O Ministério da Saúde suspendeu a fabricação de kits de autoteste Action para detectar o HIV (vírus da Aids) da fabricante Orange Life e mandou recolher 8.000 unidades que haviam sido distribuídas a 14 cidades do país, incluindo Belo Horizonte, para um projeto-piloto na rede pública de saúde.

A pasta informou que 3.161 kits chegaram a ser distribuídos para a população. Belo Horizonte, segundo informou a assessoria de imprensa da Secretaria Municipal de Saúde, recebeu 600 unidades, mas não chegou a distribuí-las.

A orientação foi dada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), após detecção de falha na análise de dois lotes dos kits que impossibilita a interpretação do resultado. Foi notado que o exame, quando realizado, não apresentava a linha de controle que identifica o resultado (linha colorida, visível no fim da reação).

Segundo nota da agência, o teste foi realizado, a pedido do Ministério da Saúde, após relatos de problemas na finalização do resultado de kits de dois lotes (183AHI1023UK e 183AHI1024UK) do total de 98 adquiridos. Por meio de nota, a agência orienta que os pacientes que obtiverem o resultado inválido procurem a unidade de saúde para que outra alternativa seja oferecida.

O autoteste Action também é encontrado à venda em farmácias e drogarias. O Ministério da Saúde detectou a falha apenas nos lotes distribuídos para o projeto-piloto. A Anvisa prosseguirá com a investigação de amostras representativas de outros lotes dos kits de autoteste. Rilke Novato, diretor do Sindicato dos Farmacêuticos de Minas Gerais e da Federação Nacional dos Farmacêuticos, alerta para que os estabelecimentos confiram os lotes dos autotestes da fabricante. O consumidor pode tirar suas dúvidas com o farmacêutico responsável pelo estabelecimento ou nos canais de comunicação da Anvisa (portal.anvisa.gov.br).

Alternativa

Segundo a pasta, o projeto-piloto visa a uma maior privacidade para o paciente que poderia realizar o teste na própria residência. Ainda segundo a pasta, ainda não há prazo definido para a retomada do projeto.

A Secretaria Municipal de Saúde informou que “o teste rápido de HIV continua sendo realizado nos 152 centros de saúde da capital”, e a respeito do autoteste, a pasta aguarda orientação. Nenhum representante da Orange Life foi encontrado para comentar o assunto.

 

Kit pode se tornar importante ferramenta, avalia médico

A possibilidade de oferecer maior privacidade aos pacientes é vista com bons olhos pelo médico infectologista Unaí Tupinambás, professor da Faculdade de Medicina da UFMG. Segundo ele, o autoteste pode facilitar a procura, sobretudo, da comunidade LGBT, por uma maior prevenção.

“O teste rápido convencional, realizado por um agente de saúde, pode ser constrangedor para muitos pacientes, que se sentem envergonhados em estarem infectados com o HIV”, afirma o infectologista.

Segundo ele, o projeto-piloto do governo pode ser uma ferramenta importante na prevenção combinada da Aids. “A comunidade LGBT, sobretudo mulheres trans, que são as mais discriminadas, podem ter nesse autoteste uma possibilidade melhor de prevenção. Mas ainda é preciso ver, de fato, a eficácia (do autoteste), ainda mais sendo projeto-piloto”, completou.

Em estudo

Os kits estavam sendo usados no projeto-piloto nas cidades do Rio de Janeiro, Florianópolis, Salvador, Porto Alegre, Curitiba, Belo Horizonte, Manaus, São Paulo, Campinas, Santos, Piracicaba, São José do Rio Preto, Ribeirão Preto e São Bernardo do Campo.

O Ministério da Saúde não soube informar quais cidades chegaram a distribuir o kit.