Educação

Alunos deixam de copiar quadro negro para fazer fotografia 

Em São Paulo, escolas experimentam aula com celular em sala


Publicado em 25 de outubro de 2015 | 04:00
 
 
 
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São Paulo. Copiar a lousa? Para que, se dá para fotografá-la? Estudantes de São Paulo usam agora um novo método para registrar a matéria ensinada pelo professor: tirar foto do quadro em vez de copiar o conteúdo à mão, no caderno. Segundo os alunos, a lousa vai para o celular quando não dá tempo de copiá-la, quando “dá preguiça” de fazer isso, quando a lição é passada no fim da aula ou quando o desenho do professor é muito complexo (citam aulas de biologia e química).

Depois, as imagens circulam em grupos de salas no WhatsApp, aplicativo de mensagens pelo celular. O recurso é usado a partir do momento em que os jovens ganham celular e com a anuência dos professores.

Amanda, 16, aluna do Colégio Dante Alighieri, na zona Oeste, até criou pastas na galeria de fotos do celular com divisões por disciplinas – como “história” e “biologia” – para organizar as imagens.

João Vitor, 17, do Magno, diz que esse xerox moderno ajuda a passar o foco da escrita para o professor.

“Meu pai fala que, quando você escreve, aprende melhor”, diz a aluna do Colégio Bandeirantes, na zona Sul de SP, Gabriela, 11. “Então eu tiro foto e depois passo para o papel”.

Psicóloga e professora da Faculdade de Educação da Unicamp, Ângela Soligo diz que não vê problema em tirar fotos da lousa, desde que o estudante se sinta confortável. “Muitos alunos precisam copiar para prestar atenção. Para eles, só tirar a foto não é tão adequado. Outros preferem e se dão melhor prestando atenção e não se distraindo com a cópia, daí a foto é uma vantagem”, observa.

É esse o argumento de Emerson Pereira, diretor de tecnologia educacional do Colégio Bandeirantes. Ele diz que jovens assimilam o conteúdo de formas diferentes, e não é papel dos educadores inibir o mecanismo adotado por eles.

Para o diretor do ensino médio do Móbile, Wilton Ormundo, “fotografar não faz o menor sentido”. “A lousa é uma construção de um pensamento que está sendo discutido em sala”, diz. “Professores e alunos elaboram juntos um conceito. Com a foto, todo o mecanismo de construção desse saber se perde”.

Luciana Fevorini, diretora do colégio Equipe, em Higienópolis diz que o recurso pode funcionar para um aluno que perdeu a aula, por exemplo, mas não deve ser corriqueiro.

Estudo. Um estudo da Universidade de Stanford, nos EUA, comparou a eficácia de anotações feitas à mão e pelo laptop durante as aulas. Os pesquisadores concluíram que a escrita era melhor para fixar o conteúdo visto em aula; ao usar o computador, os participantes que foram testados só transcreviam, sem reflexão.

E anotar no caderno versus tirar foto da lousa? Segundo a psicóloga norte-americana Pam Mueller, que coordenou a pesquisa, contar com o registro do celular no fim da aula pode atrapalhar a retenção de informação. “Quando você anota, você é forçado a processar a matéria”, diz.

Só o registro

Foto. Estudantes confessam que, muitas vezes, nem sequer olham o registro feito. “A gente acaba tirando foto mais para ficar com a consciência limpa”, contou um aluno do 3º ano à reportagem.

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