Em 2015, o jornal britânico “The Guardian” selecionou as dez viagens de trem mais incríveis do mundo e incluiu o da Serra Verde Express, no Brasil. Seis anos antes, em 2009, eu já havia realizado o trajeto que liga Curitiba a Morretes e posso confirmar que é surpreendente, espetacular.
Atravessar a Mata Atlântica preservada da Serra do Mar paranaense, ultrapassando 13 túneis e 30 pontes, é inspirador e ativa a adrenalina, assim como o momento em que a composição margeia o abismo no viaduto do Carvalho (foto acima), onde o passageiro tem a sensação de estar voando sobre trilhos.
A viagem
A viagem pela Serra Verde Express começa morna na área urbana de Curitiba, a 15 km/h, e só engrena a partir do túnel 13, quando uma série de surpresas se enfileira diante dos olhos dos passageiros: a estação do Banhado, as ruínas da Roda d’Água e a Casa do Ipiranga, tudo cercado, é claro, pela exuberância da Mata Atlântica.
Pelo caminho, o rio Piranga se alinha à ferrovia. A primeira parada é para priorizar a passagem do trem de carga. Quando os trilhos atingem os 900 metros de altura, surge o cânion do Piranga. Minutos depois, a adrenalina retorna com a travessia da ponte de São João, uma fantástica estrutura de aço com 113 metros de comprimento.
A ferrovia Curitiba-Paranaguá foi construída entre 1880 e1885, inaugurada por dom Pedro II tempos depois, e é considerada um marco da engenharia brasileira, conta a guia a bordo. Mas ela só passou a ser um produto turístico a partir de 1997. O trem percorre esses percursos de 70 km a, no máximo, 35 km/h.
Na época, a composição em que viajava ainda fazia uma parada no Santuário Nossa Senhora do Cadeado, que fica em cima de um paredão. O templo foi inaugurado em 1965 para comemorar os 80 anos da ferrovia. Situado entre as estações do Véu da Noiva e Marumbi, o local permite uma vista do pico do Marumbi (foto acima), ao sul, e da baía de Paranaguá, a leste.
A estrutura
Quinze anos após minha viagem, o percurso não mudou, mas a estrutura é outra. A Serra Verde Express – empresa responsável por operar o trajeto há 27 anos – criou novas classes para tornar a experiência do viajante mais prazerosa e confortável. Além das categorias turística e econômica, há os vagões temáticos. Já a Litorina, o tradicional vagão de luxo, tem as categorias Foz do Iguaçu, Copacabana e Curitiba (foto acima).
Os mais recentes, os vagões Boutique, têm decorações temáticas e homenageiam personalidades, como Ildefonso Pereira Correia, o barão do Serro Azul, abolicionista e maior exportador de erva-mate do mundo entre 1870 e 1890, e a atleta paraolímpica Carmen Silva (foto acima), com carro adaptado para pessoas com deficiência. Em 2004, ela bateu o recorde sul-americano no arremesso de disco.
Os novos vagões – entre eles, ainda, o Imperial, com decoração dos anos 1930, o pet friendly Bove (foto acima), um tributo ao cirurgião veterinário Sylvio Bove, e o Guardiões do Marumbi, referência à cadeia de montanhas oque a composição atravessa e aos montanhistas que ajudaram a promover a região – oferecem café completo e open bar, janelões ou varandas privativas, ar-condicionado e guias bilíngues.
Com preços mais em conta, as classes turística e econômica representam o maior número de vagões (20), tendo respectivamente cem e 80 lugares, com janelas grandes e poltronas estofadas. Dependendo da classe, os preços variam de R$ 49 a R$ 400.
Os destinos
Recentemente, a Serra Verde Express ampliou a área de atuação e assumiu a administração de uma pousada em Morretes. A Casario 1915 é localizada no centro histórico e possui 15 suítes, das quais 13 com vista para o jardim e duas masters, com varanda privativa e vista para o centro histórico. Localizada em um prédio tombado, ela une, como proposta, conforto e modernidade em um ambiente vintage.
A maioria das pessoas que descem do trem em Morretes faz bate e volta, mas são recomendadas ao menos duas noites na cidade colonial. Datada de 1733 e cortada pelo rio Nhundiaquara, Morretes é uma “Paraty paranaense”, com seus casarios coloniais preservados.
No Hisgeopar, pode-se conhecer a história do Paraná por meio de uma grande maquete e miniaturas de bonecos, florestas, rios e engenhos, e das Sete Complexas, complexo de cachoeiras que desapareceu com o lago de Itaipu. A cidade também é ponto de partida para as trilhas no Parque Estadual do Marumbi e para a prática do “boia-cross”.
Em Morretes, você deve degustar o barreado. Herança portuguesa e reconhecido com Indicação Geográfica (IG) pelo Instituto Nacional de Propriedade Industrial (Inpi), o prato típico local é a carne bovina cozida por oito horas em panela de barro fechada com goma de farinha de mandioca. Após o cozimento, a carne desmanchando é servida com farinha de mandioca branca e banana.
A 15 km de Morretes, Antonina é uma pacata cidade colonial à beira da baía homônima. Chega-se à localidade pela Estrada da Graciosa. Na cidade, recomenda-se visitar a Prainha e o complexo ecológico do Bairro Alto, e, caso o visitante estenda a permanência, pode percorrer a trilha até o pico do Paraná, com 1.962 m de altitude.
Mais trem à vista? Sim, dependendo da disposição do visitante, o retorno pode ser feito pelo Trem Caiçara, a maria-fumaça mais antiga em funcionamento no país, passando por pontes, chácaras e manguezais. A locomotiva tem duas saídas nos fins de semana, às 14h e 16h.
Pacotes
Para as viagens nos vagões, pacotes também foram formatados para ampliar a experiência do passageiro. Segundo Adonai Aires de Arruda Filho, gerente geral da Serra Verde Express, os pacotes podem ser combinados com aéreo, hospedagem e city tour em Curitiba.
A operadora BWT, do grupo Serra Verde Express, oferece ainda a descida em van pela Estrada da Graciosa, construída em 1873 sobre uma antiga rota de tropeiros, e retorno de trem para assistir ao pôr do sol, com parada para city tour em Morretes e Antonina e almoço para degustar o barreado.
O trem também diminui os dias de circulação dependendo do período do ano. Pelo menos uma vez ao mês, há o Expresso Classique: os passageiros são recepcionados antes do embarque na plataforma de estação com um jantar e ambientação dos anos 1930. Há, também, pacotes especiais em épocas específicas, como o Dia dos Namorados.
Dependendo da época da viagem, recomenda-se levar agasalho: a temperatura pode atingir 10°C na serra. Os preços dos bilhetes e pacotes também variam conforme a temporada – a alta estação é de dezembro a fevereiro e em julho; a média, de outubro a novembro; e a baixa, nos meses restantes do ano.
Serviço
Trem Curitiba-Morretes, da Serra Verde Express
Categorias de vagões
Turística ou econômica: os vagões da classe turística possuem poltronas duplas e estofadas, janelas amplas e também contam com lanche a bordo. Essa opção não conta com decoração. A partir de R$ 179 (ida ou volta).
Boutique: a categoria Boutique abrange os vagões especiais, contendo decoração temática, varandas, janelas panorâmicas e serviço de bordo. É servido a bordo um lanche diferenciado, além de bebidas como água, café, chá, refrigerante e cerveja à vontade. Dentro dessa categoria, há guias bilíngues para orientar a viagem. Tem também vagões pet friendly e inclusivos. A partir de R$ 385 (ida ou volta).
Luxo: a Litorina é o único trem de luxo do Brasil e o único do mundo com sistema automotriz (sistema de tração próprio). Ela pode viajar pelos trilhos sem a necessidade de toda a composição, inclusive em horário diferenciado em datas específicas. Nessa categoria, o serviço de bordo é especial. Nele, estão inclusos um “welcome drink” com uma taça de espumante, lanche diferenciado e bebidas à vontade. A partir de R$ 405 (ida ou volta).
Pacotes
Informações e reservas de bilhetes e pacotes: acesse Serra Verde Express ou consulte seu agente de viagens.
Pacote completo ida Curitiba: Morretes: inclui apanhar no hotel, ingresso para o trem, almoço, city tour pelas cidades de Morretes e Antonina e volta de van pela Serra da Graciosa. A partir de R$ 389 (vagão turístico), de R$ 509 (vagão boutique) e de R$ 519 (vagão luxo), por pessoa.
Pacote completo pôr do Sol em Morretes: Curitiba: esse pacote é a opção de voltar de trem de Morretes. O trajeto é o mesmo, mas, em vez de pegar o trem pela manhã sentido a Morretes, o embarque é à tarde, sentido Curitiba. O atrativo é o pôr do sol na chegada à capital paranaense. Inclui apanhar no hotel, transporte de van até Morretes, almoço, city tour pelas cidades de Morretes e Antonina e volta de trem. A partir de R$ 389 (vagão turístico), a partir de R$ 509 (vagão boutique) e a partir de R$ 519 (vagão luxo), por pessoa.
Serra Adventure completo com parada no mirante: nesse pacote, o passageiro viaja a bordo da Litorina Luxo, faz uma parada única no mirante do Santuário de Nossa Senhora do Cadeado e, depois do almoço em Morretes, faz uma imersão na Mata Atlântica em um veículo 4×4. No final, em Morretes, saboreia o tradicional barreado com acompanhamentos. A partir de R$ 778 por pessoa.
Expresso Classique: um jantar completo, com entrada, prato principal e sobremesa, será servido dentro dos vagões, em um ambiente especial. Além disso, tem música ao vivo. Tudo antes do embarque e com intermediações no Jardim Botânico de Curitiba. A partir de R$ 339 por pessoa.
Ilha do Mel com Volta de Trem: o combo é um passeio guiado, incluindo transfer, travessia de barco para a Ilha do Mel, visita à gruta de Encantadas, tempo livre para banho, almoço, traslado para Morretes, trem e transfer para o hotel. A partir de R$ 862 por pessoa.
Hospedagem em Morretes
Pousada Casario 1915: rua Cel. Rômulo José Pereira, 53. Diária a partir de R$ 380 para casal, com café da manhã. Informações e reservas: (41) 3462-1100 (Whatsapp).