Dois casos recentes de mortes de crianças por envenenamento com chumbinho e inseticida, após as vítimas terem recebido doces, fizeram vir à tona a importância de se seguir um conselho dos mais antigos: é perigoso aceitar agrados oferecidos por desconhecidos ou gente que não é próxima.
No Rio, os colegas Ythallo, de 6 anos, e Benjamin, de 7, morreram após comer um bombom envenenado entregue por uma desconhecida ao menino mais novo, no entorno da escola municipal onde estudavam. No outro caso, em Parnaíba (PI), os irmãos Ulisses e João Miguel, de 7 e 8 anos, comeram cajus contaminados com inseticida similar a chumbinho, mas mais nocivo, oferecidos por uma vizinha. João Miguel não resistiu, e Ulisses seguia internado até o fechamento desta edição.
“Manter em casa um diálogo aberto sobre esses perigos é muito importante” para evitar esse tipo de tragédia, aconselha a psicóloga infantil Carolina Sampaio. A especialista também aconselha perguntar à criança o que ela acha sobre receber coisas de estranhos: “Vai ajudar a treinar a percepção dela e a conscientizar de que nem tudo aquilo que parece bom é, de fato, seguro”.
A responsabilidade de educar deve ser dividida com a escola, na opinião do advogado criminólogo Jorge Tassi: “A criança vê algo que gosta e não sabe falar ‘não’ compulsoriamente. Ela é muito vulnerável. A escola é, por lei, um espaço de proteção à criança e ao adolescente. Essa temática tem que ser abordada. O pai ensina, mas a escola deve reforçar”.
Apuração
A polícia do Rio ainda busca identificar a mulher que ofereceu o chocolate a Ythallo. A corporação informou ao que o caso é sigiloso. No Piauí, a mulher foi presa em flagrante. Na casa dela foi encontrado um pote com a susbtância.
‘Role play’: técnica ensina brincando
A psicóloga Carol Sampaio indica uma técnica muito efetiva para conscientização das crianças, chamada de “role play”. “É como se fosse um teatro mesmo. A criança interpreta um papel, e o pai ou mãe interpreta outro. É uma encenação para que essa criança comece a treinar a habilidade de colocar limite, de dizer ‘não’”, explica.
Ela acredita que são válidas parcerias com comunidade, psicólogos, especialistas em segurança. “Panfletos bem coloridos e desenhados são bacanas. O conteúdo deve chamar atenção, assim como os doces”, ressalta.