Na segunda operação do tipo nesta semana, a Polícia Federal chegou a líderes da contabilidade do tráfico de drogas da facção Primeiro Comando da Capital (PCC), nesta sexta-feira. A Operação Caixa-Forte descobriu que um dos organizadores já estava preso na Penitenciária Aluízio Inácio de Oliveira, em Uberaba, no Triângulo Mineiro, por furto, roubo e tráfico de drogas.
“Uma das responsabilidades dele seria indicar as contas bancárias. Ele controlava os depósitos de dentro da cadeia”, disse o delegado da Polícia Federal André Gebrim Vieira. Em Minas Gerais, houve prisões em Uberaba, nos bairros Valim de Melo, Jardim Primavera, Recanto da Terra e Tutunas.
A delegacia da PF de Uberaba confirmou quatro detenções a O Tempo. Uma quinta prisão não foi concretizada em Conceição das Alagoas, município vizinho, pois o suspeito não foi encontrado.
A operação emitiu 52 mandados de prisão preventiva, 48 mandados de busca e apreensão e 45 mandados de sequestro de valores/bloqueio de contas bancárias em Minas Gerais, São Paulo, Paraná e Mato Grosso do Sul. A investigação começou em novembro de 2018 e mira o grupo responsável pela contabilidade e lavagem de dinheiro do PCC, chamado Geral do Progresso.
Segundo o delegado Vieira, foram detidos três mulheres e um homem em Uberaba. “Eles se mostraram surpresos. Não tinham antecedentes criminais e, aparentemente, não são vinculados à facção, mas têm conhecidos ou vínculo com ela”, diz.
Esquema de lavagem
A facção movimentou R$ 7 milhões em nove meses a partir das 45 contas identificadas pela Polícia Federal. Segundo o delegado Alexsander Oliveira, coordenador da Força Integrada de Combate ao Crime Organizado de Minas Gerais (Ficco), o valor é pequeno, dado que apenas com cocaína a facção movimenta R$ 5 milhões por semana.
Um homem preso há cerca de três anos em Piraquara (PR) foi identificado como mentor da Geral do Progresso. A partir de mensagens no celular, forneceria as contas em que os depósitos deveriam ser feitos.
“Os valores eram depositados de forma fracionada. Eram pequenas quantidades, R$20, R$30, R$ 50, que, antes de chegar ao montante de R$ 10 mil, eram sacados ou transferidos para outras contas, até que o dinheiro pudesse chegar à sintonia final do PCC”, diz Oliveira.
A “sintonia final” é o escalão mais alto da organização criminosa, abaixo apenas do chefe máximo do PCC, Marco Camacho, o Marcola. A estimativa é que 22 integrantes estejam neste nível do grupo.
‘O PT tinha diálogo cabuloso’
A Polícia Federal grampeou, no âmbito de outra ação deflagrada nesta semana contra o PCC, a Operação Cravada, conversas entre membros da organização criminosa. Os áudios obtidos pela investigação mostram um dos líderes da facção elogiando a abertura que o crime organizado tinha com o Partido dos Trabalhadores, logo após criticar a atuação do ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro.
“Os caras tão no começo do mandato dos cara, você acha que os cara já começou o mandato mexendo com nois irmão. Já mexendo diretamente com a cúpula, irmão”, diz Alexsandro Roberto Pereira, conhecido como Elias. De acordo com a investigação, ele atua como espécie de “tesoureiro” do PCC e também participa da hierarquização da facção, sendo assim um dos líderes da organização.
“Com nois já não tem diálogo, não, mano. Se vocês estava tendo diálogo com outros, que tava na frente, com nois já não vai ter diálogo, não. Esse Moro aí, esse cara é um filha da puta, mano. Pra você ver, o PT com ‘nois’ tinha diálogo. O PT tinha diálogo com ‘nois’ cabuloso, mano”, diz o traficante”, criticando a falta de abertura do crime organizado com o ministro da Justiça e Segurança.
Em nota, o PT considerou o diálogo uma “armação”. “Quem dialogou e fez transações milionárias com criminosos confessos não foi o PT, foi o ex-juiz Sergio Moro, para montar uma farsa judicial contra o ex-presidente Lula com delações mentirosas”, conclui a nota divulgada pela assessoria do partido.