O projeto que limita o uso de celulares em escolas públicas e privadas de todo o país, do nível infantil ao médio, foi sancionado pelo presidente Lula (PT) no último dia 13. Embora a novidade seja definitiva, pendente apenas de regulamentação, não há consenso entre os profissionais da educação e alunos ouvidos pelo Super Notícia.

 
O tema é polêmico, inclusive, entre os professores, como explicou Vanessa Portugal, diretora do Sindicato dos Trabalhadores em Educação da Rede Pública Municipal de Belo Horizonte. “Há um consenso sobre a necessidade de controle ou educação sobre o uso, mas não sobre a proibição, embora na avaliação de alguns trabalhadores essa seria a única forma de controle. 

O maior desafio é que seremos nós que teremos de lidar diretamente com as dificuldades e insatisfações causadas pela proibição”, disse. A decisão pode provocar alvoroço na mente dos alunos, alerta Marcos Henrique, psicólogo e orientador educacional. “O celular não é apenas uma ferramenta de comunicação. Também proporciona conforto e segurança emocionais. Muitos dos alunos desenvolvem uma relação de dependência com o aparelho, para se sentir conectado socialmente ou até para aliviar o tédio e a ansiedade”, disse.

Propósito

Relator do texto na Câmara Federal, o deputado Renan Ferreirinha (PSD-RJ) argumenta que a proposta não condena a utilização da tecnologia na educação, mas defende que o uso seja “consciente e responsável, de forma orientada e com propósito pedagógico”.

Abstinência digital

Segundo o psicólogo, quando há uma proibição repentina como essa, a privação pode gerar irritabilidade, aumento do estresse e até sintomas de abstinência digital. Entre esses sinais, ele citou inquietação e dificuldade de concentração.

Superintendente do Sindicato das Escolas Particulares, Paulo Leite disse observar um uso excessivo do celular nas instituições, razão pela qual unidades têm orientado a limitação do uso. “A escola é um ambiente de interação social, onde o aluno aprende a se relacionar e, a partir dos relacionamentos, desenvolve e constrói sua capacidade de comunicação”, ressalta o professor. 

Aceitação pode vir com diálogo claro

Para a estudante Ana Júlia Barros, de 18 anos, a lei é absurda. “O telefone ajuda muita gente, por exemplo para abrir um PDF e tirar foto do quadro quando não dá tempo de copiar. E por que não pode usar nem no recreio? Não é um momento de relaxamento? Tenho capacidade suficiente para escolher relaxar ou não com meu telefone”, diz.

Mãe da jovem, Valéria Barros Freitas, de 54 anos, é professora da rede particular e discorda da filha em alguns aspectos. “Vejo a decisão com bons olhos, porque, realmente, já perdi as contas de quantas vezes tive que disputar a atenção dos alunos com o telefone. Mas acho que retirar até mesmo do recreio e do intervalo entre as aulas é um pouco extremo”

Para não gerar resistência em relação à mudança, é preciso diálogo, defende o psicólogo Marcos Henrique. “Essa medida pode ser mais aceita por esses jovens se houver uma explicação, uma clareza sobre os benefícios da proibição, como a melhora na concentração e o uso de alternativas saudáveis de interação”. 

Mais interação e concentração 

São inúmeros os benefícios da proibição dos celulares no ambiente escolar, segundo a mestra em saúde mental pública e doutora em psicologia pela USP Karen Scavacini. “Os alunos poderão interagir mais uns com os outros, exercitar brincadeiras e interações offline”, exemplificou. Segundo ela, provavelmente haverá melhora na concentração em sala de aula e maior retenção do conteúdo ensinado, “uma vez que o professor não terá que disputar atenção com os smartphones”.

Infografia O TEMPO