Há 20 anos, uma quantia de R$ 164.755.150 foi levada do Banco Central de Fortaleza (CE), no episódio considerado o maior assalto a banco da história do Brasil. Para entrar no local, no fim de semana de 6 e 7 de agosto, os criminosos cavaram um túnel de cerca de 80 metros de extensão e arrombaram o piso da casa-forte.

A construção do túnel foi sustentada e revestida por tábuas de madeira e lonas plásticas e contava com iluminação. 

Até hoje, de acordo com levantamento da Justiça Federal no Ceará, foram recuperados aproximadamente R$ 27,7 milhões, sendo R$ 12,2 milhões à época do crime e R$ 12,5 milhões em 77 leilões, entre 2007 e 2013, com itens recuperados na investigação, como imóveis e cabeças de gado.

No total, foram 133 denunciados, com 119 condenações, com crimes variados, como furto, formação de quadrilha, uso de documento falso, extorsão, sequestro e lavagem de dinheiro.

O assalto foi planejado pelo menos três meses antes da ação, período em que os ladrões alugaram uma casa perto da sede do banco, no centro da cidade. Eles reformaram o imóvel e montaram uma empresa de fachada, a Gramas Sintéticas, para justificar a retirada frequente de terra, resultado da escavação realizada em um dos cômodos da casa.

No cofre, foram violados cinco contêineres que guardavam cédulas de R$ 50. As notas haviam sido recolhidas pela rede bancária e teriam seu estado de conservação avaliado. Após essa análise, parte das cédulas seria encaminhada de volta ao sistema financeiro, e a outra parte, incinerada.

"O assalto ao Banco Central de Fortaleza foi um marco pela quantidade de recursos, pela sofisticação e elaboração do plano. Foi realmente uma operação milimetricamente planejada, claramente inspirada no filme 'Os Trapaceiros', do Woody Allen, em que também se tinha essa ideia de montar um negócio e praticar o assalto", explica a professora Jânia Perla Diógenes, do LEV (Laboratório de Estudos da Violência) da UFC (Universidade Federal do Ceará).

"E você tinha aí uma quadrilha que tinha como marca não querer utilizar de violência física nem chamar atenção. Faz parte de uma modalidade de assalto que se chama 'no sapatinho'. É uma gíria dos anos 90, que é aquela coisa que é feita na esperteza, no silêncio. Então esse assalto se encaixa nesse perfil de um conjunto de operações em que nós, estudantes da temática, entendemos que é uma primeira geração da atuação do PCC (Primeiro Comando da Capital)", complementa.

Em 2006, segundo a polícia, cerca de R$ 50 milhões do valor do assalto foram para os cofres da facção. Parte desse dinheiro, inclusive, financiou as rebeliões e os ataques comandados pelo PCC.

O cearense Antônio Jussivan Alves dos Santos, o Alemão, considerado líder da quadrilha que fez o assalto, foi apontado como parceiro do PCC em ações criminosas em 2006. Ele está preso desde 2008. Em 2017, tentou fugir da Penitenciária Francisco Hélio Viana de Araújo, no município de Pacatuba (CE), e foi baleado. Naquele ano, ele foi transferido ao Presídio Federal de Catanduvas, onde permanece.

Esse elo também foi registrado no livro "Toupeira - A História do Assalto ao Banco Central" (2011), de Roger Franchini, ex-investigador de polícia.

De acordo com a Febraban (Federação Brasileira de Bancos), o número de assaltos e tentativas de assaltos a agências bancárias, assim como os ataques a caixas eletrônicos, segue em queda no país.

Em 2024, foram registradas 36 ocorrências no total, entre assaltos a agências e ataques a caixas eletrônicos, 79,4% menos que em 2023 (175), o menor número em 11 anos, segundo levantamento feito pela federação com 14 instituições financeiras.

Os ataques a caixas eletrônicos em 2024, sozinhos, respondem por 20 ocorrências, 85,6% menos que em 2023, quando foram registrados 139 episódios. Os ataques incluem incidentes em agências bancárias durante o dia e de madrugada.

Já os assaltos a agências bancárias, que acontecem durante o expediente bancário, seguem a mesma tendência de queda, passando de 36 episódios em 2023 para 16 em 2024, o que significa um recuo de 55,5%.