Ah, como eu gostaria de falar só de futebol. Eu tento. Até publiquei uma coluna nesta terça (8) falando empolgado sobre o iminente retorno do Zaracho. Nos últimos dias, falei de Brasileirão, Libertadores e Copa do Brasil. Eu não fico procurando pelo em ovo, adoro falar de coisa boa. O problema é quando jogam um ovo na nossa cara, daqueles bem podres e fedorentos. Aí não dá pra aguentar calado.
A “internet atleticana” tem um assunto isolado na liderança dos mais comentados nesta terça (8). E com razão. No “muro de torcedores” da Arena MRV, apagaram a imagem do jornalista Fred Melo Paiva, conhecido crítico dos donos da atual SAF do Atlético.
Não sabe do que eu estou falando? Eu contextualizo: há alguns meses, o Galo cedeu um dos muros da Arena pra um coletivo de torcedores que fundaram o movimento “Califórnia Alvinegro” e, através de vaquinhas, juntaram uma grana pra pintar/grafitar os arredores do estádio, deixando o bairro com a cara do clube. Ideia genial. Até acho que o clube poderia dar uma ajudinha maior do que a liberação, mas não tinham obrigação de fazer isso, então tá tudo bem.
Pois bem. Lá tem a imagem do ator Daniel de Oliveira, da eterna Cássia Eller, do rapper Djonga, por aí vai. E, entre eles, tinha Fred Melo Paiva. Jornalista, apresentador, colunista, escritor, entre outros talentos. “Tinha” porque não tem mais. Entre dezenas de rostos, o de Fred foi apagado.
É um negócio tão inacreditável que eu tive que ir lá pessoalmente pra acreditar. A Arena, via assessoria de imprensa, disse que “algumas imagens serão trocadas em função do desgaste da pintura”, para revitalização. Desde o início achei uma posição questionável, mas pensei “se vão usar esse argumento, imagino que tenham desfeito outras imagens também, né?”
Cheguei lá e… não. Por incrível que pareça, querem que acreditemos que, num muro gigantesco, o único espaço que merece revitalização neste momento é justamente o rosto de um crítico dos donos do clube. Aí é subestimar nossa inteligência, né?
O Califórnia Alvinegro, oficialmente, não se posicionou, mas conversei com várias pessoas do movimento, que confirmaram o óbvio: foi uma ordem que veio da SAF, que não queria o rosto de um “inimigo” ali. Sendo bem sincero, me senti um idiota ao apurar essa história, porque é tipo perguntar a um matemático se dois mais dois são quatro.
Além de obviamente autoritário, quem mandou apagar o rosto de Fred do muro o fez da forma menos inteligente possível. O resultado foi uma crise de imagem feia pra SAF lidar (mais uma pra lista) e, além de tudo, adivinhem? O fortalecimento da imagem justamente do opositor político. Quem não conhecia Fred Melo Paiva passou a conhecer. Quem não tinha lido as críticas que ele fez à SAF foi ler pra entender. Jênios! Com J mesmo!
A postura nesse episódio só fortalece que o Atlético não tem vergonha de seguir, cada vez mais, por um caminho antidemocrático. Protegeu um diretor quando este claramente feriu as normas de ética do clube (os amigos podem tudo!), expulsou torcedor “fora do padrão” do estádio, entre outros absurdos.
Outro dia, até deixaram entrar na Arena uma faixa de cunho político, sendo que isso é (e sempre foi) proibido. Por que passou? Porque a faixa atacava Alexandre Kalil, adversário dos donos da SAF. Se alguém experimentar levar uma faixa contrária ao grupo deles, eu garanto que o tratamento será diferente.
Como me sinto nisso tudo? Envergonhado, evidentemente. E isso nada tem a ver com a avaliação do trabalho de Fred Melo Paiva, tá? A discussão não é sobre isso. A gente se acostumou com um Galo de todos, mas não da boca pra fora. A essência democrática era um grande orgulho do atleticano. Mas ela está ameaçada, se é que ainda viva. Não podemos mais falar de “Massa”, muito menos citar que o “Galo é de todos”. Hoje, não é. Hoje, o Galo é de quem paga caro pra, necessariamente, aceitar tudo calado. Quem discorda não é bem visto.
O alento é: a SAF tem dono, mas o Clube Atlético Mineiro é maior do que isso. É centenário e tem como maior ídolo da história um homem que levantou o punho cerrado pra lutar contra opressões. Essa história é maior que qualquer cifra, por mais bilionária que seja. Eu não preciso de autorização de ninguém pra ser atleticano. Fred Melo Paiva também não. Podem comprar tudo, menos nosso coração e, claro, nossa opinião. O Galo é meu, do Fred e seu também. E isso ninguém tira.
Saudações.