Bahia

Salvador além do Carnaval: fé, história, gastronomia e efervescência cultural

Durante o verão, uma série de festas populares acontece na capital, cidade vem passando por série de reformas que tem resgatado seu brio

Por Shirley Pacelli
Publicado em 18 de fevereiro de 2020 | 03:00
 
 
 
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Fui para ficar quatro dias e fiquei nove. Pelo Gil, pelos Gilsons (que fariam shows na semana seguinte), mas, sobretudo, por mim. Queria absorver toda a energia boa de Salvador para trazer para Minas Gerais.

A capital baiana, que, por vezes, serve apenas de ponto de partida dos turistas para outros destinos do litoral, como o “hypado” Morro de São Paulo, ou que é sempre lembrada como um lugar perigoso, pode ser calmaria, uma fonte inesgotável de cultura – afro, especialmente – e um lugar para se reencontrar. Por lá, você faz as pazes consigo mesmo e se permite ser feliz. Daí é cair no ritmo do atabaque, se deliciar com sabores únicos, sentir o sal na pele e brincar de desvendar a história por trás de cada esquina. Salvador dá vontade de viver. 

Nos últimos anos, a capital baiana vem passando por uma série de reformas que tem resgatado seu brio. Para o turista, o maior serviço é, com certeza, a linha do metrô do centro até o aeroporto internacional (28 km de distância), inaugurada em 2018. Coletivos gratuitos ainda fazem a ligação entre a estação e o terminal. Além disso, ao menos outras 11 obras estão em curso na capital. Um sistema BRT (transporte rápido por ônibus), com veículos elétricos, está sendo implantado, e a expectativa é que seja inaugurado em novembro. Um novo centro de convenções, com capacidade para 14 mil pessoas, também foi inaugurado recentemente. 

Dito isso, vá para o destino com o espírito já preparado para um trânsito meio caótico em horário de pico e canteiros de obras por toda parte. Baixe o app Moovit (moovitapp.com) e mapas offline do Google Maps para descobrir a capital no modo “hard” – mas autêntico e de baixo custo – com transporte coletivo e suas perninhas mesmo. Não se preocupe, você poderá contar com a ajuda de qualquer soteropolitano caso se perca. Eles não oferecem um cafezinho, te dão a mão e levam até o destino como os mineiros, mas te escutam com atenção, e o seu problema passa a ser o deles também. Sobra empatia no baiano. 

Verão

Durante o verão, uma série de festas populares acontece na capital. A temporada começa com a festa de Santa Bárbara, no dia 4 de dezembro, e vai até o Carnaval, no final deste mês. Antes de marcar sua viagem, vale conferir o calendário de eventos (bit.ly/2UT41KH), afinal, as festas – com um sincretismo especial entre catolicismo e religiões de matriz africana – são um acontecimento à parte na cidade.

Da Ribeira à praia de Itapuã, eternizada no versos de Vinícius de Moraes, Salvador tem um universo de atrações culturais para se descobrir. A região mais famosa é, claro, a do Pelourinho, que concentra em seus becos tanto a memória histórica da cidade quanto aquela chama de “eu não vou embora”, tão presente na loucura que nos invade ao escutar os tambores baianos. </CW>
O Pelourinho vale um ou dois dias só pra ele. São muitas igrejas, museus, restaurantes, lojinhas de suvenires e fervo noturno para se jogar. A linha de ônibus 1.001-00, apelidada de “frescão” por causa do ar-condicionado, roda a cidade toda e vai do aeroporto até a região (cruzamento da ruas Chile e Vassouras). A passagem sai por R$ 4. 

Um bom início de roteiro é ficar embasbacado com o visual da Baía de Todos os Santos e seu icônico cenário com o Elevador Lacerda (R$ 0,15), seguir para a Catedral Basílica Primacial São Salvador, com um teto talhado na madeira, visitar a igreja e convento de São Francisco de Assis, toda trabalhada no ouro, e seguir para um almoço no Restaurante do Senac, no largo do Pelourinho. As igrejas cobram uma taxa de R$ 5 de visitação.

Momento de pura comunhão entre fiéis

O destaque da igrejade Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, no largo do Pelourinho, não é a igreja em si, mas o que os fiéis constroem juntos no lugar. Vá numa terça-feira para apreciar a missa sincrética, uma celebração viva e tocante, que desperta a fé nas pessoas. Trata-se de um ritual católico com cânticos afros. A missa começa às 18h, mas chegue com meia hora de antecedência, pelo menos, para conseguir um bom assento. 
Sente-se mais à frente à esquerda para poder apreciar o som e a energia vinda dos instrumentos de percussão. O momento do ofertório é lindo. Mulheres caminham da porta ao altar, segurando cestos, num ritmo coreografado que remete ao candomblé. No “pai-nosso”, esse ritual prossegue. É quase uma performance. Ao final, todos são abençoados, e os pães são distribuídos. A energia é incrível! 

Abre de segunda a sexta, das 8h às 12h e das 13h às 17h, e aos sábados, das 8h às 19h. Fora dos horários de missa, é cobrada taxa de visitação de R$ 5. Inf.: (71) 3421-5781.

 

SERVIÇO

O que fazer

Catedral Basílica Primacial São Salvador. Tem um teto todo talhado na madeira e foi reformada em 2018 com 50 mil folhas de ouro. Confira os 30 bustos relicários em um altar lateral. De 1672. Entrada a R$ 5. De segunda a sábado, das 8h às 17h30. No Largo do Terreiro de Jesus. Inf.: (71) 3321-4573.

Igreja e Convento de São Francisco de Assis. De 1713, tem mais ouro do que as mais ricas das igrejas de Minas. Impressionante também os murais de azulejos do convento. Entrada a R$ 5. Aberta todos os dias, das 9h às 17h30. No Largo do Cruzeiro de São Francisco. Inf.: (71) 3322-6430.

Museu Afro-Brasileiro. São 1.100 peças da cultura afro, mas o grande destaque são os painéis de orixás de Carybé. De segunda a sexta, das 9h às 17h. Entrada a R$ 6. No Largo do Terreiro. Inf.: mafro.ceao.ufba.br

Casa do Carnaval. A Casa do Carnaval é enorme e tem um preço mais salgado de R$ 30. Mas vale a visita. Reserve algumas horas. De terça a domigo, das 11h às 18h. Inf.: bit.ly/31SXwsO

Casa do Olodum. Quer comprar uma lembrança de Salvador? Dê preferência à loja do Olodum. O dinheiro ajuda a manter os projetos. Rua Maciel de Baixo, 22. Inf.: olodum.com.br

Cravinho. Prove uma dose (R$ 4) do cravinho (cachaça, cravo, mel e limão). Todos os dias, das 11h às 22h. No Terreiro de Jesus. ocravinho.com.br.

 

Onde comer

Restaurante do Senac. Localizado no largo do Pelourinho, ele tem bufê típico à vontade por R$ 65. Está achando caro? Vale muito a pena. Vá com fome! Há moqueca de coisas que você nem sabia que existia. De camarão e lula até fato (bucho). O arroz de hauçá é uma delícia. E há pratos típicos que você não encontra facilmente em outros restaurantes, como quiabada, quibebe (à base de quiabo) e feijão de leite (com leite de coco). Deixe, por favor, espaço para a sobremesa. São vários tipos de cocada e doces feitos com frutas. Aberto de segunda a domingo das 11h30 às 15h30. Informações: bit.ly/2Hjt8yk.

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