Eu sei que você não quer falar neste assunto. Tratar o Hulk como ser humano é difícil, eu sei. Acostumamos a vê-lo como super-herói. Mas precisamos humanizar o craque. Os sinais são claros.

Em abril, depois do quarto jogo no comando do Atlético, Gabriel Milito deu uma resposta interessante sobre nosso camisa 7 e a necessidade de dosá-lo para ter, sempre, a melhor versão do maior ídolo da nossa recente história. “Com o Hulk, o que tentamos fazer é que ele desfrute muito. É o jogador mais importante da equipe, sabe disso. Eu preciso que ele desfrute muito. Está na reta final de sua carreira maravilhosa e tem que desfrutar. E eu tenho que dosá-lo, porque queremos tê-lo em campo por mais tempo possível”.

Todo mundo quer ter o Hulk em campo o maior tempo possível. O time é um com ele e outro sem ele. Todo mundo sabe disso. Eu sei, você sabe, Milito sabe também. E é aí que mora o perigo.

Dos 25 jogos seguintes à declaração do Milito que citei acima, Hulk jogou 20. Dos 20, atuou por 90 minutos em 15, em outros três jogou pelo menos 70, em um foi expulso (Palmeiras) e, no último dessa sequência, contra o CRB, em Maceió, jogou só 16. Por quê? Porque machucou.

Sim, o Hulk machucou. Lesão muscular, dessas que indicam que o jogador exigiu demais do corpo. Parece que não, mas o Hulk é humano. Isso pode acontecer. O resultado? Ficamos sem nosso melhor jogador por sete jogos. Nesse intervalo tivemos um clássico, um jogo decisivo de Copa do Brasil, dois jogos das oitavas da Libertadores e mais três jogos importantes de Brasileirão. Por sorte, sobrevivemos.

O homem voltou contra o São Paulo e foi protagonista (pra variar) na vitória heroica no Morumbi. Jogou muito naquela noite. Por controle de carga, ficou fora contra o Grêmio. Certamente volta contra os paulistas, quinta-feira, na Arena. E meu ponto neste texto é: precisamos nos acostumar com isso.

Especialmente neste ano, jogar sem o Hulk simplesmente pra evitar uma nova lesão tem que ser compreendido e naturalizado. Estimulado, inclusive. Se tudo der certo na Copa do Brasil, estamos a três jogos de uma classificação pra final. Na Libertadores, se os deuses do futebol permitirem, faltam quatro jogos pra buscar a vaga na decisão de Buenos Aires. Não podemos nem cogitar não ter o Hulk em um desses possíveis sete jogos. Em eventuais finais, então, nem se fala.

Claro que o Brasileiro é importante. Precisamos buscar, no mínimo, um G-6. Ele ainda vai ser decisivo na Série A, tenho certeza. Se estiver 100%, vai jogar. Mas título já era, e se o preço for jogar sem o Hulk em algumas partidas no campeonato pra tê-lo 100% nas copas, eu estou disposto a pagar. Tomara que ele também esteja.

A partir da próxima temporada, a “era pós-Hulk” tem que ser pensada com muito carinho no Atlético. Ele tem contrato até 2026. Já completou 38 anos e, quando o vínculo atual terminar, terá 40. Quem dera o superpoder do homem fosse a eternidade. Seria tudo mais fácil. Mas ele não é eterno. Por enquanto, dosar é suficiente, mas um dia vamos ter que aprender a viver sem. E fugir do debate hoje é tornar a missão de amanhã ainda mais difícil.

Saudações!