“Ih, ih, Libertadores, qualquer dia tamo aí!”. O ano era 2009, e o Atlético estranhamente acumulava vitórias no Campeonato Brasileiro. Estranhamente porque aquele time do Celso Roth era ruim, mas era competitivo, tinha alguns bons valores e um Diego Tardelli que fazia gol até sem querer. Eu tinha 14/15 anos e vivia minha primeira temporada com a liberdade de ir com amigos ao estádio. Faltei a poucos jogos naquele ano, e puxo pra superfície essas memórias pra gente falar sobre o tema de hoje: expectativas.
O Galo não disputava a Libertadores desde 2000. Eu mesmo não lembrava de ver meu time jogando a principal competição do continente. E, depois de 2009, ainda demorei alguns anos pra ver, já que aquele time de Cazalbé, Feltri, Pedro Oldoni e companhia começou a jogar o que se esperava dele (pouco) na reta final do Brasileirão e, depois de ter brigado pelo título, nem G-4 pegou. Mas deu pra gente se divertir no processo.
Jogar a Libertadores era, até 2012, um objetivo distante. De 2013 a 2024 (12 edições), o Galo disputou a competição 10 vezes. Nenhum time brasileiro foi mais frequente neste recorte (Palmeiras e Flamengo empatam). Copamos em 2013 (ô saudade!), e apenas em 2019 saímos na fase de grupos. Em 2014, 15, 16, 17, 21, 22 e 23, experimentamos, ao menos, o gostinho do mata-mata. E cá estamos nós de novo, em mais uma fase de quartas de final. Acostumamos. E isso é perigoso.
Hoje jogam Flamengo e São Paulo na Libertadores. Caso os dois confirmem as classificações, teremos três times brasileiros vivos na Copa do Brasil e na Libertadores: nós e eles. De resto, rodou todo mundo em pelo menos uma das duas. O Botafogo, dono do melhor futebol do Brasil hoje, caiu na Copa do Brasil. O Palmeiras saiu das duas. E o que me incomoda é a sensação de que, pra muitos atleticanos, não estamos fazendo mais do que a nossa obrigação.
Entendam: não estou aqui falando que é ruim se acostumar com coisa boa. Muito menos discursando a favor do “importante é competir”. Importante é ganhar! E eu vou cobrar, sempre! Alcançamos o patamar que alcançamos depois de muita luta e sofrimento, e não dá pra amolecer agora. Temos que buscar mais, querer mais. A mira tem que ser no bi da Libertadores, no tri da Copa do Brasil, no tetra do Brasileiro, no Super Mundial do ano que vem e em qualquer torneio intergalático que aparecer. Não é esse meu ponto.
Meu ponto é: não podemos perder o prazer de curtir o que estamos vivendo - a melhor fase da nossa centenária história. Não podemos tratar como banal o que já foi sonho. Precisamos curtir o Hulk, que, apesar de parecer, não é eterno. Precisamos valorizar o Paulinho. Tem gente chamando o artilheiro da última edição do Brasileirão de bagre por aí. Vocês nasceram quando? Em 2013? Vamos tirar onda com as canetas do Arana, arregalar os olhos com cada cruzamento perfeito do Scarpa... Vamos aproveitar!
Se aparecesse um viajante no tempo falando pr’aquele moleque de 2009 que 15 anos depois eu teria visto uma Libertadores, duas Copas do Brasil, um Brasileiro, uma Recopa, uma Supercopa e mais sei lá quantos Mineiros (perdeu a graça contar), eu soltaria foguetes de alegria. Duvidaria. Mas rolou. Está rolando.
Vamos curtir o Galo, gente. Cobrando, claro. Fiscalizando, com certeza. O clube é nosso, independentemente do que dizem os contratos, ações e assinaturas. O Clube Atlético Mineiro é do seu povo, e o povo atleticano sempre soube viver o Clube Atlético Mineiro com alegria, com orgulho, mesmo quando a sala de troféus de Lourdes acumulava poeira. Vamos perder a parte mais legal agora que tá cheio de troféu lá?
É justo dizer que parte da responsabilidade por essa pressão desenfreada é dos donos do clube, que prometeram “potência mundial”. Calma! Vamos chegar lá? Amém! Mas a vida é chata demais se a gente não souber curtir o processo. Se a gente pulou de alegria com a dancinha do Rentería, é nossa obrigação festejar cada flechada do Paulinho.
Saudações atleticanas!