Há pouco mais de cinco anos, experimento uma sensação de superioridade cada vez que vou ao self service. Com o prato já bem abastecido da salada que eu desdenhei por tanto tempo, ignoro a panela tentadora de arroz branco para, com a confiança de quem sabe o que está fazendo, entregar este corpinho à opção integral do carboidrato mais influente da revista “Forbes”.
É comum, neste momento, imaginar um auditório cheio, pessoas aplaudindo de pé, um dos nutricionistas que já visitei vindo me entregar uma medalha com as palavras “boa escolha” gravadas em alto-relevo. Olho com certa compaixão para a pessoa que vem logo atrás de mim e que ainda não tem a mesma firmeza de espírito, geralmente um dos meus filhos. Lembro que já fui assim, pior talvez. Arroz branco sempre esteve no meu top 3. Gosto tanto que até arroz com milho, arroz com ovo, arroz com tomate, arroz com arroz já me fazem feliz. Mas desapeguei. Mereço a medalha.
Então, descubro no fim de semana que todo o sacrifício, toda a força de vontade, todo o empenho foram uma grande bobagem. O arroz branco tem realmente uns probleminhas, mas o integral é pior e ainda se faz de santo. É que, apesar de ter maior concentração de vitaminas e minerais, ele tem substâncias que afetam a absorção e o aproveitamento dessas coisas boas. E, de quebra, consegue carregar ainda mais arsênio que seu irmão polido. Não sou eu quem está dizendo, é a ciência.
Aliás, a ciência está se especializando em dizer que tudo que a gente acreditava como incontestável estava errado. Tem pelo menos 50 anos que nos fizeram acreditar que comer gordura é assumir uma morte lenta. Era mandar um torresmo pra dentro pra gente ganhar uma veia entupida. Era enfeitar a torrada com uma dose generosa de manteiga para reduzir a expectativa de vida em dois anos.
Aí um estudo publicado no mês passado e que acompanhou mais de 135 mil indivíduos descobre que, quanto mais gordura, menor a mortalidade, independentemente de se tratar de origem animal ou não. É isto: picanha não faz ninguém morrer mais cedo. Por outro lado, comer mais do que quatro porções de frutas e verduras não faz ninguém viver mais.
Já posso enxergar o glúten se encher de esperança, a lactose começar a fazer planos, o açúcar sair da caverna em que se meteu nos últimos anos. O futuro pode trazer junto a redenção.