O Brasil celebra nesta sexta-feira (25) o Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra, data que homenageia uma das mais importantes lideranças quilombolas da história do país. Tereza comandou por cerca de 20 anos o Quilombo do Quariterê, localizado no atual estado de Mato Grosso, e é reconhecida por estabelecer um sistema de governo organizado, descrito nos registros coloniais como funcionando "a modo de parlamento".

A data, instituída pela Lei nº 12.987/2014, também coincide com o Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha, ampliando o reconhecimento do protagonismo feminino negro nas Américas.

Africana de origem angolana, Tereza foi trazida ao Brasil como escravizada por meio dos portos de Benguela — de onde vem seu sobrenome. Após a morte do rei que liderava o quilombo, Tereza assumiu o comando e passou a ser chamada de "rainha viúva".

Documentos históricos como os "Anais de Vila Bela", datados de 1770, descrevem o funcionamento do seu sistema de governo. "Governava esse quilombo a modo de parlamento, tendo para o conselho uma casa destinada [...], sendo o de maior autoridade, tipo por conselheiro, José Piolho. A rainha presidia esse negral Senado, no qual tudo se executava à risca, sem apelação nem agravo", diz o texto.

O Quilombo do Quariterê era formado por pessoas negras e indígenas, e resistiu por décadas às investidas dos colonizadores. Em 1770, o território foi atacado, resultando na prisão de cerca de 100 pessoas. Ainda assim, 25 anos depois, remanescentes do quilombo ainda resistiam na região e novos ataques capturaram ao menos 54 pessoas, incluindo crianças.

Seis dos sobreviventes desses ataques, segundo registros, tornaram-se médicos, líderes espirituais e regentes do quilombo — símbolo da continuidade da resistência mesmo diante da violência colonial.

A trajetória de Tereza de Benguela representa não apenas a liderança feminina e negra, mas também a sofisticação política dos quilombos brasileiros, que estruturaram modelos próprios de organização social e desafiaram o sistema escravocrata com autonomia e força comunitária.

A importância histórica de Tereza de Benguela é reconhecida também no Congresso Nacional, onde o nome dela batiza o corredor que dá acesso ao Plenário da Câmara dos Deputados — um símbolo da presença negra na história e na política do Brasil.