O início do ano letivo de 2025, previsto para esta semana na maioria das escolas do Brasil, marca uma mudança que deverá impactar alunos, pais e as próprias instituições de ensino. A partir deste ano, estará proibido o uso de celulares em unidades públicas e particulares de todo o país, tanto durante as aulas quanto nos intervalos. A medida é resultado de uma lei sancionada no dia 15 de janeiro pelo presidente Lula (PT) e deverá ser aplicada à educação básica, englobando a pré-escola, o ensino fundamental e o ensino médio.

A iniciativa segue uma tendência mundial e começou a ser popularizada após a publicação de um relatório pela Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (Unesco), em julho de 2023. O documento alertava para o uso excessivo de tecnologias como smartphones e computadores na educação, afirmando que os benefícios que eles trazem desaparecem quando usados em excesso ou sem a orientação de um professor.

Por causa disso, algumas localidades dos Estados Unidos passaram a exigir que os alunos guardem os aparelhos em mochilas, armários ou em bolsas com fecho magnético durante as aulas. Já em alguns países da Europa, há a proibição total ou parcial, incentivada pelos próprios responsáveis pelas crianças. 

Diante dessa mudança no Brasil, surge a preocupação de como os estudantes - tão acostumados ao uso dos dispositivos eletrônicos - lidarão com o desapego digital. A incerteza quanto ao comportamento dos alunos neste processo de adaptação também deixa pais e responsáveis apreensivos, além de exigir que as escolas adotem outros mecanismos de ensino. 

Por isso, reunimos dicas de especialistas para auxiliar os envolvidos nesta fase. Confira: 

Dificuldades para os alunos 

O presidente da Escola Vereda, Arthur Buzatto, destaca que um dos maiores desafios é lidar com a ansiedade dos alunos por estarem "desconectados" do que consideram ser seu principal meio de comunicação e expressão. “Eles desenvolveram uma dependência não apenas do aparelho em si, mas de toda a dinâmica de gratificação instantânea que ele proporciona. Por isso, pode haver uma dificuldade inicial de concentração mais prolongada, já que muitos estavam habituados a alternar rapidamente entre diferentes estímulos no celular. Além disso, alguns alunos podem apresentar certa resistência em desenvolver habilidades de comunicação presencial mais profundas, já que estavam muito acostumados com as interações digitais” 

O papel dos pais 

Buzatto dá algumas sugestões de como os pais podem auxiliar neste processo de transição: 

- Estabelecendo limites claros para o uso de dispositivos em casa; criando uma rotina que seja coerente com as regras escolares; incentivando atividades alternativas como leitura, esportes e hobbies que não dependam de telas. 

- Sendo exemplo no uso consciente da tecnologia. Como pais, não adianta pedir que os filhos reduzam o tempo no celular se eles observam os adultos constantemente utilizando seus dispositivos. As crianças têm uma habilidade excepcional em detectar inconsistências e incoerências nos hábitos dos adultos, o que torna essencial que o exemplo seja dado tanto na escola quanto no lar.

A função da escola 

Para o diretor geral do Colégio Magnum, Germano Cord, as escolas deverão adaptar políticas internas, regimento, regras, e fazer o comunicado claro dessas mudanças. “Os educadores vão ter que ser muito bem instruídos e treinados. A gente vai ter que estabelecer locais de possível armazenamento desses equipamentos. E nesse momento, as escolas vão ter que trabalhar muito com habilidades de autocontrole, mostrar outras possibilidades para os alunos, como por exemplo, outras atividades de recreio, de extensão, que possam tirá-los daquela necessidade de estar diante de uma tela.” 

Alinhamento entre pais e escolas

Para enfrentar o “cenário de abstinência”, como descreve o coordenador pedagógico do Grupo Salta, Gabriel Milaré, pais e instituições têm que estar alinhados. “Não adianta, por exemplo, a escola adotar uma política que os responsáveis vão discordar, porque se houver esse ruído de comunicação, na cabeça do aluno isso vai se traduzir como uma dúvida. Então o primeiro ponto é isso. Também é importante o acompanhamento e um olhar cuidadoso dos hábitos da criança e do adolescente para saber se há continuidade dessas políticas. Então, por exemplo, o aluno não vai ter acesso ao celular na escola, mas ele vai chegar em casa e ficar de uma da tarde até a hora de dormir no celular? Então essa sequência de postura é importante para o alinhamento.”