O menino se chamava Bernardo e, ao que tudo indica, só queria ser amado. Não foi. Tinha 11 anos . Estava sempre na casa de amigos e vizinhos. Era lá que buscava o afeto do qual sentia falta no próprio lar. Sonhava com atenção, com carinho e com aconchego vindos de dentro de casa. O pai não deu, muito menos a madrasta. O garoto pediu socorro à Justiça. Mas também não veio de lá o alento. E, quando a coisa estourou, já era tarde. Bernardo Boldrini está morto. É vítima de mais um crime assustador, do qual os principais suspeitos são justamente quem mais deveria zelar pelo seu bem-estar.
A brutalidade ocorrida com Bernardo, no Rio Grande do Sul, me fez lembrar dos pequenos Isabella Nardoni e Joaquim Ponte. Tragédias que a gente não queria ver se repetir. No entanto, o caso Bernardo as trouxe à tona. Infelizmente, atrocidades semelhantes. Qual criança merece viver uma tragédia dessa? Que ser humano merece ser personagem de uma história tão cruel?
Foram dez dias de buscas até o corpo do menino ser encontrado em um matagal. Nesse período, muitas contradições nos depoimentos dos familiares foram registradas. Entre as várias dúvidas que permeiam a investigação do caso, uma certeza: pai médico, madrasta enfermeira e uma amiga do casal estão envolvidos na morte de Bernardo, que recebeu uma injeção letal. Só resta saber qual a participação de cada um.
O menino tinha avó materna. Mas ela não o via há quatro anos. Desde quando a filha morreu. Isso mesmo, a mãe do garoto se matou em 2010. O suicídio aconteceu dentro da clínica do pai de Bernardo. A avó moveu uma ação para ver o menino, pois a relação com a família do ex-genro era muito complicada.
O garoto vivia um drama familiar. Fico pensando em quantas outras crianças vivem isso e em como podem superar histórias tristes se estão cercadas de estrutura afetiva.
Desde quando as notícias desse crime estouraram na imprensa não parei de pensar: por quê? Que motivos levam um pai ou uma mulher, que também é mãe, a praticar um ato de tamanha crueldade? Não gostar do menino é muito pouco. Tinha outras formas de “se livrar” dele. Poderiam mandá-lo viver com a avó, entre outras alternativas. Mas não, a opção foi tirar a vida de um inocente.
As crianças não pedem para nascer. Também não vivem em contos de fadas. Todas as famílias têm problemas. É difícil educar sem embates. É complicado dar a melhor educação. Pais e filhos discordam o tempo todo. Nem sempre os filhos estão certos. Nem sempre a certeza é dos pais. Em algumas vezes, as relações se tornam complexas. Surgem raiva, desrespeito e até rancor. A nova geração é extremamente impetuosa. E, nesse “bate e rebate”, o amor costuma sempre falar mais alto. Ele é quem traz o perdão e faz manter laços tão sólidos.
Na família desse médico, Leandro Boldrini, certamente faltou amor. E Bernardo apontou o problema até mesmo para a Justiça. Em janeiro, chegou a pedir para morar com outra família. Fico pensando se o juiz que autorizou que o garoto continuasse morando com o pai – após o Ministério Público instaurar uma investigação contra o homem por negligência afetiva e abandono familiar – vai dormir tranquilo. Eu, sinceramente, acho que não dormiria.
Mas como culpar o “homem da lei”? No início do ano, o médico pediu uma segunda chance. Disse que iria reatar os laços com o filho. Convenceu a Justiça de que merecia uma nova experiência. O filho acreditou. No fundo, acho que era este o desejo de um menino carente. E você, daria uma segunda chance a um pai? As pessoas não vêm com placas anunciando que são boas ou más. O mundo está cada dia mais complicado.
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