Um gigante brasileiro de 1.200 km e 2,5 bilhões de anos de idade. Essa é a Cordilheira do Espinhaço — uma cadeia de montanhas e vales que une Xique-Xique, no sertão da Bahia, a Ouro Branco, no Quadrilátero Ferrífero — e que agora pode ganhar o status de destino turístico.
A serra do Espinhaço, considerada a única cordilheira do país e reconhecida pela Unesco como Reserva Mundial da Biosfera, abrange 179 municípios. O projeto deve beneficiar inicialmente cinco cidades do Norte de Minas e do Vale do Jequitinhonha: Grão-Mogol, Itacambira, Caçaratiba (distrito de Turmalina), Cristália e Botumirim.
Potencial turístico
O projeto “Cordilheira do Espinhaço” será focado no ecoturismo e turismo de aventura e pretende ser uma referência nacional entre os destinos de turismo de natureza. A expectativa é transformar uma região de biodiversidade, hoje acanhada no turismo, em um local de potencial turístico.
A iniciativa envolve a Secretaria de Estado de Cultura e Turismo (Secult-MG), Sebrae Minas, Associação Brasileira das Empresas de Ecoturismo e Turismo de Aventura (Abeta), Comitê Gestor da Reserva da Bisofera, prefeituras municipais e empreendedores locais, como as empresas de turismo de aventura.
Capacitação
Para Marcelo de Souza e Silva, presidente do Sebrae Minas, a proposta é envolver e apoiar associações, empresas de ecoturismo e empreendedores locais para gerar desenvolvimento econômico e criar um ambiente de negócios saudável para geração de emprego e renda para os locais.
O programa Check-in Turismo vai à região para capacitar as lideranças, qualificar os equipamentos, como restaurantes, meios de hospadagem e receptivos, e fortalecer a governança. O Sebrae, informa Silva, inclusive ajuda no direcionamento turístico. "Temos nas mãos um bom produto", enfatiza.
Entre o Cerrado e Mata Atlântica
"Patrimônio Mundial pela Unesco, a Cordilherira do Espinhaço desponta no cenário nacional como uma imensa potência montanhosa e de transição entre o Cerrado e a Mata Atlântica. São paisagens belíssimas em um bioma único e ainda com centenas de cachoeiras e trilhas, um espaço perfeito para a prática do contato com a natureza", afirma o secretário de Estado de Cultura e Turismo, Leônidas Oliveira.
Para o gestor da pasta de cultura e turismo, o ecoturismo está despontando no mundo como um elemento fundamental e transversal, especialmente na questão climática. "O ecoturismo é experiência com a natureza, e no Espinhaço essa experiência tem um gosto especial, porque carrega uma biodersidade única e atravessa quase todo o Estado", ressalta.
Toda essa riqueza natural pode ser conhecida no livro "Biodiversidade no Espinhaço Meridional — Biomas e Áreas Protegidas", lançado em 2021 pela Anglo American, em parceria com a Nitro Histórias Visuais e Agroflor Engenharia e Meio Ambiente. A obra celebra a preservação de 16 mil hectares de Mata Atlântica, onde a empresa opera o empreendimento Minas-Rio.
Abeta Conecta
Um dos principais articuladores do turismo na região é o secretário municipal de Turismo de Grão Mogol, Ítalo Mendes Oliveira. No ano passado, o município do Norte de Minas sediou o Abeta Conecta, em parceria com a Abeta, o maior evento regional de turismo de natureza e aventura, que reuniu participantes de 27 municípios para discutir uma agenda de estruturação do turismo de aventura.
"Discutimos sistemas de gestão de segurança, capacitação de guias e condutores, preparação e qualificação dos agentes locais e estratégias de promoção e comunicação dos destinos. Trouxemos para o território o que há de mais atual e inovador sobre gestão de turismo para poder replicar essas experiências e criar um produto de qualidade nacional", informa Oliveira.
Rolinha-do-planalto
Segundo ele, a área compreendida entre os cinco municípios, tem potencial inegável para o turismo de aventura e ecoturismo, com destaque para o cicloturismo. "Temos recebido gente de todas as regiões do Estado para pedalar, para fazer trekking e para observação de aves", conta. O destaque no "birdwatching" é a rolinha-do-planalto, hoje uma das dez aves mais raras do mundo, que conta com área de preservação em Botumirim. Nos últimos anos, turistas de 35 países visitaram a região por causa do pássaro.
Há ainda em toda região as construções históricas nos municípios de Grão-Mogol e Itacambira, a rota de enoturismo em Grão-Mogol, muitta cultura e artesanato diferenciado. "A região só começou a se estruturar nos últimos dois anos. Queremos nos apresentar a partir de agora como um destino turístico integrado", enfatiza Oliveira.
Profissionalização
Luiz Del Vigna, diretor executivo da Abeta, é um dos que elogiam a atuação de Oliveira. "Ficamos impressionados com o trabalho empreendedor que o Ítalo desenvolve no território. Ele tem a gestão pública no turismo", enfatiza. A Abeta, de acordo com Del Vigna, pode contribuir com diversas demandas, como capacitação. para profissionalizar o turismo na região.
Com operação em ecoturismo há mais de 20 anos, Ricardo Menezes Chaves, da Espinhaço Operadora de Turismo, acredita que o ecoturismo é só chamariz para os turistas visitarem essa porção do Espinhaço e aprofundarem no artesanato, na história, na cultura e na gastronomia. Ele entende que a região ainda está engatinhando no ecoturismo, mas já planeja desenvolver roteiros com parceiros locais nos próximos meses.
Presente ao evento no Sebrae Minas, Poliana Caldeira, gestora do Circuito Turístico Lago de Irapé, em Turmalina, a Cordilheira do Espinhaço é o elemento comum entre os municípios e pode, em futuro próximo, ser tão conhecida quanto a Chapada dos Veadeiros. Hoje, Turmalina tem apenas um receptivo de ecoturismo. Agências da capital mineira oferecem o roteiro "Do Barro à Arte", que traz para o visitante a experiência do turismo de base comunitária.