De volta ao paraíso (III)

Neguev: o deserto que "floresceu" ao sul de Israel

No percurso entre Tel Aviv e Eilat, surgem parques geológicos, ruínas, a maior cratera do mundo, estrelas, camelos e kibutzim

Por Paulo Campos
Publicado em 31 de outubro de 2022 | 17:05
 
 
 
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Ben Gurion, fundador do Estado de Israel, sonhava em ver o deserto florescer. Ele dizia: “É no Neguev que serão testados a criatividade e o vigor pioneiro de Israel”. Por esse motivo, nunca quis abrir mão dessa faixa desértica de terra. Depois de permanecer 13 anos no poder (1948-1954 e 1955-1963), ele se retirou em 1970 para o deserto de Neguev, precisamente para Sde Boker, um remoto e isolado kibutz, onde viveu até sua morte, em 1973.

 

O político, que é considerado o “pai da nação” Israel, hoje está enterrado no Ben Gurion’s Tomb National Park. O velhinho careca e humilde, que andava de calças curtas, plantava bananeira e amava a vida simples, não viveu para ver o Neguev florescer: 50 anos depois, o extenso triângulo de terras na fronteira entre a Jordânia e o Egito se transformou em um celeiro de pesquisas agrícolas e uma área de inovações tecnológicas.

 

Atrações

 

Neguev, que significa “sul” em hebraico, ocupa quase 60% do território de Israel (13 mil km²) e engloba experiências turísticas únicas, como a cratera Ramon, o maior fenômeno geológico do mundo causado por erosão, as experiências em kibutz ou em acampamentos para vivenciar o modo de via beduíno, passeios de camelo, flutuação no mar Morto, Massada e sua história de resistência e um balneário com águas mornas e transparentes.

 

Neguev é um deserto de fácil acesso: está a apenas duas horas e meia de estrada do Aeroporto Internacional Ben Gurion, em Tel Aviv. A dica é contratar um receptivo como o Moni Sitton para tornar a viagem mais segura e prazerosa. A melhor época para visitar a região é o inverno, entre os meses de dezembro e fevereiro, quando as temperaturas estão mais amenas, em torno dos 30ºC/35ºC. No verão, elas podem bater os 50ºC facilmente. 

 

Um mirante em frente ao memorial tem vista para o Vale do Zin

 

Beersheva

Depois de três dias em Tel Aviv, pegamos a rodovia 4 em direção ao balneário de Eilat, no mar Vermelho, no extremo sul de Israel, atravessando o deserto de Neguev. Ao contrário do que muita gente imagina, o deserto não é um ambiente árido, sem vida. Há oásis verdes, rios e trilhas entre cânions, sítios arqueológicos, rochas coloridas, vilarejos, fauna e flora, um cenário inóspito que o israelense aprendeu a dominar com inteligência e tecnologia.

 

Em Neguev, estabeleceram-se nos tempos bíblicos os nabateus, povo nômade que fundou Petra e Avdat e constituiu a Rota do Incenso e das Especiarias, onde o rei Salomão ergueu minas de cobre e a natureza produziu, há milhões de anos, seus caprichos, transformando o deserto em ponto turístico. A porta de entrada é Beersheva, cidade com 200 mil habitantes citada em várias passagens bíblicas e o local onde Abraão viveu com seu filho Isaque. 

 

Memorial Ben Gurion fica de frente para o deserto que ele amava
 

Parques

 
Nas terras altas de Neguev, a visita é ao Ben Gurion’s Tomb National Park, administrado pelo Israel Nature and Parks Authority. Beneficiada por técnicas de irrigação, a área desértica foi transformada em um jardim verdejante povoado de animais.
 
No dia de nossa visita ao parque, soldados israelenses promoviam reuniões nos gramados e tiravam fotos com os turistas. No final de uma trilha, estão o túmulo de Ben Gurion e o da esposa, Paula, e um mirante com vista panorâmica para o Vale de Tsin.
 
Ben Gurion fica ao lado Ein Avdat National Park, uma agradável surpresa se você puder percorrê-lo. Uma trilha explora o passado geológico de um cânion de calcário atravessado por um rio, com penhascos de 100 m de altura. Conta a guia Dina Shaked que foram formados há 45 mil anos. Não completamos o percurso – são ao menos duas horas de caminhada –, que leva até uma cachoeira de água cristalina no alto de um penhasco. 
 

Ruínas da cidade nabateu de Avdat

 

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Avdat

 
Nossa parada seguinte é nas ruínas da cidade nabateu de Avdat, do século III a.C. Os nabateus foram nômades semitas que se estabeleceram no sudeste do mar Morto, ergueram cidades e desenvolveram o comércio. Sua prosperidade dependia da troca de plantas aromáticas e especiarias. Eles são, inclusive, citados na Bíblia e na Torá, o livro sagrado dos judeus. Sua história é contada em um vídeo no centro de visitantes.
 
Para conhecer as ruínas de Avdat, destruída por um terremoto, é preciso subir 650 m em relação ao nível do mar. A cidade, erguida em homenagem ao rei Obodas II (“avdar”, em hebraico), é, segundo a guia Dina, uma das ruínas nabateias mais preservadas. No percurso, depara-se com vestígios do que seria uma vila romana, com lagar, cavernas que funcionavam como armazéns, templos, campo militar, casa de banhos e terraços agrícolas. 
 
A cratera Ramon: fenômeno geológico foi formado há 200 milhões de anos
 

Cratera Ramon

 
Continuamos, desta vez com o guia Alan Gafni, da Negevland, em um jipe-tour pelo parque de Makhtesh Ramon, parando para fazer fotos e ouvindo explicações sobre a formação geológica. Ramon é um das cinco makchteshim (crateras) de Israel. E a maior cratera do mundo, com 40 km de comprimento por 2 km a 10 km de largura e 500 m de profundidade. É impressionante quando observada de um mirante 360º, principalmente ao pôr do sol.
 
Gafni garante que a cratera surgiu há 200 milhões de anos, quando a região foi fundo de oceano. Para provar sua premissa, apresenta as rochas e os minerais encontrados na região, entre eles urânio, basalto e potássio, este último prova de que ali existiu vida marinha. A cratera pode ser percorrida de bicicleta ou em uma caminhada. Também é possível dormir no local, em acampamento que custa 25 shekels por pessoa, mas é preciso levar a barraca.
 
Não há dúvida de que a cratera é o mais próximo do que se encontra de Marte na Terra. A cratera foi utilizada pela Nasa, a agência espacial norte-americana, para experiências antes da missão tripulada ao Planeta Vermelho em 2030, em função das semelhanças geológicas e de temperatura. Antes de prosseguir a viage, a dica é se hospedar no Ramon Inn Hotel na pquena cidade de Mitzpe Ramon, de 5.000 habitantes e, se der tempo, visitar o Mitzpe Ramon Visitor Center e o Memorial Ilan Ramon.
 
Vista da área do kibutz Neot Samadr: um oásis no deserto
 

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Kibutzim

 

No passado, Israel já teve até 265 kibutzim, hoje não passam de 40. O Neot Semadar é um dos mais surpreendentes: um oásis no meio do deserto. O kibutz foi criado em 1989 por um grupo de amigos interessados em aprendizagem e cooperativismo. O edifício central é uma torre de 120 metros com estilo arquitetônico inspirado em construções do Oriente Médio. Mais do que algo exótico e decorativo, utiliza um interessante sistema de resfriamento que funciona como um ar-condicionado natural.

 

A torre, que serve também de mirante panorâmico, ainda é um centro de arte com pátio e espaços para oficinas, uma galeria de arte e uma lojinha, além de um restaurante vegetariano à beira da estrada. O visitante recebido pelo coordenador David di Castro, que trocou a Itália por Israel há 30 anos. Antes de iniciar o tour, assiste-se um vídeo para entender a filosofia e funcionamento do kibutz, um dos mais bem-estruturados do país.

 

A brasileira Mônica Fagundes é uma das 50 voluntárias. Ela escolheu o kibutz como uma forma de reavaliar a vida, como “experiência de autoconhecimento”. “Eu encontrei mais do que isso, consegui trabalhar meu emocional. A maioria das pessoas que vêm não entende esse lugar”, afirma. Os voluntários, segundo ela, procuram o kibutz por motivos dos mais diversos. Além do trabalho diário, eles participam de workshops de cerâmica, porcelana, música etc.

 

No caso de Mônica, o trabalho é com a agricultura orgânica. No Neot Semadar cultivam-se tâmaras, maçãs e outras frutas sazonais. Os pés de tâmara estão espalhados por toda a parte. Há, ainda, criação de cabras e a produção de queijos e vinhos. O kibutz oferece, segundo Castro, a oportunidade de vivenciar o turismo de experiência. Os produtos são comercializados em uma lojinha.

 

Pouco mais adiante está o kibutz Eco-Kef, com uma proposta voltada à ecologia e à reciclagem. Baseado nos princíios da parmacultura, foi criado há 25 anos, quando ainda não se falava em ecologia. O argentino Julio Saientz, um dos coordenadores, conta que é um dos kibutzim mais jovens de Israel. Tudo ali é sustentável: 70% da energia vêm de placas solares; as construções são feitas de adobe; as hotas e os canaviais utilizam a filtragem da água; materiais são todos reciclagem, incluisve o plaground para crianças; Visualmente, percebe-se um claro – e impactante – contraste com o Neot Semadr.

 

 

As colunas de Salomão no Timna Park

 

Timna Park

 

A caminho de Eilat, a última parada é no Timna Park, com suas curiosas formações geológicas. Localizado a 45 minutos do balneário, o parque guarda antigas minas de cobre exploradas pelo faraó Ramsés II, descobertas pelo arqueólogo norte-americano Nelson Glueck, conta Eduardo Finkelstein, que trocou o jornalismo pela profissão de guia. Um dos destaques são as colunas do rei Salomão, da altura de um prédio de 12 andares.

 

As minas de cobre são uma prova, segundo Finkelstein, de que os egípcios estiveram na região. O cobre foi uma das matérias-primas mais importantes da época. No sítio arqueológico também foram encontrados vestígios de fornos de fundição e utensílios na Colina dos Escravos. Há quatro anos, conta ele, foi achada a ossada de uma mulher grávida. Todos esses vestígios revelam que o rei Salomão pode realmente ter existido.

 

Uma exibição multimídia em um auditório em formato de redoma insere o visitante na história dos faraós. O Timna Park também é famoso pelas rochas coloridas, que vão do bege ao vermelho, e de formatos variados. Trilhas curtas e longas podem ser percorridas para observar as formações – infelizmente, nosso tempo não permitiu. Há, ainda, a opção de contratar tour privado estilo safári. Uma boa dica é comer no restaurante Timna, a US$ 22.

 

 

A culinária israelense é saborosa e temperada com errvas e especiarias

 

Seguro obrigatório

 

A partir de agora é obrigatório ter um seguro-viagem com cobertura de até US$ 30 mil contra a Covid-19. A nossa dica é a Total Assist, que oferece mais 30 coberturas e assistências, inclusive uma opcional contra a Covid.

 

O Total Assist possui cobertura para viagens aéreas, marítimas e terrestres. A contratação é feita em menos de dois minutos de maneira totalmente digital. O viajante ainda tem assistência 24 horas diretamente do celular.

 

O seguro-viagem da Total Assist cobre imprevistos relacionados a sua saúde (despesas médicas, hospitalares, odontológicas e farmacêuticas), bagagem (danos ou perda) e voo, (atraso, interrupção ou cancelamento.

 

Em relação à viagem, também cobre prorrogação da estadia, retorno do segurado e do acompanhante e casos graves, como invalidez total ou parcial por acidente, morte acidental, translado de corpo e regresso sanitário.

 

Há opções de coberturas específicas para despesas médicas e hospitalares por Covid, diagnosticada durante a viagem. O viajante pode escolher se quer ou não contratar a cobertura adicional para Covid, bem como o valor dela na jornada de contratação online. Acesse Total Assist.

 

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Tel Aviv é a face moderna e mais liberal de Israel; conheça o destino

 

 

Serviço

 

Saiba mais sobre Israel: Acesse Go Israel.

 

Dados Gerais

 

Moeda: Shekel (símbolo = ILS) / US$ 1  = 0,69 ILS / R$ 1 = 3,56 ILS
Melhor época para visitar: abril a outubro
Fuso horário: 6 horas à frente do Brasil

 

Como chegar

Não há voos diretos para Israel. Várias companhias aéreas têm voos com conexões para Tel Aviv, entre elas Air France, Iberia, Ita Airways, KLM, Latam, TAP, Turkish e United.

 

Quem leva

 

Agência: Terra Santa Turismo ou Instagram / @turismo_israel
Pacote: Egito e Israel em 14 dias
Inclui: Hospedagem em hotéis quatre estrelas com café da manhã e jantar, guia falando português no Egito e em Israel, tour em ônibus privativo e passeios (entradas em museus, parques nacionais e locais de visitação), taxas de fronteira e visto do Egito e seguro-viagem internacional.
Preço: R$ 12.880 à vista ou 8 x R$ 1.610 sem juros por pessoa em apartamento duplo
Opcional: Bilhetes aéreos a R$ 8.200 à vista ou em 10 vezes sem juros, incluindo as taxas de embarque 

 
Onde hospedar
 
Ramon In Hotel: Mitzpe Ramon. Diárias a partir de 690 shekels (cerca de 1.011) o casal..
 
O que ver
 
Nevgeland: passeio à cratera Ramon de jipe a partir de 800 shekels (cerca de R$ 4.132) para grupos de até 8 pessoas. 
 
Moni Sitton: realiza passeio pelo deserto de Neguev.  Preço sob consulta.
 
Ben Gurion’s Tomb National Park: entrada a R$ 28 shekels (cerca de R$ 41).
 
Ein Avdat National Park: entrada a 28 shekels (cerca de R$ 41).
 
Timna Park: entrada a 45 shekels (cerca de R$ 66).
 
Neomat Samadr: visitas sob agendamento.
 
Kibutz Eco-Kef: visitas sob agandamento.
 
Passeio de camelo: Camel Ranch. Tour de uma hora e meia a partir de 75 shekels (cerca de R$ 387) por pessoa. 
 
Mitzpe Ramon Visitor Center: exposição permanente explica os makhteshim (crateras) em Israel. As entradas custam 28 shekels (cerca de R$ 145/adultos) e 14 shekels (cerca de R$ 72/crianças).
 
Memorial Ilan Ramon: é uma homenagem ao primeiro astronauta israelense, As entradas custam 29 shekels (cerca de R$ 150/adultos) e 15 shekels (cerca de R$ 77/crianças). 

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