A arbitragem no Brasil sofre com diversos problemas. Um deles, gravíssimo: a invenção. Por mais que ferramentas sofisticadas sejam utilizadas para reduzir os erros — que são muitos —, os donos do apito sempre encontram uma forma de nos surpreender negativamente, provando que sua inaptidão independe do auxílio do vídeo. A bem da verdade, o que mais fazem é brigar com o vídeo, contrariando decisões claríssimas de campo — que são do jogo — e transformando o VAR em chacota.

O Cruzeiro, mais uma vez, foi vítima desses malabarismos da arbitragem. A análise do VAR no lance entre Matheus Pereira e Zé Rafael é tragicômica. E é aí que volto ao início desta coluna: a invenção prejudica ainda mais o julgamento. O diálogo entre os árbitros deixou evidente a tentativa do auxiliar de vídeo em convencer Wilton Pereira Sampaio de que algo havia acontecido, mesmo sem ele próprio ter certeza de nada.

Se não há convicção de ambas as partes, a decisão de campo deve prevalecer. Isso afeta diretamente a dinâmica do jogo e aumenta as paralisações desnecessárias. De todos os esportes que utilizam tecnologia, o futebol é, de longe, o mais impreciso. No Brasil, essa imprecisão é elevada à enésima potência. Todas as rodadas da Série A, da Série B, da Copa do Brasil e de qualquer campeonato que utilize o VAR apresentam lances altamente questionáveis.

Compreendo que o futebol é um esporte de altíssima complexidade, já que muitas marcações são subjetivas. No entanto, se o índice de decisões confusas é tão elevado, algo está muito errado.

O Cruzeiro não perdeu apenas porque o gol de Kaio Jorge foi anulado. A equipe continua demonstrando aquele desequilíbrio que venho destacando repetidamente. As substituições não mantêm o mesmo nível de intensidade do time titular, que, inevitavelmente, uma hora ou outra, não consegue sustentar a mesma pegada — ainda mais com os múltiplos cartões amarelos comprometendo o poder de marcação.

Quando o Mister decidiu lançar o time ao ataque, apostando no poder de fogo disponível, assumiu-se o risco de sofrer no contra-ataque. Foi uma luta de boxe. Trocação franca. Mas quem deu o último golpe foi o adversário, porque o descompasso do Cruzeiro já era evidente. Questiono aqui, mais uma vez, a escolha por Marquinhos, que está longe de ser o jogador capaz de decidir e se tornar o diferencial necessário para garantir a vitória.

Enquanto os grandes clubes do futebol brasileiro atualmente contam com bancos recheados de opções que realmente entram para mudar a partida, o Cruzeiro carece dessas figuras. Nem mesmo Gabigol consegue preencher essa lacuna, pois já ficou claro que sua presença ao lado de Pereira e Kaio Jorge não funciona. O próprio treinador disse isso, diga-se de passagem. 

O returno bate à porta da Raposa a partir do próximo fim de semana e, para continuar entre os primeiros colocados, o Cruzeiro vai precisar de fôlego — literalmente.