Muitos estudantes de pós-graduação veem na modalidade “sanduíche” (quando o estudante passa um tempo pesquisando em uma universidade estrangeira) uma possibilidade de aprofundar suas pesquisas e aprimorar as teorias desenvolvidas em seus mestrados ou doutorados. Porém um atraso no pagamento das bolsas da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), do governo federal, desses pesquisadores vem prejudicando o andamento dos trabalhos.

“Houve uma suspensão de algumas modalidades de bolsas, como as de pós-doutorado no exterior e as de doutorado ‘sanduíche’. O que a Capes alega é que estão suspensos novos participantes”, afirma a presidente da Associação Nacional de Pós-Graduandos (ANPG), Tamara Naiz.

As bolsas de alguns estudantes já havia sido aprovadas, mas não chegaram a ser efetivamente concedidas. É o caso de Thiago Maerki, doutorando em teoria e história literária pela Universidade de Campinas (Unicamp). “Fui selecionado pela universidade para receber uma bolsa e passar um período na Universidade do Porto (em Portugal), sendo que minha inscrição para o Programa de Doutorado Sanduíche no Exterior (PDSE) já foi realizada. Deveria remeter à universidade estrangeira uma série de documentos até o fim deste mês, inclusive o comprovante de bolsa. Com a suspensão, isso será impossível, o que fará com que minha inscrição seja invalidada pela universidade”, relata.

Em alguns casos, a falta da bolsa implica em perdas financeiras para os estudantes. “Mandar um pedido de bolsa para o PDSE significa que já foi combinado (e formalizado) com o professor da universidade do exterior o período e a pesquisa a ser realizada. Alguns doutorandos, inclusive, já compraram passagem e estão em processo de mudança junto com suas famílias”, explica Saulo Abouchedid, doutorando em economia também pela Unicamp.

Por meio de nota, a Capes informou que “não há suspensão de quaisquer programas da área internacional, estando aguardando as definições orçamentárias para dar continuidade aos processos de concessão de bolsa”. O Orçamento da União deste ano, que deveria ter sido aprovado pelo Congresso no fim do ano passado, só foi sancionado no último dia 22. Segundo a Capes, esse atraso seria o responsável pela não concessão das bolsas.

O assessor técnico da Câmara dos Deputados Flávio Tonelli discorda da explicação. “Bolsas de estudos fazem parte das despesas obrigatórias, que têm autorização para serem pagas antes mesmo da lei (do orçamento). Deve haver outra explicação”, suspeita.

Prazos

Bolsas. Segundo informações oficiais da Capes, o prazo para a implementação das bolsas de estudos para o programa de doutorado sanduíche é de, no mínimo, 15 dias úteis antes da viagem.

Órgão sugere ‘jeitinho brasileiro’

Estudantes do programa Ciência sem Fronteiras que farão intercâmbio nos Estados Unidos também têm encontrado problemas para receber os benefícios garantidos pelo programa.

Os mais de 11 mil intercambistas receberam do Instituto de Educação Internacional – órgão norte-americano responsável pelo repasse dos recursos para moradia, alimentação e deslocamento – uma carta. Segundo o órgão, não há previsão para o pagamento das bolsas. O documento ainda sugere que os estudantes usem o “Brazilian method of creative problem solving” (método brasileiro criativo para solução de problemas, ou “jeitinho brasileiro”, em livre tradução) enquanto o dinheiro não vem.

A orientação não foi bem aceita pelos alunos. “Fiquei assustado, fiquei perplexo, não sabia se eu ria ou se chorava”, declarou o aluno de odontologia André ao programa “Bom Dia Brasil”, da Rede Globo.

O estudante André afirmou que o dinheiro deverá ser usado para o pagamento de despesas básicas, como aluguel e alimentação, além da passagem de ida para o destino do intercâmbio.

O Ministério da Educação informou que o dinheiro – R$ 50 milhões – já foi repassado para o instituto norte-americano. O órgão informou, ainda, que a liberação dos recursos só pode ser feita depois da análise dos pedidos de estágio.