Escutar música durante o estudo ou outra tarefa que exige concentração ajuda ou atrapalha? Esse foi um dos principais questionamentos para os quais um grupo de pesquisadores da Faculdade de Medicina da UFMG buscaram respostas. Eles focaram em crianças e adolescentes com transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) de desenvolvimento típico, que frequentemente enfrentam dificuldades em realizar esse tipo de atividade. O objetivo era identificar se a música afetaria o teste de atenção. 

Os cientistas analisaram 76 jovens de 10 a 12 anos, 34 dos quais diagnosticados com TDAH e 42 sem o diagnóstico, pareados por idade, sexo, nível socioeconômico e inteligência. 

Eles foram submetidos a um teste de atenção adaptado para crianças, separados em grupos “com música” e “sem música”. Os principais resultados do experimento mostram que a música não interferiu na velocidade de resposta mas diminuiu a quantidade de erros cometidos. Esse efeito foi similar para as crianças com TDAH e para as do grupo controle. Esses e outros resultados estão descritos em artigo publicado recentemente na revista de acesso aberto Interactive Journal of Medical Research.

De acordo com Camila Guimarães Mendes, terapeuta ocupacional doutora em Saúde da Criança e do Adolescente pela UFMG e pesquisadora do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Neurotecnologia Responsável (NeuroTec-R), o efeito direto da música talvez não seja especificamente na atenção. “No entanto, parece que a música promoveu aumento do interesse e da motivação para realizar a tarefa, o que resultou em maior engajamento e menos erros”, afirma.

Camila faz questão de destacar que os dados observados ainda não são conclusivos. Novos estudos, com amostras maiores, são necessários para validar o achado e também para avaliar como a música influencia atividades do dia a dia, tanto em casa quanto na escola ou em outros ambientes educacionais. “Nossos achados contribuem para a literatura internacional, na medida em que os dados sobre a relação entre música e atenção, especialmente no contexto do TDAH, ainda são escassos e controversos,”, analisa a pesquisadora.