O Nacional, no Rio de Janeiro, não é apenas um hotel, mas uma obra de arte. É assim que vislumbro pela segunda vez esse ícone da hotelaria brasileira, único, inconfundível. Entrar pelo hall é perceber Oscar Niemeyer em cada detalhe: estão lá as curvas, os vãos livres sem colunas, a harmonia do traçado.
 
Impossível desviar os olhos do candelabro com cristais pendurados na luminária do teto como se fossem gotas d’água, pendentes da escultura feita de papel machê pelo artista Pedro Correa de Araújo, imitando caudas de sereia. Ou o surreal painel do artista plástico argentino Héctor Júlio Páride Bernabó, o Carybé, radicado na Bahia.
 
A escultura de Pedro Correa de Aráujo do hall, imitando caudas de sereia
 
O painel é formado por 268 placas de concreto, cada uma pesando 40 kg, com a representação de retirantes nordestinos. Há, ainda, na área piscina uma emblemática sereia, do mineiro Alfredo Ceschiatti, e um jardim desenhado pelo paisagista Burle Marx, o inestimável parceiro de Niemeyer.
 
  “Queremos mostrar para o mercado que o Hotel Nacional está vivo”, afirma Dáfnis Macedón, gerente de marketing e eventos, o anfitrião que me aguarda no hall para as boas-vindas. O TEMPO foi convidado para conhecer o novo Hotel Nacional.
 
Detalhe do painel de concreto de Carybé
 
Administrado pela família Palmerston, com gestão executiva de Frederico Palmerston, o hotel, erguido em 1972 para rivalizar com o Copacabana Palace, amargou quase duas décadas de fechamento antes de 2019. “Queremos fazer um reposicionamento do hotel, envolvendo hospitalidade e prestação de serviços”, explica. Segundo Dáfnis Macedón, a nova proposta é aliar arquitetura, entretenimento e música. “O entretenimento sempre esteve no DNA do hotel. Queremos, então, oferecer uma experiência diferenciada para o hóspede”, conta.
 
O lobby estava lotado: muitas famílias com crianças e estrangeiros, principalmente argentinos. Dos 34 andares da torre cilíndrica, que já impressiona vista de longe, me acomodei exatamente no quarto 1704, bem no meio da edificação toda envidraçada da base ao teto.
 
Uma das muitas visões do Rio: a Rocinha e o Cristo, pequenino, ao fundo
 
Por dentro, o interior do Hotel Nacional foi redesenhado para abrigar diferentes modelos de suítes. Minha vista era a favela da Rocinha, com o Cristo Redentor minúsculo à espreita ao fundo. Dos janelões se vêem os vários Rios: o mar e a praia de São Conrado, os condomínios luxuosos,  a edras da Gávea e Bonita e a Mata Atlântica.
 
Os apartamentos, espaçosos, são clean, bem-decorados, confortáveis e, visionário para  sua época - o prédio foi erguido em 1972 – Niemeyer já aproveitava a luz natural que o Rio esbanja no verão. O hotel é de uma época em que não se falava ainda em meio ambiente e sustentabilidade.
 
As suítes têm de 33 m² a 99 m², todas bem-decoradas, confortáveis e com vista
 
No segundo dia no hotel, o convite era para uma feijoada com roda de samba, na área da piscina. Segundo Macedón, a nova proposta é aliar arquitetura, entretenimento e música. "O entretenimento sempre esteve no DNA do hotel, queremos então oferecer uma experiência diferenciada para o hóspede", conta.
 
Para se ter uma ideia dessa experiência, o réveillon teve festa com cascata de fogos, para lembrar o show do Meridien, em Copacabana; o pré-Carnaval contou com a escola de samba Acadêmicos do Salgueiro na área da piscina. Outros eventos foram a volta da feijoada aos sábados e um festival de comida de buteco.
 
A cascata de fogos no réveillon, remetendo ao evento no antigo Meridien, em Copacabana
 
A ideia é que o público-alvo, a maioria famílias com filhos, possam ter entretenimento o suficiente para usufuir do hotel como um resort. O calendário contempla desde a animada roda de samba na piscina a um sunset com show de MPB ou um Lual das Tochas com DJ. Artistas locais devem ocupar o hall com exposições.
 
Para o primeiro semestre, o calendário de eventos ainda não foi fechado. Em breve, será lançado um festival gastronômico e um evento esportivo na praia de São Conrado. "Queremos cercar o hóspede de experiências. É uma imersão cultural, aproveitando que ele está em uma obra de arte", salienta o gestor.
 

Palco de celebridade

Abro um parêntesis: para entender o DNA cultural do hotel: ele foi inaugurado com show da atriz e cantora Liza Minelli; Ney Matogrosso fez seu primeiro show solo no teatro após a saída do grupo Secos & Molhados; Tim Maia chamou de "show de seus sonhos" o espetáculo que fez com mais de 30 músicos.
 
Pena que seu teatro, palco para artistas como James Brown, Sting, Bruce Springsteen, B.B. King e Peter Gabriel, tenha sido fechado para dar espaço a um centro de convenções. Hotéis grandes como o Nacional precisam investir em eventos para garantir sustentabilidade e manter o glamour de outrora.
 
Pense bem: você está se hospedando em um hotel que acomodou em sua suíte presidencial a Rainha Elizabeth, o cantores MIchael Jackson e Frank Sinatra, o ex-presidente Jimmy Carter. O hotel ainda sediou, entre 1985 e 2001, 16 edições do histórico Free Jazz Festival. Fecho o parêntesis.
 
Na nova gestão, há ainda muito a ser feito: a piscina precisa de mais espreguiçadeiras; os dois elevadores são insuficientes para o número de hóspedes. Manter a tradição, glamour e elegância do passado é importante, segundo Macedón, mas é necessário criar novos conceitos.

 

 
Vista da praia de São Conrado, com a Pedra da Gávea ao fundo
 

Multipropriedade

 
Quando se olha do 17º andar, percebe-se um espaço para a construção de uma segunda torre, com base no projeto original de Niemeyer. A construção é cogitada para os próximos próximos anos, mas depende do sucesso da nova proposta. Percebe-se isso logo: após o café da manhã, simpáticos colaboradores convidam os hóspedes a conhecer essa proposta.
 
Os novos gestores querem transformar o Nacional em um empreendimento multipropriedade. A proposta é fatiar o hotel em pelo menos 14 mil frações para abranger os 413 quartos. Ao comprar uma fração do apartamento, o hóspede tem direito a usufruir do hotel por duas semanas ao ano.
 
...e em cima os jardins projetados por Burle Marx
 
O tempo que passei no Nacional – deslumbrado com os belos jardins de Burlex Marx, usfruindo de seu conforto sob medida, pegando uma prainha em frente e usufruindo das vistas maravilhosas – percebi que o hotel está em um momento de transição e tende a melhorar ainda mais com o tempo.
 
Estão nos planos dos novos gestores desenvolver em seis meses projetos sócioambientais com as comunidades da Rocinha e Vidigal, incentivar o day-use, criar totens para check-in e e trabalhar para reduzir em 25% a insatisfação do hóspede. E o melhor: o custo-benefício é bom: a diária custa entre R$ 400 a R$ 600.
 
Serviço
 
Hotel Nacional: para saber mais acesse o link e tenha acesso ao site do hotel e suas redes sociais.
 
O Conjunto da Pampulha é Patrimônio da Humanidade desde 2016; na foto, a igreja de São Francisco
 

Pampulha

 
Inaugurado em 16 de maio de 1943, o Conjunto Moderno da Pampulha – formado por Museu de Arte, Casa do Baile, Iate Tênis Club, igreja de São Francisco de Assis, espelho d’água e orla da lagoa – comemora 80 anos. Em 2016, ele foi reconhecido pela Unesco como Patrimônio Cultural da Humanidade.
 
O Instituto Lumiar, atual gestora da programação de três equipamentos, é o responsável, junto com a Secretaria Municipal de Cultura, por criar as atividades de comemoração do aniversário. Segundo Richard Santana, coordenador do projeto, a programação ainda não foi fechada. Para maio e junho estão previstos uma exposição na Casa do Baile e um seminário sobre a relevância da Pampulha para a cidade.
 
Croqui feito por Niemeyer para o projeto do hotel Pestana na ilha da Madeira
 

Ilha da Madeira

 
Único edifício projetado por Niemeyer em Portugal, o Hotel Pestana Casino Park exibe até 4 de abril a exposição “Oscar Niemeyer: 115 Anos da Curva Infinita”. A mostra reúne cerca de cem itens de seu acervo pessoal selecionados pelos curadores Alexei Waichenberg e Paulo Sérgio Niemeyer, entre croquis, plantas, desenhos, maquetes, mobiliários, fotos, vídeos, livros e cartas.