Exame

Enem: índice de abstenções foi de 51,5%, mais do que o dobro de anos anteriores

Estudantes que defendiam adiamento dizem que desistências garantiram distanciamento

Por Alex Bessas
Publicado em 17 de janeiro de 2021 | 20:29
 
 
 
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Percepção compartilhada por estudantes que participaram do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) em diversas cidades e Estados, foram os generalizados grandes índices de abstenções que garantiram que o protocolo de distanciamento fosse cumprido. É o que garantem candidatos que, em 2020, se organizaram em defesa do adiamento da prova e que, neste ano, também julgavam a medida necessária. De acordo com o atual ministro da Educação, Milton Ribeiro, em coletiva de imprensa que está sendo realizada na noite deste domingo (17), os índices de ausências foi de 51,5%, mais que o dobro em relação aos anos anteriores. Além da pandemia da Covid-19, que pode ter afastado candidatos, ele atribui o grande volume de desistências à "mídia contra a aplicação da exame". 

Ribeiro reconheceu que o Ministério da Educação (MEC) enfrentou cerca de 20 ações na Justiça, que pediam o cancelamento da prova neste domingo, perdendo apenas em um caso: no Amazonas, em que o sistema de saúde colapsou devido ao recorde de casos de pessoas internadas diagnosticadas com a Covid-19. 

"A sala em que fiz (o exame, na Universidade Federal de Viçosa) estava muito cheia, até me pareceu ter a mesma quantidade de pessoas que em 2019. E ainda tiveram muitos desistentes, o fiscal ficou até surpreso", comenta Nicole Pedrosa, 18, presidente do grêmio estudantil do colégio Coluni, de Viçosa, na Zona da Mata. "Acho que, se todas as pessoas tivessem ido, não teria espaço nenhum entre os participantes", diz.

No ano passado, o grêmio presidido pela estudante foi uma das primeiras entidades a se mobilizarem virtualmente pedindo pelo adiamento da prova. À época, lançaram uma petição online logo após o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep) divulgar um vídeo em que o presidente da instituição Alexandre Lopes aparecia ao lado do então ministro da Educação Abraham Weintraub dizendo que o Enem aconteceria normalmente e divulgando informações sobre inscrições. Posteriormente, a pasta precisou voltou atrás, remarcando o exame para a nova data.

"O adiamento, no ano passado, foi uma medida que, naquele momento, nos pareceu muito pertinente, assim como seria se tivesse adiado agora, principalmente por estarmos com mais casos do que na primeira onda", avalia Nicole.

A opinião de Nicole é compartilhada por outras entidades que representam estudantes. "Sobre a realização do Enem, mantemos a posição que tínhamos desde o início: achamos um absurdo acontecer nessa situação, por isso vínhamos defendendo o adiamento. Tentamos na Justiça, mobilizamos na internet, fizemos todos os caminhos possíveis, mas o governo insistiu (na data). E agora estamos recebendo várias denúncias (de candidatos que se sentiram prejudicados por terem sido impedidos de realizar a prova)", sustenta Iago Montalvão, presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE).

Neste Enem 2021, por conta da pandemia, além do uso de máscara durante e da abertura dos portões ter acontecido com 30 minutos de antecedência, só 50% da capacidade dos ambientes de aplicação do Enem poderia ser usada. A distribuição dos candidatos por sala é responsabilidade do Inep. Entretanto, como indica o presidente da UNE, a lotação de salas acima do volume estabelecido levou fiscais a impedirem que candidatos de prestassem a prova.

"Junto com a UBES (União Brasileira dos Estudantes Secundaristas), vamos construir um canal para receber denúncias e colocar isso na Justiça. Muitos estudantes estão sendo prejudicados. O governo insistiu em realizar (o exame) e é responsável pelo prejuízo (dessas pessoas)", critica Montalvão.

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