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Turismo cultural eleva ocupação da hotelaria na Grande BH e atrai visitantes

Eventos como o MecaInhotim consolidam a Grande BH como “hub de entretenimento; confira as atrações

Por Paulo Campos
Publicado em 04 de agosto de 2022 | 18:52
 
 
 
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O jornalista Ricardo Moreno, 44, mal vê a hora de participar de mais uma edição do MecaInhotim, o maior festival de música contemporânea a céu aberto do país. Ele é um habituée do evento desde a primeira edição, em 2015. Moreno curte a vibe do festival, o formato não muito longo, o cenário artístico e idílico onde acontece, a seleção de artistas – neste ano tem Caetano Veloso, Alceu Valença, Fernanda Takai, Vohoor e outras oito atrações –, mas principalmente a oportunidade de reencontrar os amigos paulistanos.
 
É isso mesmo que você leu: 45,3% do público do festival vem de São Paulo, 15,9% do Rio de Janeiro, e 8,6% de outras cidades do país, confirma Piti Vieira, diretor de patrocínios e novos negócios. “O MecaInhotim é um festival de encontros, porque coloca as pessoas para se conhecerem e se conectarem”, explica. Para Moreno, os shows são ótimos, os convidados, incríveis, mas servem apenas como pano de fundo para uma experiência maior. “MecaInhotim não é um festival local, a gente não é de Minas Gerais, queríamos mais pessoas de BH”, enfatiza Vieira.
 

MecaInhotim

 
O MecaInhotim é o melhor exemplo do que tem acontecido na região metropolitana de Belo Horizonte no pós-pandemia. O turismo cultural já ultrapassa o de negócios, impulsionado pelos inúmeros shows e eventos culturais nos últimos meses. Os números comprovam essa tendência. O produtor cultural Léo Ziller, um dos veteranos no segmento, afirma que, pela tiquetagem, ou seja, na venda de ingressos, se comprova a origem das pessoas, a maioria oriunda de outros Estados. O exemplo é o Prime Rock Brasil, ocorrido em julho.
 
Pedro Lobo, da produtora Secreto, promotora do evento, chama a atenção para um fato curioso: o Prime Rock Brasil nasceu em Curitiba (PR), ocorre em três cidades do país (BH, Recife e Curitiba), mas o maior público das edições é em Belo Horizonte: 25 mil pessoas. O produtor cultural aproveitou para fazer uma enquete nas redes sociais: “Prime Rock quer saber quem está vindo de outros Estados?”. Cerca de 160 pessoas responderam à pergunta, tinha gente de todos os cantos do país. “A cidade está efervescente em shows e festivais”, frisa.
 
Léo Ziller, também da Secreto, questiona: “Qual é a lógica uma festa como Só Track Boa, um show de Gusttavo Lima, superar o público de grandes centros urbanos como Rio de Janeiro e São Paulo? Porque somos a capital gastronômica, dos grandes festivais, a cidade mais segura, com hotéis com uma das diárias mais acessíveis do país e uma grande estrutura de bares e restaurantes. Esse é o potencial que o turista está enxergando”, polemiza.
 

Turistando em BH

 
É um potencial que Ricardo Moreno já percebeu: “Eu venho a BH para assistir shows, para comer e beber, e o MecaInhotim acaba sendo uma desculpa para usufuir da cidade”. O jornalista paulistano normalmente se hospeda na região de Lourdes ou Savassi. “Eu chego à cidade na sexta e vou embora na segunda. Não tenho dificuldade de reservar hotel. BH tem bons preços, melhores até do que Brumadinho, e uma vida de rua que São Paulo não tem”, disse. Como está trabalhando em home office, Moreno prolonga a permanência na capital mineira.
 
Neste segundo semestre, são inúmeros grandes eventos – além do MecaInhotim, os festivais Sensacional, Histórias e Sarará, os cantores Caetano Veloso e Roberto Carlos, as bandas internacionais Gun n’ Roses e Ummagumma e a parceria Pitty e Nando Reis em #PittyNando. “BH tem vocação para ser hub da indústria do entretenimento, do turismo cultural”, resume Léo Ziller. A quantidade de equipamentos voltados aos eventos culturais também está reaquecendo o setor. O Minascentro foi reinaugurado em maio, a Arena MRV será em 2023, e o Mineirão já assumiu essa vocação.

 

Hotelaria

 
Esses eventos já se refletem diretamente na ocupação da hotelaria. De janeiro a maio, segundo dados da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (Abih-MG), a ocupação cresceu de 41,74% para 60,41% e chega a picos de 80%. “Esse é um crescimento gradual em função da vacinação, da retomada dos negócios e da volta dos grandes shows. Percebemos um aumento expressivo em junho e julho, inclusive com crescimento da diária média. A Abih projeta ocupação em BH em julho em torno de 65%”, destaca a diretora Carol Drumond.
 
Edvard Pancrácio, gerente geral de operações do Intercity BH Expo, hotel a 1.600 m do Expominas, principal centro de convenções da cidade, observa que, durante os eventos no espaço, a ocupação é, em média, de 85%. “No show da banda A-Ha, nossa ocupação chegou a 80% e, no de Chitãozinho e Xororó, 86%. Nosso maior público geralmente é do interior de Minas Gerais, depois São Paulo e Espírito Santo”, destaca. Na opinião de Pancrácio, os shows e as feiras, como a do Cavalo Manga-larga Marchador, têm fomentado o turismo.
 
Márcia Ribeiro, diretora de negócios marketing do Expominas e vice-presidente do Belo Horizonte Convention & Visitors Bureau, tem uma resposta na ponta da língua para essa efervescência cultural: “A cidade está mais rica na gastronomia, na entrega de circuitos culturais, na cena artística. Um produtor não escolhe BH por causa de infraestrutura, mas pelo valor cultural”. Segundo Ziller, Caetano – que deve fazer seu terceiro show no Expominas em outubro – disse que escolheu começar sua turnê aqui porque BH tem a melhor plateia.
 

Circuito Liberdade

 
Como principal espaço do turismo cultural na cidade, o Circuito Liberdade também tem registrado recorde de público. Foram cerca 1,5 milhão de visitas no primeiro semestre aos equipamentos da praça da Liberdade, segundo dados da Secretaria de Estado de Cultura e Turismo (Secult-MG). Wagner Tameirão, diretor do Memorial Minas Gerais Vale, um dos equipamentos do circuito, afirma que todos esses números fazem muito sentido. “Com a reabertura do espaço, sentimos esse reflexo”, salienta.
 
Hoje, segundo o gestor, o Memorial é muito bem avaliado pelo site TripAdvisor, plataforma que contabiliza a opinião dos viajantes. O centro cultural está na primeira colocação na categoria “museus” e como sexta atração mais visitada da capital mineira. “Nosso museu ajuda a entender um pouquinho Minas Gerais, é interpretativo, um cartão de visitas para o Estado”, ressalta. De janeiro a julho, segundo levantamento, o Memorial foi visitado por 67.482 pessoas, das quais 24.465 eram turistas de várias regiões do Brasil e 13.282 de fora do Brasil.
 

Transversalidade e criatividade

 
Essa tranversalidade entre cultura e turismo tem se tornado uma realidade em Minas e é uma das linhas de atuação da Secult-MG. “Turismo cultural e economia criativa são, naturalmente, transversais. O turismo possui a função de estabelecer fluxo de visitantes, sejam eles dos próprios municípios ou de outras terras. No entanto, o objeto de consumo do turismo cultural é a criatividade, seja ela de um show, de um museu, de um espetáculo teatral, de um bar ou de restaurante de cozinha local”, afirma o secretário Leônidas Oliveira.
 
Toda essa potência criativa, segundo ele, é capaz de promover povos, culturas, histórias e destinos. “Juntos, economia criativa e turismo cultural, esse último responsável por 72% de nosso turismo, geraram em Minas 82,5 mil empregos no último ano e colocaram mais de R$ 20 bilhões na economia”, revela o secretário. “A região metropolitana é um exemplo claro disso, na medida em que se reinventa no pós-pandemia pelo turismo cultural, potencializado pelos shows em espaços espalhados pela capital e no entorno”, acrescenta.
 
Serviço
 
Os próximos grandes eventos na cidade
 
MecaInhotim. Confira a programação no Instagram / @mecalovemeca
 
Festival Histórias (13/8)
Festival Sarará (27/8)
Fire Festival (27/8 a 5/9)
Gun n’ Roses (13/9 )
Encontro de Gerações (21/9)
Roberto Carlos (23 e 24/9)
Planeta Brasil (24 e 25/9)
Jota Quest (8/10)
Sandy (28/10)
Caetano Veloso (29/10)
PittyNando (1º/11)
Turnê Irmãos (Seu Jorge e Alexandre Pires, 12/11)
Milton Nascimento (14/11)
Ummagumma (17/12 )
Secreto de Natal  (23/13 )
 
 
 
 
 

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