O Sistema Único de Saúde (SUS) deu mais um passo na proteção contra as infecções sexualmente transmissíveis (ISTs). Uma nova nota técnica do Ministério da Saúde inclui pessoas que usam a PrEP (Profilaxia Pré-Exposição), tratamento que previne contra o HIV, na lista de quem pode receber a vacina de HPV gratuitamente. Belo Horizonte já aderiu à novidade, como a prefeitura confirmou à reportagem, e esse público pode procurar qualquer centro de saúde para se vacinar.

Com a mudança, agora o público-alvo da vacina de HPV inclui:

  • pessoas de 9 a 14 anos;
  • pessoas com imunocomprometimento (quem vive com HIV, por exemplo) de até 45 anos;
  • vítimas de violência sexual de até 45 anos;
  • usuários de PrEP de 15 a 45 anos.

O infectologista e professor da Faculdade de Saúde Santa Casa BH Alexandre Moura sublinha a importância de incluir os usuários de PrEP no grupo prioritário. “A vacina estava disponível para pessoas de 9 a 14 anos, que podem e devem tomá-la. Mas temos um contingente de pessoas que, quando estavam nessa faixa etária, não foram contempladas, porque não tem tantos anos assim que ela foi liberada. Existe um universo de adultos que não tiveram oportunidade de se vacinar na adolescência”.

Os usuários de PrEP são majoritariamente mulheres trans e homens que fazem sexo com homens, grupos historicamente vulneráveis às ISTs. A PrEP só protege contra o HIV, por isso a relação sexual sem preservativo ainda oferece risco de outras infecções, como o HPV. “A PrEP e as vacinas são reduções de danos. A primeira linha de prevenção de toda pessoa sexualmente ativa é a camisinha”, enfatiza Moura.

A vacina para usuários da PrEP exige três doses, no esquema de uma aplicação dois meses após a primeira e outra seis meses depois da inicial. Para ter direito à vacina, o cidadão deve apresentar um comprovante do tratamento, como o formulário de prescrição do imunizante ou o próprio medicamento. Todos os 152 centros de saúde de BH podem realizar a vacinação, segundo a prefeitura.

Confira a nota completa do Ministério da Saúde.

Já tive HPV. Devo me vacinar?

O HPV é altamente prevalente na população sexualmente ativa no Brasil. Um estudo do Ministérios da Saúde detectou que 53,6% dos homens e mulheres de 16 a 25 anos se infectaram. A maioria dos casos de HPV é assintomática e regride sem tratamento, mas a doença pode ter consequências mais graves.

Ela é o principal desencadeador de câncer do colo de útero — 70% dos quadros estão associados ao HPV — e está relacionada a mais da metade dos casos de câncer anal e de pênis, de acordo com o ministério. A prevenção ao HPV, portanto, também é uma prevenção a tumores. “É uma vacina contra o câncer”, compara o infectologista Alexandre Moura.

Quanto mais alguém avança em sua vida sexual, maiores as chances de contrair HPV eventualmente, lembra o médico. Mas mesmo quem já foi infectado alguma vez na vida deve se vacinar. “Existem vários subtipos de HPV, e pode ser que a pessoa pegou o que não é o mais cancerígeno. Tomando a vacina, protege-se de outros subtipos”. A vacina contra o HPV protege contra quatro tipos do vírus: 6, 11, 16 e 18. Dois deles, o 16 e o 18, estão associados ao surgimento de câncer.

O Ministério da Saúde estipula uma cobertura mínima de 80% da vacinação de crianças e adolescentes de 9 a 14 anos. Em BH, ela é de 91% entre as meninas e de 61% entre os meninos. “A vacina para o homem também é importante. O câncer de pênis é mais raro, mas acontece, e a taxa de câncer anorretal, principalmente na população de homens que fazem sexo com homens, é muito grande”, alerta Moura. 

O que é PrEP?

A PrEP é uma ferramenta de prevenção ao HIV. Quem utiliza o método consome um comprimido por dia para garantir proteção contra o vírus mesmo em situações de risco. Médicos recomendam, contudo, que a camisinha não seja abandonada, pois a PrEP não protege contra outras ISTs, como gonorreia e sífilis. Também é possível, com orientação profissional, utilizar a PrEP sob demanda, isto é, dois comprimidos de 24 a duas horas antes da relação sexual e um comprimido por dia nos dois dias subsequentes.

O tratamento está disponível gratuitamente. Para ter acesso a ele pelo SUS, o paciente entra em uma fila para se consultar. Também é possível obter a prescrição com um médico particular e retirar o medicamento pelo SUS. Quase 85 mil pessoas utilizam PrEP no Brasil, 82% delas homens que fazem sexo com homens, segundo a atualização mais recente do Ministério da Saúde, de março deste ano.

A PrEP é diferente da Profilaxia Pós-Exposição ao HIV (PEP). Enquanto a PrEP é utilizada antes da relação sexual de risco, a PEP é utilizada depois de uma situação arriscada. O paciente deve procurar atendimento até 72 horas após a relação desprotegida e ingerir dois comprimidos por dia durante um mês para garantir que não se infectou.