O voo da Força Aérea Brasileira (FAB) que trouxe deportados dos Estados Unidos desembarcou no Aeroporto Internacional de Confins por volta de 22h desta sexta-feira (7). A aeronave pousou, inicialmente, em Fortaleza, antes de chegar à região metropolitana de Belo Horizonte, com 85 brasileiros expulsos pelo governo norte-americano.
O voo da Força Aérea Brasileira (FAB) que trouxe deportados dos Estados Unidos desembarcou no Aeroporto Internacional de Confins por volta de 22h desta sexta-feira (7). A aeronave pousou, inicialmente, em Fortaleza, antes de chegar à região metropolitana de Belo Horizonte, com… pic.twitter.com/PmIYxTJ2MX
— O Tempo (@otempo) February 8, 2025O desembarque foi acompanhado pela ministra dos Direitos Humanos e da Cidadania, Macaé Evaristo. Os brasileiros receberam acolhimento humanitário em um posto temporário montado no aeroporto. Marcos Rosário, de 47 anos, foi um dos repatriados que retornou ao Brasil, após ser preso sem documentação nos EUA. Ele relatou maus tratos e o desejo de nunca mais deixar o país.
"A gente vai tentando uma vida nova. Só que a gente chega lá e a gente é tratado igual marginal. Foram dois meses em presídio e internado em hospital. Eu estava gripado e eles falaram que eu estava com tuberculose para me largar internado. A alimentação era ruim e eu não estava ganhando peso”, contou.
Rosário confirmou que todos os brasileiros chegaram ao país algemados e acorrentados. “Viemos algemados, os pés, a barriga, todos acorrentados até chegar no Brasil", completou. A esposa de um deportado, que não quis se identificar, contou que o marido pagou R$ 39 mil a um coiote para deixar Governador Valadares e fazer a travessia da fronteira, por Porto Rico, e entrar ilegalmente nos Estados Unidos.
O homem acabou preso, há quatro meses, e permaneceu em um centro de detenção em Miami e, posteriormente, foi encaminhado para uma unidade em Luisiana. “Ele foi na tentativa de mudanças (de vida). Esse período foi terrível, a cultura é muito complicada. Lá tinham pessoas que cometeram crimes, que vão chegar ao Brasil e serão presos”, lamentou.
A mulher relatou que o marido não fala inglês, o que dificultou ainda mais o processo no período em que permaneceu preso. “Desde quinta-feira passada eu não falava com ele. Em Luisiana ele falou que foi muito desumano”, disse. No voo até Fortaleza, a esposa do deportado disse que o marido veio algemado e contou que crianças e adolescentes estavam chorando de fome.
“Vamos recomeçar a vida, foi uma tentativa que não deu certo”, disse a mulher. O casal tem uma filha e a família vai retornar, de carro, ao Leste de Minas ainda nesta sexta.
Acolhimento humanitário
A ministra Macaé Evaristo disse, à imprensa, que o grupo de trabalho criado pelo governo federal para melhorar as condições de embarque dos deportados ao Brasil já conseguiu alguns resultados. Ela ressaltou a redução do tempo de viagem e a instalação de postos de atendimento aos repatriados nos aeroportos de Fortaleza e Confins. Nos dois terminais, os brasileiros receberam kits de higiene, alimentação e amparo para hospedagem.
No caso de quem chegou a Confins, o governo do estado costurou um acordo com a Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (Fecomércio MG) de Minas para oferecer hospedagem completa e gratuita na unidade do Sesc em Venda Nova. “O que é fundamental e tem de diferente, neste momento, é a estruturação do acolhimento humanitário e a diminuição do tempo de voo. Anteriormente, as pessoas chegavam e a gente não tinha o acompanhamento, não sabia quem era esse grupo. Nenhuma mulher e nenhuma criança vieram algemadas nesse voo, o que já é um avanço nas negociações”, disse.
Segundo a ministra, a opção pelo pouso em Fortaleza foi para reduzir o tempo de voo. Macaé explicou que as aeronaves utilizadas pelo governo dos Estados Unidos para deportar quem entra ilegalmente no país não tem autonomia de voo para fazer uma conexão direta com Confins.
“A gente demandava o voo direto para Minas Gerais porque temos uma leitura que tem um grupo grande de pessoas que chega para a região Sudeste, Centro-Oeste e Sul do país. De qualquer forma, é preciso que as pessoas compreendam esse processo, quem está aqui no Brasil e quem está lá. (A escolha por Fortaleza) não é definitiva, é um exercício que vamos avaliar”, completou a ministra.
No voo que chegou a Confins nesta sexta, estavam cidadãos mineiros, mas de outros estados vizinhos das regiões Sudeste, Sul e Centro-Oeste. “As pessoas chegam em condições muito diferentes. Muita gente está chegando e tem condições, vai voltar para casa com recursos próprios. Mas nem todas as pessoas chegam nessas condições. Há pessoas que chegam e não têm condições de ir até a rodoviária de Belo Horizonte”, contou.
Por fim, Macaé Evaristo reforçou que o governo brasileiro não conseguirá impedir que os brasileiros cheguem ao país com algemas e correntes, pois o embarque é feito nos EUA e sob as leis do país norte-americano. “No território americano eles têm soberania e dispõe sobre as regras. O que estamos fazendo é uma tentativa de negociação para diminuir o tempo que essas pessoas ficam sob estas condições que a gente considera que não precisam ser tão rígidas. Agora, pouso em solo brasileiro, passam a ser cidadãos brasileiros que para os Estados Unidos são deportados, mas que para nós são repatriados. Estão chegando em casa e o que estamos fazendo é que nessa chegada sejam tratados como qualquer um de nós”, finalizou a chefe do ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania.