Retomada do turismo

Quarentena e teste negativo para Covid-19 podem não ser eficientes, diz médica

Medidas como essa exigidas por muitos países na reabertura de suas fronteiras são consideradas ineficazes por infectologistas

Por Paulo Campos
Publicado em 23 de junho de 2020 | 18:22
 
 
 
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Para reabrir o Aeroporto Internacional Grantley Adams aos turistas a partir do próximo dia 30, Barbados vai exigir dos que entrarem na ilha caribenha quarentena de 14 dias, período considerado suficiente por infectologistas para o surgimento dos primeiros sintomas de infecção pelo coronavírus. A mesma exigência fazem Bielorrússia, Eslovênia, Estônia, França, Irlanda, Jamaica, Malta, Polônia, Reino Unido e Rússia.

Destinos, como Ilhas Maldivas, Islândia e Sri Lanka, antigo Ceilão, exigem do visitante teste negativo para Covid-19 emitido até 72 horas antes do embarque. Sri Lanka foi mais além: além do teste, o turista precisa passar por exames de checagem na chegada, se hospedar somente em hotéis designados pelo governo e está proibido de utilizar o transporte público.

Com a reabertura das fronteiras, turistas que entrarem na Islândia não precisarão cumprir os 14 dias de isolamento, desde que aceitem fazer o exame para Covid-19 no aeroporto. O resultado do teste, por enquanto gratuito,sai no mesmo dia. A quarentena só será necessária se o teste der positivo. O país também decidiu cobrar US$ 112 (R$ 576,80 pelo câmbio de hoje) pelo teste a partir de 1º de julho.

Muitos países, no entanto, têm preferido abrir as fronteiras apenas para os vizinhos que tenham controlado a propagação do vírus. Os critérios são baixa notificação de novos casos no último mês, baixa ocupação de leitos de UTI, número de óbitos reduzido e alta testagem de seus cidadãos. Esse é o caso dos 26 países europeus que integram o Tratado de Schengen, acordo de livre circulação implementado em 1985.

Segundo a médica Tânia Chaves, membro da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) e da Sociedade Latinoamericana de Medicina el Viajero, essas medidas não são eficazes na prática. Hoje existem, segundo ela, muitos  testes para detectar a Covid-19, mas apenas o de biologia molecular é considerado eficaz."Testes rápidos são de primeira geração e com resultados controversos, até porque podem dar falso positivo ou falso negativo", alerta.

O teste de biologia molecular custa entre R$ 350 e R$ 400, mas não é 100% eficaz. A porcentagem de erro é de 30%. "A sensibilidade varia de 62% a 68%, e o resultado sai entre 24 e 48 horas", explica a infectologia. Como é um teste caro, Tânia coloca em dúvida a possibilidade de países de realizá-lo em grande escala. Recentemente, a companhia aérea Emirates, dos Emirados Árabes, anunciou testes sorológicos (sanguíneos) para diagnosticar o coronavírus.

Em relação à quarentena, os custos recairiam sobre os próprios turistas, que perderiam, pelo menos, parte da viagem. "Nesse momento, a melhor medida é que as viagens não-essenciais sejam evitadas", afirma a infectologista. Tânia também é crítica quanto à aferição de temperatura corporal, iniciativa já incorporada à rotina do comércio e aeroportos. "Na prática, existe uma janela, um período de incubação, em que a pessoa não apresenta sintoma. A aferição só dá visibilidade de controle, de vigilância, mas deixa passar muita gente que contraiu o vírus", explica.

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