O Norte de Minas tem novidade no turismo: uma rota de cicloturismo, lançada recentemente pelo Sebrae Minas, liga os municípios de Araçuaí, no Vale do Jequitinhonha, e Carlos Chagas, no Vale do Mucuri. Por esse percurso de 340 km passaram até 1961 os trilhos da antiga linha férrea que transportava cargas até o porto Ponta de Areia, no Sul da Bahia. 

A linha, à qual os moradores referem-se carinhosamente como “Baiminas”, virou a música “Ponta de Areia”, dos parceiros Fernando Brant e Milton Nascimento: “Ponta de areia/ Ponto final/ Da Bahia-Minas/ Estrada natural/ Que ligava Minas/ Ao porto, ao mar/ Caminho de ferro/ Mandaram arrancar/ Velho maquinista/ Com seu boné/ Lembra o povo alegre/ Que vinha cortejar”. 

Hospitalidade

A Estrada de Ferro Bahia-Minas deixou de ser verso para ser cenário de uma nova rota turística. A partir de agora, os novos viajantes poderão resgatar as memórias da estrada de ferro por meio das pedaladas. Como é o caso de Jaqueline Magalhães, 52, da Gang do Pedal, que fez o primeiro pedal no dia 15 de junho e ficou encantada com a proposta. 

“Eu achei muito interessante a estrada, não conhecia. Os locais têm muita hospitalidade. Foi uma viagem longa, passamos aperto, mas é um pedal cheio de história”, comenta Jaqueline, que já pedala há mais de cinco anos. Ela acredita que a rota de cicloturismo vai ajudar muito a região. “O ciclismo está em alta, pode ser algo positivo para todo mundo”, disse.

Seis cidades

O percurso, autoguiado, também pode ser feito a pé ou de carro e passa por seis cidades ­– Araçuaí, Novo Cruzeiro, Ladainha, Poté, Teófilo Otoni, Carlos Chagas, todas parceiras, ao lado do Sebrae Minas e de outras instituições, na rota – e vários distritos, como Alfredo Graça, Queixada, Engenheiro Schnoor, Brejaúba e Francisco Sá, entre outros.  

O projeto começou há cerca de dois anos, explica Jeferson Batalha, analista do Sebrae, com o diagnóstico e o mapeamento dos atrativos, a capacitação da comunidade e dos receptivos e a testagem do percurso, além de um trabalho de governança para tornar a rota autossustentável.  Para se guiar na rota, o ciclista tem o auxílio do site.

Experiências

No percurso, os ciclistas encontram pontos de apoio e atrativos ou experiências. “O ciclista pode conhecer a história da ferrovia, degustar a gastronomia local, se hospedar em fazendas ou pousadas, visitar as cachoeiras e se deslumbrar com as paisagens.

Estamos numa região de cultura rica. Dos repentistas da Ciranda de Queixada às rodas de viola, até um musical”, conta. Há, ainda, visita à cachaçaria Boralina, a museus e fazendas seculares. 

Para Rogério Fernandes, gerente regional do Sebrae nos vales do Jequitinhonha e do Mucuri, a ideia da rota é uma oportunidade de turismo e negócios para as comunidades dos municípios.

A casa de Evaldo Oliveira Neiva, 57, e Estael de Oliveira Neiva, 80, é a primeira parada no percurso. Eles oferecem quitutes e quitandas no café da manhã para os ciclistas adquirirem fôlego para o trajeto. 

Estael recorda dos tempos da estrada Bahia-Minas, do trem que vinha de Teófilo Otoni para Araçuaí e passava em Novo Cruzeiro. “Todo mundo viajava nele. Pegava o trem para ir para casa de minha mãe, meus primos e também ao forró no Graça. Quando acabou o trem, foi triste, ainda não tinha estrada de carro. Íamos para Araçuaí a pé ou a cavalo”, conta. 

Estações

Pelo caminho, a cada 30 km, além de túneis e pontilhões, os ciclistas não só se deparam com experiências como essa, mas também com prédios das antigas estações bem-conservados.

“Muitos municípios decidiram restaurar as estações por conta da rota”, conta Jeferson Batalha. Percorrem-se, em média, 50 km a 60 km por dia durante quatro ou cinco dias. 

Batalha afirma que rota é também uma experiência nova para muitos locais.“Tem gente que nunca tinha recebido em sua propriedade e criou um novo negócio, uma renda”, pontua.

Há, ainda, a opção de contratar pacote com o receptivo Trilhas (@trilhasevento), ao custo de R$ 1.800 por pessoa, descendo no aeroporto de Araçuaí ou Governador Valadares. 

Paradas

O artista plástico Maelson Nunes Silva, 28, acredita que seu trabalho terá mais visibilidade com a rota. Já Samuel Silva Neri, 24, monta um ponto no percurso para comercializar os doces que a mãe produz há 23 anos. “É um incentivo ao produtor rural, um reconhecimento de nosso trabalho por parte do projeto”, destaca o trabalhador rural. 

Neri faz parte da chamada “Parada das Memórias”, que, ao lado das paradas Gastronômicas e Culturais, integram as experiências da rota. Na mesa improvisada na estradinha de terra, ele oferece doce de leite puro ou com coco, pé de moleque com rapadura, geleia de mocotó, frutas cristalizadas e potes de doces pastosos, com preço médio em torno de R$ 7.

Cachaça

No percurso, pode-se tomar um café com Néia e banhos de cachoeira em Ladainha, degustar um almoço caseiro em Engenheiro Schnoor ou queijos e pães da fazenda Jurema, conhecer uma coleção de bicicletas antigas, participar do café cultural na Pensão da Luísa e assistir a uma apresentação da Ciranda das Mulheres Repentistas. 

Uma das visitas é na fazenda Bora, no distrito de Queixada, para conhecer o processo da cachaça Boralina, produzida pela família de Paulo Csaes desde 1850 e já premiada no exterior.

Na fazenda, pode-se conhecer o primeiro moinho movido por roda d’água, o casarão da família e as dornas centenárias. O tour é finalizado com degustação especial da aguardente na lojinha.

“Os vales do Jequitinhonha e Mucuri têm todo um terroir para se produzir uma cana boa. Temos também Salinas aqui perto”, salienta Paulo. Toda a produção tem preocupação com o meio ambiente.

Sobre a rota, ele afirma que o Sebrae tornou a fazenda um ambiente de visitação e ajudou na construção do site. “Queixada é um lugar que demanda muita atenção”, destaca. 

Diploma

O trajeto termina em Carlos Chagas. Na chegada, os participantes recebem um diploma de conclusão do trajeto.

Nosso repórter fotográfico Edvancir Fernandes, 56, que foi pedalando e fotografando o percurso, afirma que a rota é perfeita para quem gosta de natureza e história e deixa até hoje deixa um rastro de saudosismo e muitas memórias nos caminhos.

Serviço

Mais informações sobre o trajeto no site Rota de Cicloturismo Bahia-Minas.

Onde contratar: Receptivo Trilhas (@trilhasevento), ao custo de R$ 1.800 por pessoa.

 

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