Em 1932, a família Torino chegou à cidade mineira de Piranguinho, no Sul do Estado. Modesto, o patriarca, chefiaria a estação de trem local, que ligava o município a Itajubá. Para ajudar nas despesas, a esposa dele, Matilde, resolveu vender bolinho de chuva, sonho e doce de amendoim pelas janelas das cabines. Deu tão certo que ela foi além: colocou meninos vendendo pés de moleque dentro dos vagões. O doce ganhou fama e colocou no mapa a cidade de 8.000 habitantes. No final dos anos 70, o trem parou de circular, e a família Torino criou a Barraca Vermelha, na BR–359. Hoje, a iguaria fará parte da segunda edição da Feira do Doce Mineiro, que será realizada em Ipatinga, no Vale do Aço, nos dias 8 e 9 de setembro. O evento contará com a participação de 20 expositores das mais variadas regiões de Minas.

Sônia Torino, da terceira geração da família de Piranguinho, conta que a produção cresceu: nos meses de maior demanda, como junho, são feitos até 100 mil doces, entre cajuzinhos, paçoquinhas e amendoim salgado. Mas os pés de moleque da Barraca Vermelha (barracavermelha.com.br) continuam a ser produzidos artesanalmente, e sendo levados cidade afora em tabuleiros na cabeça e ombros dos funcionários. “À medida que vai vendendo, vou fazendo doce. Você chega no estabelecimento e come praticamente quentinho”, conta Sônia.

Cristalizados. Quem também se preocupa com a qualidade de seus doces é Maria José de Lima Freitas, a Mazé, da cidade de Carmópolis de Minas, no Centro-Oeste do Estado. Ela fez seu primeiro tacho de doces em 1999, quando perdeu o emprego de faxineira ao retornar da licença-maternidade. Foi desafiada por um cliente a produzir frutas cristalizadas e acabou virando referência no quitute. A Mazé Doces (mazedoces.com.br), com seus produtos artesanais, sem aditivos, também estará presente em Ipatinga. “O doce é um carinho. Quando você dá um doce de presente, quer dizer que a pessoa é muito querida, amada”, garante Mazé.

 

Doce de leite é o grande destaque da segunda edição

Minas é o maior produtor de leite do país, logo é também o Estado que mais produz doce de leite. São mais de 700 fabricantes. Por isso, o evento deste ano terá a iguaria em lugar de destaque, com variedades vindas das cidades de Pouso Alegre, Santo Antônio do Grama, São João do Oriente, Machado, São Lourenço, São Tiago, Ipatinga e Carmo de Minas.

Michel Ferrabbiamo, curador e um dos coordenadores da feira, conta que quatro grupos, com formações em gastronomia e experiência em cozinha, fizeram uma pesquisa intensa no Estado em busca de referências dos mais diversos doces. “Depois, houve outra seletiva – com avaliação às cegas – feita por pessoas comuns”, explica. Foram contemplados dos pequenos aos grandes produtores: a curadoria primou pelo sabor.

Além de provar delícias de toda parte de Minas, o público poderá conferir o Cozinha ao Vivo, no qual seis chefs vão preparar pratos especiais, como um cheesecake de queijo canastra com geleia de jabuticaba de Sabará. Haverá ainda praça de alimentação com música ao vivo e espaço kids.

“No ano passado recebemos 6.000 pessoas, três vezes mais do que imaginávamos. Este ano, a expectativa é de 10 mil”, diz o curador.


 

Para as “formigas” de plantão:

Goiabada de São Bartolomeu. É feita da mesma forma que séculos atrás, utilizando tacho de cobre em forno a lenha aberto no chão, e embalada em folha de bananeira, com pedaços da casca que enriquecem ainda mais a textura quase cremosa dessa delícia mineira.

 

Doce de jabuticaba de Sabará. Nostálgicas e saborosas, as jabuticabas são a riqueza da pequena cidade de 45 mil habitantes, vizinha de Belo Horizonte. Com a fruta são feitos diversos produtos de excelência, como doces, geleias, cachaças e licores.

 

Doce de leite com caramelo de café de Carmo de Minas. Depois de ficar viúva, com seis filhos para criar, dona Alice começou a fazer doces. A ideia de profissionalizar a produção foi levada adiante pelo filho Cláudio, que criou a Do Pé ao Pote. Produção 100% orgânica.

 

Doce de abóbora com coco de Poços de Caldas. Já foi premiado como um dos melhores do Brasil. Todo ano é produzido o maior doce de abóbora do país. O objetivo é entrar para o livro dos recordes, preservando os processos artesanais da tradicional cultura rural mineira.

 

Mangada de Urucânia. É feita artesanalmente com receitas passadas de geração para geração desde 1883. Registrada como patrimônio imaterial de Ubá, na Zona da Mata, o doce é feito em tacho de cobre e fogão a lenha com três ingredientes: mangá-ubá, limão e açúcar.

 

Ambrosia e ameixa de queijo de Araxá. Do paraíso dos doces vem a ameixa de queijo, feita a partir de uma massa de queijo que pode ser consumida em calda ou cristalizada. A ambrosia tem um toque cítrico das raspas de frutas que contrasta com sua doçura



 

SERVIÇO

2ª Feira do Doce Mineiro

Data: 8 e 9 de setembro

Horário: dia 8, sábado, das 14h às 21h, e dia 9, domingo, das 9h às 18h

Local: Praça Daniel Campos Rabelo, bairro Cariru, Ipatinga (MG)

*Entrada gratuita.

Informações: acesse o site feiradodocemineiro.com.br ligue no (31) 98905-4787