No aconchego do seu peito, as dores do mundo vão embora. Me recosto por lá e sigo ao encontro da paz. Não são necessárias palavras. O ato é simples. Basta a presença dela. Ali, sempre disponível no seu imenso amor. São abraços serenos. E, em poucos dizeres, testemunhos de fé. As marcas que o tempo deixou em seu rosto desaparecem diante do sorriso tímido. Gosto de estar com ela, de sentir seu corpo. Hoje, tão frágil e ainda assim tão corajosa... Nely é assim, intensa no amor de mãe. Mestra em doação. Me olha como se observasse ainda a garotinha do passado. Da mesma forma, com o carinho pueril das orações antes de dormir.
Entre os melhores presentes, nos deu valores. Falou sobre a verdade, sobre a riqueza do espírito, sobre a união. Deu aulas e lições referentes à paciência. Em pouco tempo, deixou que eu e meus irmãos “voássemos” para os nossos próprios destinos. E fomos, munidos de tudo de melhor que essa mulher pôde nos dar. Anos e anos se passaram, e voltamos sempre. Eu, em especial, quase todos os dias. Simplesmente para poder ver se está bem. Às vezes, são apenas breves minutos no fim de um dia corrido. Minutos transformadores e de tamanho agradecimento. Só pelo encontro, pela vida.
Nunca fui de mensurar o amor que minha mãe sentia por mim. Mas acabei percebendo – de fato – o tamanho dele depois que me tornei mãe. Os filhos e filhas que me perdoem, mas a incondicionalidade desse sentimento materno é incomparável a qualquer outro já existente. Sim, é clichê dos grandes, mas mães amam acima da média. Cada uma do seu jeito, porém, no ápice do amor.
Não carrego a candura da minha mãe, nem as prendas da vovó Carmelita. Sou uma mãe diferente das da minha família. Não faço a melhor comida (aliás, não gosto de ir para a cozinha), nem tenho o lar mais organizado. Exijo demais, falo demais, cobro demais. Fico exausta ao fim de um dia de trabalho e irada diante da bagunça. Bato boca. Dou palmadas. Em muitos dias, sou a mais chata das mães. Em tantos outros, carrego a leveza do ser. Sou absolutamente uma mãe normal, como um montão de tantas outras.
Me emociono com coisas simples. Gosto de ver meu filho jogar bola, de assistir a partidas de futebol com ele na TV. A gente vê filme abraçados e tem crises de riso antes de dormir. Falamos bobagens. Cantamos, rezamos e choramos juntos. Conversamos sobre o dia. Sobre todos os dias. Sobre o futuro, sobre as brigas. Falamos da vida.
Sofro com os erros, com as cobranças e, principalmente, com as culpas que a humanidade historicamente jogou sobre as mães. Sou como elas, tantas mulheres que se desdobram buscando o que nunca vão conseguir: a perfeição. A maioria se entrega à função. Outras, não. Algumas ficam no meio do caminho. Cada uma do seu jeito, mas sempre tentado acertar. Tentando ser melhor a cada dia. Aprendendo em todos eles.
Quando um filho vai crescendo, tornando-se um adolescente, como é o caso do meu, é preciso soltar uma das mãos que o seguram. Olhar de perto, mas deixá-lo encontrar a si mesmo. Talvez essa seja a maior essência da maternidade. Estar presente sempre, mas de uma forma diferente a cada fase da vida. Não é fácil deixá-los ir. Se são únicos, então, nem se fala, o apego é maior.
Certo é que os filhos não são nossos. Irão criar suas próprias histórias, seus próprios ciclos. O mais importante é o que de nós fica neles. O que de nós vão sempre levar em suas relações, em suas formações, em suas trajetórias. Estaremos, de alguma forma, sempre junto deles.
A colunista está de férias. Esta coluna foi publicada em 9.5.2014
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