Entre o ofício e a estrada, histórias marcantes de uma triste despedida

Bárbara Ferreira, Lincon Zarbietti, Robson Santos

A pauta surge pelo caminho da lama. Saímos para seguir os rejeitos, que partiam rumo ao mar. Pelo percurso, ela se transforma, não era mais apenas um rastro, mas passa a ser sobre um rio e tudo que ele carrega consigo. Começamos a contar histórias, a vivenciar cada pedacinho dele e, quase como uma nota fúnebre, nos despedimos, junto com quem vive a suas margens. Alguns lugares foram especiais, outros, tristes, e alguns, muito contemplativos. Para cada um de nós, aquilo ressoou de uma maneira. Um ficou encantado ao ver as belezas do rio antes da chegada da lama, o outro se impressionou com o cheiro forte vindo das águas, e a repórter, com a morte dos animais. Nunca imaginávamos que faríamos esse trajeto e, muito menos, que teríamos esse contato tão próximo com o rio Doce. Lamentamos que tenha sido em um momento tão triste, mas cada pedacinho dessa longa jornada nos afetou definitivamente. Aprendemos que as pessoas são apegadas à natureza que as cerca. Elas aprendem a viver e a respeitar o que lhes é dado pela água e pelo meio ambiente. Vimos muito choro, e a maior parte dele veio justamente de pessoas que não conhecem outra forma de vida além do rio. O rio era lindo. Agora ele é turvo e retrata uma tragédia. Um rastro de tristeza que passa, vila por vila, quilômetro por quilômetro, e que não sabemos quando irá acabar. Talvez nunca. Talvez os netos desses que têm o rio como sua fonte vital apenas mantenham isso na lembrança. Mas essa história, acreditamos, nunca deixará de ser contada. Nós, pelo menos, nunca a esqueceremos

Lincon Zarbietti, fotógrafo

Bárbara Ferreira, jornalista

Robson Santos, motorista