Dez anos depois de tirar a CNH, em 2014, a assistente comercial Priscila Monara, de 30 anos, finalmente conseguiu dirigir um automóvel. Apesar de saber que um carro agilizaria o trajeto entre a casa dela, em Vespasiano, na região metropolitana de Belo Horizonte, e o trabalho, na capital, ela ficou “parada” esse tempo todo depois que prensou, acidentalmente, a perna do irmão contra uma parede, na rampa de casa.

“O que para mim já era difícil ficou muito pior. Eu pensava que eu ia fazer algo errado no trânsito, que é um lugar violento, com pessoas que fazem coisas erradas o tempo todo, e que iriam me xingar”, lembra. Priscila enfrentou o trauma depois de fazer aulas para habilitados.

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Após quase duas décadas como instrutor de direção em autoescola, Tiago Araújo, de 41 anos, notou uma demanda crescente no mercado de pessoas que têm habilitação, mas não dirigiam. Ele mudou a carreira em 2021 e agora foca o trabalho de aperfeiçoamento, como o feito por Priscila. “Noventa por cento do público que me procura sabe dirigir, mas tem medo porque vivenciou alguma situação no trânsito, como acidente ou atrito. Ou seja, tentou arrancar um carro em um cruzamento, não conseguiu, e os demais motoristas buzinaram e xingaram”, explica.

Segundo ele, o trabalho para habilitados foca em entender o trauma e apoiar o aluno nesse enfrentamento. “Trabalho a parte emocional, gradativamente, e ensino que no trânsito é importante sempre se antecipar, sinalizando, andando na velocidade adequada, para prevenir acidentes e situações traumáticas”, detalha.

Motorista se sente anônimo, mas não é, diz especialista

Membro do Conselho Federal de Psicologia (CFP), Juliana Guimarães afirma que as pessoas estão cada vez mais agressivas no trânsito porque, entre outros motivos, ao entrar no carro ou colocar um capacete, se sentem “anônimas e poderosas”.

“Acreditam que não precisam prestar contas de seus atos, já que todos são desconhecidos no trânsito. Acreditam ter poder por estar com uma arma, que é o veículo”, explica.

Para evitar vivenciar situações de risco no trânsito, como brigas, agressões e até assassinato, a especialista orienta que os motoristas e motociclistas “respirem fundo” antes de reagir a uma provocação, pois uma simples situação pode escalar para algo muito perigoso. 

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