Manhã de sábado, centro da cidade. Duas meninas brincam com um dócil cachorro de rua, observadas de perto por Chico, galo criado solto. Ao lado, duas mulheres servem um típico café dos seus ancestrais, enquanto guias turísticos jogam conversa fora com visitantes.
A pacata rotina de Cavalcante só costuma ser quebrada nos fins de semana e nos feriados prolongados, por causa do vai e vem de carros de tração 4x4 com turistas a caminho de rios e cachoeiras. A cidade do norte de Goiás, a pouco mais de 500 km de Goiânia e 310 km de Brasília, está na região da Chapada dos Veadeiros.
Menos conhecida e populosa do que Alto Paraíso, que fica mais perto da capital federal (são 240km de distância) e tem o único acesso para turistas ao Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, Cavalcante, com seus 10 mil habitantes, conserva melhor a cultura e os costumes dos povos tradicionais da região.
Também oferece uma natureza mais intacta, com tantos ou mais atrativos do que a vizinha. Além de ser cruzada por dois grandes rios, o Almas e o Paranã, Cavalcante tem ao menos 30 cachoeiras abertas à visitação e muitas outras de acesso restrito ou ainda completamente inexploradas. Quase todas são cercadas de mata nativa.
Campeã das selfies
Entre elas está a Santa Bárbara, uma das principais atrações da chapada dos Veadeiros. Gente do mundo inteiro pega estrada e encara trilhas para mergulhar em suas águas com intensos tons de azul e verde-claro ou mesmo só para fazer uma selfie no cenário paradisíaco.
A cachoeira está longe de ser a maior da região. Tem meros 30 m, mas a beleza do poço que cerca a queda d’água faz jus à fama. Não há quem segure a emoção diante do impacto ao se deparar com a transparência da água da Santa Bárbara pela primeira vez, em meio à mata fechada.
Aliás, poucos metros antes da Santa Bárbara, há a Santa Barbarinha, uma “mini Santa Bárbara”, ou “filha” da cachoeira famosa, como dizem os guias locais. Ela dá uma noção do que está por vir, com um pequeno poço com água em tons semelhantes, mas queda d’água bem menor.
Importante ressaltar que as duas cachoeiras recebem mais luz no verão, o que deixa os poços mais iluminados. No período chuvoso, a água pode ficar turva. Já o inverno, que coincide com o período de longa estiagem, é o melhor período para as imagens, pois é quando a água fica mais transparente, mesmo com menos luz.
Imersão na cultura Kalunga
A visita à Santa Bárbara, que desde o início da pandemia exige agendamento, traz o bônus da experiência do contato com os Kalungas que moram no Engenho II, a comunidade quilombola mais perto de Cavalcante, a porta de entrada para a cachoeira. O acesso ao atrativo é controlado pela associação comunitária.
Além da Santa Bárbara, de lá também é possível visitar as vizinhas Capivara e Candaru, com quedas d’água maiores e mais volumosas e não menos belas. Mas só se chega a todas elas na companhia de guias e em veículos 4x4. Se não tem um, não é problema.
A taxa para visitação às lanchonetes inclui o transporte em uma caminhonete da sede do Engenho II até um ponto de encontro. No caso da Santa Bárbara, é preciso caminhar de 30 a 40 minutos até a queda d’água. As outras duas exigem preparo e uma certa habilidade para andar sobre pedras.
O preço é fixo e varia conforme o número de cachoeiras no roteiro do dia. O serviço é bem organizado, e o ambiente na comunidade, extremamente simples, é sempre limpo e seguro. No centro de atendimento aos turistas há banheiros, lanchonetes, restaurantes e uma lojinha com produtos feitos pelos Kalungas.
Em construções rústicas, os restaurantes oferecem comida Kalunga em forma de bufê. Além de arroz e feijão, eles geralmente são acompanhados de verduras, legumes e mandioca (frita e cozida) plantados na comunidade, carne de porco e algum peixe da região. Tudo feito e servido em fogões a lenha.
Visitação noturna
Pela primeira vez, o Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros pode ser visitado durante a noite. A novidade teve início em 31 de março. Desde então, de quinta a sábado, turistas podem fazer trilha e até passar a madrugada na maior reserva de Cerrado, por meio de visitas agendadas.
Dessa forma, sem serem castigados pelo sol, os trilheiros podem contemplar o céu estrelado – em dias sem chuva –, a flora e a fauna da região. É maior a possibilidade de se deparar com animais como anta, lobo-guará e até onça, que têm hábitos noturnos.
No entanto, é necessário seguir algumas regras. A primeira é estar acompanhado por guias credenciados. Também não pode acampar. A ideia é que o visitante possa vivenciar a noite, a madrugada e o amanhecer nas trilhas do parque, com as normas aplicadas em visitas durante o dia.
Não é recomendado o banho de rio durante a visitação, mas não é algo proibido, pois parte do trajeto poderá ocorrer durante o dia, com entrada a partir das 20h e retorno obrigatório até as 18h do dia seguinte.
Serviço
Como chegar
Cavalcante: Há diversos voos direto de BH para Brasília. As agências de Cavalcante oferecem traslado até a cidade. Outra opção é alugar carro na capital do país e pegar a BR–020 e, na altura de Planaltina de Goiás, a GO–118. Os 310 km são percorridos em estradas bem-conservadas, em meio à paisagem da chapada dos Veadeiros.
Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros
O acesso só é permitido a partir da Vila de São Jorge, em Alto Paraíso de Goiás (GO), onde fica a sede do parque. Ingressos à venda no site da
SociParques, a administradora da reserva. Mais informações pelo (62( 99642-9828 (via WhatsApp) ou
contato@sociparques.com.br.
Guias
Cobram, em média, R$ 150 a diária para grupo de até 6 pessoas.
Onde ficar
Lápis Lazulli: Chácara em meio à área de mata nativa com quartos em esquema de aluguel para temporada. Suítes com minicopa bem equipada.
Pousada Aruana: No meio do Cerrado, tem jardim e lounge compartilhado, bem como um restaurante. Quartos grandes e confortáveis.
Pousada Caiana: Chalés aconchegantes feitos de adobe e palha de pindoba. Instalações com propósito ecológico e sustentável.
Pousada Morro Encantado: Vista para serra, contato com a natureza, piscina de água corrente e sauna (estes dois são raros nas acomodações locais).
Tapuio Park Hotel: Para quem faz questão de um típico hotel, mas em meio à natureza, com vista para montanha.
Terra Gaia: Uma das mais modernas e sofisticadas opções. Chalés com deque e ofurô rústico de pedra (água aquecida). Piscina sem uso de produto químico.
Onde beber
Cervejaria Aracê: Casal chileno recebe em sua casa, na área rural, mas perto da cidade, quem deseja experimentar ou levar cervejas fabricadas por eles na propriedade (chopp a R$ 12). A estrela é feita do baru (R$ 23 a garrafa de 500 mL). Facebook / Cervejaria Artesanal Aracê e Instagram / @cervejaria_arace
CVC: Não é para ficar, mas para pegar e levar. Melhor lugar para comprar a bebida que quiser, inclusive cervejas importadas e artesanais. Também oferece vinhos de boa qualidade, além de carnes nobres, prontas para churrasco.
Onde comer
Café com Delícias: Oferece quitutes da culinária local, feitos na hora, como as tapiocas com os mais diversos recheios (berinjela, tomate, queijo, frango; a partir de R$ 9). Ainda há combos, ideais para quem vai fazer trilhas. Instagram / @cafecomdeliciasveadeiros
Flor de Café: Ótimo destino para o lanche da tarde. Café expresso, sucos naturais, milkshakes, sobremesas deliciosas, bolos e iguarias da região. Funciona no centro de artesanato, melhor lugar para adquirir lembrancinhas. Facebook / Flor de Café
Encanto da Pizza: Ambiente aconchegante e pizzas de massa fina com ingredientes frescos. Sabores tradicionais e pouco convencionais, como berinjela agridoce e pequi com champignon. A partir de R$ 45 (tamanho médio). Instagram / @encantodapizza
Flor do Cerrado: Comida caseira, muito bem temperada, pratos fartos e baratos. Melhores peixes e carnes bovinas da região. Excelente feijoada. Em frente à principal praça da cidade. Facebook / Flor do Cerrado Bar e Café
Lamirah: Legítima e muito bem-feita comida árabe. Cardápio variado e com opções veganas. Atendimento de primeira, ambiente tranquilo, preço honesto. Ótimo para reunir amigos.
Restaurante Cavalcante: Opção para quem tem pressa ou não quer gastar muito. Melhor self-service da cidade, com ingredientes frescos. Pratos tipicamente goianos, como arroz com pequi e frango ao molho.
Esportes de aventura
Zaltana Ecoturismo: Passeios de caiaque e boia-cross pelos rios da região, além de trilhas e outras atividades. Instagram / @zaltanaecoturismo , Facebook / Zaltana Ecoturismo