grandes estrelas do bioparque pantaneiro são os peixes de 220 espécies, de todos os tamanhos, cores e formatos, dos mais comuns, como pacu, bagre, dourado, sardinha, piraputanga, cascudo e lambari, aos endêmicos e ameaçados de extinção, como cascudo-viola e lambari-cego-das-cavernas. Entre as espécies novas descobertas está o tetra-de-cauda-vermelha, uma das três reproduzidas (e pela primeira vez) dentro de um bioparque. 
 
O povoamento dos tanques está apenas no começo e demorará mais quatro ou cinco meses para ser finalizado, pontua Heriberto Júnior. “Construímos um espaço que não existe em nenhum outro lugar do mundo”, destaca. Do plantel, algumas espécies foram capturadas para garantir sua preservação, outras nasceram no laboratório de ictiologia do Instituto de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul (Imasul) e outras, ainda, adquiridas de fornecedores. 
 
Os tanques abrigam 220 espécies de peixes, sendo 135 pantaneiras, 55 da Amazônia, 14 africanas e outras da América Central, Ásia e Oceania.

 

Curiosidades

Para as crianças, está a curiosidade de poder ver de perto um jacaré-de-papo-amarelo, as temíveis piranhas, que ora ou outra devoram um vilão da natureza na novela “Pantanal”, o peixe-elétrico ituí-cavalo e outros de nomes fofinhos, como chum-chum, lobinho, porquinho, noivinha, joaninha, enfermeirinha e arco-íris, revelando o Pantanal como um ambiente bem exclusivo. “A ideia é apresentar o peixe e o ambiente em que ele vive”, enfatiza o biólogo. 
 
O volume de água dos tanques varia de 35 mil litros a 350 mil litros. O Pantanal também é revelado em ambientações no período da cheia e da seca. No circuito, há ainda tanques contemplando os cinco continentes – África, Américas, Ásia, Europa e Oceania, representando, respectivamente, o lago Tanganyika, uma floresta tropical submersa, uma floresta boreal, os rios europeus e a região de Alice Springs, ao norte da Austrália. 
 
Roberto Gallo conta que a referência para as cenografias é o American Museum of Natural History  (Museu de História Natural), um ícone turístico nova-iorquino, que ocupa quatro quadras em frente ao Central Park e encanta até aqueles turistas que detestam museus. Gallo propõe uma imersão na paisagem, com suas plantas, flores, rochas, troncos, raízes, cipós e espécies aquáticas, muitos deles verdadeiros refúgios para peixes e répteis.

 

Museu da Biodiversidade 

O circuito dos tanques, por sinal, começa no Museu da Biodiversidade, um espaço dedicado a exposições sobre temas ligados ao meio ambiente. A primeira mostra itinerante é de fósseis da chapada do Araripe, região localizada entre os Estados do Ceará, Paraíba, Pernambuco e Piauí, um dos dez sítios paleontológicos mais importantes do mundo, principalmente do período Cretáceo.
 
A exposição traz fósseis de peixes, plantas e insetos, além de fragmentos de animais coletados por pescadores. No espaço, os visitantes ainda podem contemplar uma mostra de réplicas da megafauna, que existiu no Brasil em uma época que não havia muito oxigênio na atmosfera, o que possibilitava animais em tamanhos maiores. Duas peças em especial chamam a atenção: um casco de um ancestral do tatu, o Gliptodonte, e um fóssil de uma preguiça-gigante, que chegava a medir três metros de comprimento. Vestígios do fêmur e das costelas de uma preguiça-gigante também já foram encontrados na serra da Bodoquena.
 
Até sábado (7/5), cerca de 3.300 pessoas visitaram o aquário sul mato-grossense – a capacidade diária de público aumentou de 300 para 600 pessoas. Os ingressos são gratuitos no site do bioparque até o final deste ano, mas é necessário agendamento prévio, individual ou em grupo, pelo site oficial. Depois de realizado o cadastro, é emitido um voucher com dia e horário da visita. A visitação é de, aproximadamente, uma hora e meia. 
 
Serviço: 
 
O que: Bioparque Pantanal 
 
Onde: Campo Grande (MS) 
 
Endereço: Avenida Afonso Pena, 6.277, Chácara Cachoeira, Campo Grande (MS)
 
Informações: Bioparque Pantanal.
 
Ingressos: Sob agendamento no site Bioparque Pantanal.
 
Visitação: Terças e quintas-feiras, das 9h às 11h30 e das 14h às 15h30, e aos sábados, das 9h às 12h.