O delegado da Polícia Federal (PF) Hélio Khristian de Cunha Almeira, acusado de obstruir as investigações no caso Marielle Franco, teria participado de esquema para enterrar inquérito aberto contra a Federação das Empresas de Transportes de Passageiros do Rio de Janeiro (Fetranspor). Ele teria recebido R$ 3 milhões em propina.
A informação consta da delação de um ex-presidente da entidade, Lélis Teixeira, e liga o nome do agente à Lava Jato. Hélio Khristian foi denunciado em outubro pela então procuradora geral da República, Raquel Dodge, em um dos seus últimos atos no cargo.
Segundo a PGR, o delegado teria obstruído as investigações do caso Marielle Franco em esquema montado pelo conselheiro afastado do Tribunal de Contas do Estado do Rio, Domingos Brazão, suspeito de ser o mandante do assassinato. Marielle foi morta com nove tiros em março de 2018.
No relato de Lélis Teixeira, Hélio Khristian teria se envolvido em esquema para beneficiar a Fetranspor em um inquérito da Delegacia Previdenciária da PF no Rio que investigava supostos crimes cometidos no âmbito da entidade. Em troca, o delegado teria recebido R$ 3 milhões em propina. O caso ocorreu em 2017, afirmou o delator.
A reportagem do Estadão Conteúdo teve acesso à delação premiada de Lélis Teixeira, que tramita em segredo de Justiça. São 25 anexos que mostram a suposta atuação de políticos, servidores da Receita e da PF e magistrados em prol da Fetranspor em processos contra a empresa.
Lélis Teixeira afirma ter sido informado pelo então diretor financeiro da Rio-Ônibus, Enéas Bueno, sobre a abertura de um inquérito na PF solicitado pelo Ministério Público Federal contra a Fetranspor.
A informação teria sido repassada por um advogado, que apontou como alvo das investigações as empresas de Jacob Barata, o “Rei do Ônibus”, de João Pereira e de Álvaro Lopes – todas associadas à Rio-Ônibus. Segundo Lélis, o advogado teria oferecido “ajuda” ao delegado de Polícia Federal responsável pelo caso. O objetivo era que o agente “beneficiasse as empresas investigadas”. O delegado era Hélio Khristian, lotado na Delegacia Previdenciária, no Rio.
Condenação anulada
Em 2016, Khristian foi condenado pelo Tribunal Regional Federal da 2ª Região por integrar esquema para cobrar propinas de investigados. A Corte anulou a condenação em 2017.