Sete aviões modelo ATR utilizados pela Voepass, companhia aérea que teve o certificado de operador aéreo cassado em definitivo, estão estacionados no pátio do aeroporto Leite Lopes, em Ribeirão Preto (SP), monitorados por vigilantes em tempo integral e à espera de um destino.
Sediada na cidade do interior paulista, a Voepass teve as operações suspensas em 11 de março, até que, em 24 de junho, a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) decidiu pela cassação do certificado.
A companhia era responsável pelo ATR 72-500 que caiu há um ano em Vinhedo (SP). O acidente, em 9 de agosto de 2024, matou 62 pessoas. Não houve sobreviventes. A aeronave decolou às 11h58 com 58 passageiros e 4 tripulantes a bordo. O voo seguia de Cascavel (PR) para Guarulhos.
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O desastre é o mais letal do Brasil desde 2007, quando um acidente com o voo 3504 da TAM nos arredores do aeroporto de Congonhas deixou 199 mortos, e um dos dez piores já registrados no Brasil.
Mesmo antes da cassação, as aeronaves já estavam estacionadas no aeroporto em Ribeirão, uma de suas bases de manutenção, onde depois passaram a receber cuidados de uma equipe de mecânicos e com vigias 24 horas por dia.
A reportagem ouviu funcionários de outras aéreas do aeroporto e ex-empregados da Voepass, que disseram que a manutenção está sendo feita por gestores dos acordos de leasing (aluguel), que contrataram pelo menos dez mecânicos, além dos vigias, que estão no local, segundo eles, há mais de quatro meses.
Procurada para falar da situação dos aviões e sobre quem estaria bancando manutenção e vigilância, a Voepass não respondeu até a publicação deste texto.
O objetivo dos vigias, ainda conforme os relatos feitos à reportagem, é evitar furtos de peças especialmente durante a madrugada, período em que a disponibilidade de voos é menor, e o local fica mais ermo.
A Rede Voa, concessionária que administra o aeroporto de Ribeirão Preto, teve de desenvolver um plano de preservação dos turboélices parados ali desde então, enquanto não se resolve o imbróglio sobre o contrato de arrendamento dos aviões.
As aeronaves estão com restrição de acesso e contam com peso extra no interior para evitar que decolem sem autorização. A equipe de técnicos tem feito manutenções preventivas - a exemplo do que ocorreu na pandemia, quando as rotas aéreas das companhias foram interrompidas, mas era preciso preservar a operacionalidade dos aviões -, além de analisar as condições das aeronaves e buscar soluções para seu futuro.
Ao menos duas, segundo os relatos, já foram embora, e a expectativa é que outras também deixem Ribeirão Preto em algum momento. Avião parado é só prejuízo, disse um agente.
Alguns acreditam que nem todas as aeronaves serão plenamente recuperadas e afirmam que o destino pode ser o maçarico - jargão usado para dizer que ela poderá ser cortada e acabará virando sucata.
Já no interior do aeroporto, há apenas resquícios da operação da Voepass. No saguão, só um letreiro no chão - encostado na parede e de ponta-cabeça - e uma inscrição no vidro onde funcionava a loja da empresa lembram que a companhia atuava no local.
Já no balcão onde um dia funcionou o check-in e o despacho de bagagens, entre as áreas de Latam e Gol, agora há somente um espaço em branco. Ambos os letreiros não estão mais no local desde o mês passado, ainda de acordo com os relatos.
Apesar das críticas em relação à manutenção dos aviões, funcionários do aeroporto e ex-empregados avaliam ser muito ruim para a economia local não ter mais a empresa em operação, o que leva à perda de arrecadação com impostos e redução de renda no mercado, além da diminuição da oferta de voos na cidade.
A companhia voava para destinos como São Paulo, Fernando de Noronha (PE), Florianópolis e Rio de Janeiro, além de aeroportos no interior do país.