O avião da Voepass que caiu em Vinhedo, na última sexta-feira (9), matando 62 pessoas, enfrentou condições meteorológicas ‘caóticas’ e temperaturas que podem ter variado de -45 a -60 graus. O relato é do meteorologista e fundador do Laboratório de Análise e Processamento de Imagens de Satélites (Lapis), Humberto Barbosa. 

A análise feita pelo especialista se soma às teses já defendidas por pilotos e especialistas de que o acidente pode ter sido causado por formação de gelo nas asas da aeronave. Conforme Barbosa, nas condições meteorológicas listadas há um super congelamento da água em função das temperaturas baixas. 

“Possivelmente teve maior aderência à aeronave e se tornou gelo. Isso pode ter afetado a aerodinâmica do avião. Ou seja, a aeronave se deparou com muita umidade na alta atmosfera, que se transformou em gelo, em função das condições atmosféricas”, detalhou o fundador do Lapis, em relato publicado no LinkedIn. 

Em imagens de satélites, ele apontou riscos como a formação de nuvens cirrocumulus na região em que o avião passou antes da queda. “Esse tipo de nuvem se forma em razão de muita umidade nos altos níveis da atmosfera. Havia um sistema frontal com muita turbulência e umidade, não necessariamente gelo”, complementou Humberto. 

Ainda conforme os satélites, pode ter ocorrido presença de fumaça de aerossóis - partículas sólidas ou líquidas de gás. Isso, segundo o meteorologista, pode ter causado um resfriamento ainda maior da água, “Isso pode ter feito com que a aeronave ficasse mais pesada, uma vez que essa água vai se transformando em gelo”, arrematou. 

Queda do avião

Não se sabe ainda o que motivou a queda do avião da Voepass em Vinhedo. A Força Aérea Brasileira (FAB) informou que o Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) já extraiu os dados dos gravadores do voo que estavam na caixa preta do ATR PS-VPB, envolvido na tragédia. 

Os equipamentos podem apresentar os últimos fatos que foram reportados pelo piloto, Danilo Romano, antes da queda, além de indicar se houve falha em algum sistema. A presença de gelo nas asas do avião foi citada por especialistas em aviação e pilotos desde o dia do acidente. 

No entanto, o fato não foi reportado às torres de controle, assim como nenhuma outra situação que representasse riscos ao voo, segundo a Força Aérea Brasileira. Um relatório prévio sobre as investigações conduzidas pelo Cenipa deve ser divulgado até a primeira quinzena de setembro. 

Segurança 

Na primeira aparição pública após a queda do avião na última sexta-feira (9), o presidente da Voepass, José Luiz Felício Filho, afirmou que a empresa adota “as melhores práticas internacionais” para garantir a segurança durante os voos operados pela companhia. 

Em sua fala, o presidente da companhia, que é piloto há 30 anos, diz ser o comandante mais antigo da empresa. Ele assumiu o comando da Voepass em 2004. “Sempre construí uma base com diretrizes sólidas e sempre pautadas pelas melhores práticas internacionais para garantir a segurança operacional de todos. A vida dos nossos passageiros, assim como dos nossos tripulantes, sempre foi e continuará sendo nossa prioridade número um”, enfatizou no vídeo. 

O acidente

O voo 2283 da Voepass caiu na sexta durante viagem de Cascavel (PR) a Guarulhos (Grande São Paulo), na área de uma casa no condomínio Recanto Florido, no bairro Capela. Imagens feitas por moradores mostram o avião em queda livre e, na sequência, uma explosão seguida por muita fumaça.

A queda matou os 58 passageiros e os quatro tripulantes que estavam a bordo. A aeronave, que decolou às 11h50 e tinha previsão de chegada às 13h40, perdeu 3.300 metros de altitude em menos de um minuto a partir das 13h21, segundo o site Flight Aware, que monitora voos em tempo real ao redor do mundo.

Segundo a Força Aérea Brasileira, o avião deixou de responder às chamadas do Controle de Aproximação de São Paulo às 13h21. O piloto não teria declarado emergência ou reportado estar sob condições meteorológicas adversas.

Nas primeiras horas após o acidente, especialistas em aviação ouvidos pela reportagem levantaram duas hipóteses principais para o caso com base nos primeiros detalhes, ressaltando ser cedo para determinar as causas. A caixa-preta do avião foi recuperada e os gravadores de voz que podem ajudar a elucidar as causas do acidente já foram acessados.