Apesar de ter apresentado uma queda de 0,5% nos últimos quatro anos, os dados de analfabetismo no Brasil ainda ilustram bem a desigualdade racial existente no país. Para se ter ideia, o número de iletrados chega a ser duas vezes maior entre pretos e pardos do que entre os brancos.
Os dados fazem parte da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) Contínua: Educação 2022, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que foi divulgada pelo órgão nesta quarta-feira (7 de junho).
Para se ter ideia, em 2022, entre as pessoas pretas ou pardas com 15 anos ou mais, os analfabetos representavam 7,4%. O percentual é mais que o dobro da taxa encontrada entre as pessoas brancas, com 3,4%.
Esse dado se torna ainda mais discrepante quando é feito o recorte no grupo etário de 60 anos ou mais. Entre os mais velhos, o número de pessoas que não sabe ler era de 9,3% entre os brancos e de 23,3% entre os pretos e pardos, 2,5 vezes.
A pesquisa também escancara a desigualdade regional, já que o número de iletrados é quatro vezes maior no Nordeste do que no Sudeste.
Outro dado trazido pelo PNAD Contínuo: Educação 2022 aponta que cerca de 30,4% das pessoas de 18 a 24 anos estavam estudando, sendo que 20,8% frequentavam cursos da educação superior e 10,3% estavam atrasados, frequentando cursos da educação básica. No mesmo grupo de idade, 4,1% não frequentavam mais a escola, mas já haviam completado o ensino superior. Por outro lado, 65,5% dos jovens do país nessa faixa de idade já haviam deixado os estudos sem concluir o ensino superior.
O cenário por cor ou raça mostra uma desigualdade ainda mais marcante: 36,7% das pessoas brancas com 18 a 24 anos estavam estudando, enquanto entre pretos e pardos a taxa foi de 26,2%. Entre os brancos que frequentavam escola, 29,2% cursavam graduação, enquanto entre os pretos e pardos o percentual foi de 15,3%.
Nessa faixa etária, 6,0% dos jovens brancos já tinham diploma de graduação e, entre os pretos e pardos, apenas 2,9%. Destaca-se, ainda, que 70,9% dos pretos e pardos não estudavam nem tinham concluído o nível superior, enquanto entre os brancos esse percentual foi de 57,3%.
“A meta 12 do PNE estabelece que a taxa de frequência escolar líquida no ensino superior para a população de 18 a 24 anos alcance 33% até 2024. Em 2022, no Brasil, essa meta havia sido atingida somente entre as pessoas brancas (35,2%). O desafio do país será reduzir as desigualdades de acesso ao ensino superior, além combater o atraso escolar desses estudantes”, avalia a coordenadora Pesquisas por Amostra de Domicílios do IBGE, Adriana Beringuy.
A pesquisa do IBGE indicou ainda que os 52 milhões de jovens com 14 a 29 anos do país, 18,3% não completaram o ensino médio, seja por terem abandonado a escola antes do término dessa etapa ou por nunca a terem frequentado. O Brasil tinha 9,5 milhões de jovens com 14 a 29 anos nessa situação, sendo 58,8% homens e 41,2% mulheres. Por cor ou raça, 27,9% desses jovens eram brancos e 70,9% pretos ou pardos.
Quando perguntados sobre o principal motivo de terem abandonado ou nunca frequentado escola, 40,2% dos jovens apontaram a necessidade de trabalhar como fator prioritário. Dentre os homens, esse valor sobe para 51,6%. A falta de interesse em estudar vem em seguida, com 26,9%.
Para as mulheres, o principal motivo foi também a necessidade de trabalhar (24,0%), seguido de gravidez (22,4%) e não ter interesse em estudar (21,5%). Além disso, 10,3% delas indicaram realizar afazeres domésticos ou cuidar de pessoas como o principal motivo de terem abandonado ou nunca frequentado escola, enquanto para homens esse percentual foi inexpressivo (0,6%).
(Com Agência IBGE)