ACOMPANHAMENTO

Poliomielite: projeto da UFMG vai monitorar vírus nos esgotos de BH

Coletas de amostras para análise já foram realizadas, mas pesquisadores aguardam compra de reagentes. Varíola dos macacos também será monitorada

Por Gabriel Ronan
Publicado em 10 de outubro de 2022 | 16:13
 
 
 
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O uso da ciência em benefício da sociedade. Diante da baixa vacinação contra a poliomielite na campanha deste ano, a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) vai monitorar a virose a partir dos esgotos de Belo Horizonte. As coletas das amostras para análise aconteceram em julho, mas os pesquisadores aguardam a compra de reagentes para avançar no estudo. 

O projeto ganhou o nome de Vigilância Genômica do Esgoto e já recebeu aprovação do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Além da poliomielite, os pesquisadores vão monitorar a varíola dos macacos (monkeypox) e o adenovírus, microorganismo causador de gastroenterite e diarreia em crianças. 

“A gente vai fazer o monitoramento de diferentes vírus e bactérias no esgoto, como uma forma de vigilância ambiental para algumas doenças. Claro, aquelas doenças cujo patógeno é excretado nas fezes”, diz Juliana Calabria, que coordena a iniciativa pela UFMG. Além da Federal de Minas, haverá participação de outras instituições, como a Fundação Osvaldo Cruz (Fiocruz) no Rio e em Minas, o Ministério da Saúde, a Fundação Ezequiel Dias (Funed) e cientistas de Portugal.

O monitoramento será feito nas estações de tratamento de esgoto (ETE) do Ribeirão Arrudas, em Sabará, e do Córrego do Onça, em Santa Luzia. Assim, os pesquisadores conseguem mapear possíveis casos de infecção por esses vírus tanto na porção mais ao norte de BH quanto naquela mais ao sul.

“A gente mostrou isso para Covid: a gente consegue detectar o vírus 15 dias antes da subida no número de casos. Então, tanto as pessoas sintomáticas quanto as assintomáticas excretam o vírus nas fezes. Isso vale para a pólio também. O esgoto funciona como uma sentinela. Às vezes, a pessoa nem sabe que está doente, mas excreta as partículas ali. O dado confirmado da pessoa doente só acontece se ela buscar o serviço de saúde. Então, isso pode demorar dependendo da doença”, afirma Juliana Calabria, pesquisadora da UFMG. 

Juliana conduziu um projeto semelhante para acompanhamento da Covid-19 pelos esgotos. As análises durante a pandemia eram mais uma ferramenta para o poder público mapear realmente qual seria o cenário da virose nas semanas posteriores, já que muitas pessoas com a doença sequer procuravam o sistema de saúde, mas continuavam transmitindo o coronavírus. 

Em São Paulo já há uma iniciativa semelhante. A Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) faz um monitoramento do tipo para a poliomielite há anos, desde a década de 1970. Além da pólio, o sistema acompanha casos de cólera. O programa conta com a colaboração de cientistas de 14 países, que mapeiam esses vírus em tempo real. 

Poliomielite preocupa

A preocupação com a poliomielite no Brasil continua alta por conta do baixo nível de imunização na campanha deste ano. O País não registra um caso da virose desde 1989, e hoje oferece um esquema vacinal, por meio do Sistema Único de Saúde (SUS), que combina doses injetáveis e orais. 

O esquema vacinal contra a poliomielite é de três doses da vacina injetável - VIP (aos 2, 4 e 6 meses) e mais duas doses de reforço com a vacina oral bivalente – VOP (gotinha, aos 15 meses e aos 4 anos). A doença é transmitida a partir do contato com alimentos ou água contaminada com as fezes de uma pessoa infectada.

No Pará, o Ministério da Saúde chegou a investigar um caso de pólio em uma criança de 3 anos, mas o ministro Marcelo Queiroga descartou o diagnóstico. Concluiu-se que houve falha na imunização do paciente, que recebeu as doses de gotinha antes da injetável, causando uma paralisia flácida aguda. O problema atingiu principalmente a perna esquerda da criança.

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