São Paulo. Confundidos com homossexuais, o vendedor autônomo João Garrido, 42, e o filho dele, de 18, foram violentamente agredidos enquanto se divertiam numa feira de exposição em São João da Boa Vista, interior de São Paulo, na madrugada da última sexta-feira.
Pai e filho estavam abraçados quando um grupo de pelo menos sete rapazes aparentando cerca de 20 anos abordou os dois perguntando se eles eram gays. Garrido disse que não, e os agressores foram embora. Menos de dez minutos depois, ele e o filho foram surpreendidos com ataques pelas costas. Garrido teve parte da orelha decepada.
"Eu e meu filho estávamos esperando a minha namorada, que tinha ido ao banheiro. Eles vieram por trás e começaram a bater na gente. Tomei uma pancada na cabeça e caí. Quando levantei, só ouvia as pessoas gritando que tinham arrancado a minha orelha", disse Garrido, ainda assustado com a violência do grupo.
"Se um pai abraçado com o filho é agredido por acharem que os dois são gays, imaginem o que fariam se fôssemos gays? Nós estaríamos mortos", diz ele, lembrando que os agressores gritavam que ali não era lugar de "viado".
"O que fizeram é um absurdo. Ninguém tem nada a ver com a opção sexual das outras pessoas. É preciso fazer alguma coisa para tentar diminuir essa violência contra os gays", diz Garrido, pai de quatro filhos.
Garrido usa o pequeno caminhão que tem para fazer fretes ou vender sapatos na zona rural da cidade onde mora com a família. A pedido dos filhos, aceitou sair naquela noite para assistir aos shows de música sertaneja. Ele estava com o braço sobre o ombro do filho quando sofreu o ataque. Depois de agredirem pai e filho, o grupo deixou o centro de exposição em meio à multidão.
Ontem, um homem foi preso por suspeita de participar da agressão. Depois de confessar o crime, ele foi liberado, já que a solicitação de prisão foi negada pela Justiça. Outros dois suspeitos já foram identificados, segundo a polícia, e são procurados.
A Polícia Civil investiga se câmeras de segurança instaladas na festa registraram o momento da agressão. "Existe monitoramento interno lá. Então, a gente está tentando colher essas imagens para conseguir fazer uma filtragem e ver se a gente consegue, através delas, apurar o autor", disse o delegado Fernando Zucarelli.
Segundo ele, apesar de os depoimentos apontarem que a confusão começou porque pai e filho estavam abraçados, ainda não é possível dizer que se trata de um caso de homofobia. "Estamos apurando. Pelo que ouvimos até agora, isso não está bem claro".